quinta-feira, 17 de junho de 2010

Canções de um rei deposto e degolado

Poderia ficar dias, noites, semanas e anos seguidos contando toda a história. Poderia não comer, não beber nem dormir. Só contar e contar. Colocar para fora tudo o que se passou nesses três anos e meio – a minha versão da tragédia – e, assim, condenar o outro a humilhação pública.

Não o farei.

Por ele, não. Por mim, que ainda preciso digerir a mágoa antes de ser justa ao escrever sobre esse relacionamento doente e doentio, que me roubou anos da vida, mas que no fundo me deu valiosas lições sem as quais, provavelmente, ainda estaria cometendo os mesmos erros do passado.

Foi um treinamento militar. Toda a sorte de desafios se ergueram a minha frente. Eu não tinha mais um namorado de carro me pegando em casa, ia sozinha de trem lotado até ele. Isso é apenas o brilho da ponta do iceberg, porque aqui dentro ainda flutuam os acontecimentos de uma época em que toda a minha educação, religiosidade e capacidade de perdoar foram postos a prova. Caí com a cara no chão frio muitas vezes, me reergui e fiz tudo igualzinho, até que um dia aprendi a colocar a mão na frente, o que amenizava as quedas, mas não as impedia.

Descobri muito sem querer os restos mortais dessa vida. Abri, olhei, senti raiva, ódio, mágoa crescendo, olhos vermelhos de sangue, igual ao que escorria pelo canto da boca. Fiquei enjoada, tive vontade de chorar. Choro de dor apenas, não de saudade. Pensei: o que eu fiz da minha vida? Achei a música do Max Viana, essa que toca agora enquanto digito com a fúria de um leão abatido, que não se deita enquanto ainda lhe resta um pouco de força qualquer.

Minha vida... MINHA VIDA!

É, não posso segurá-las, por mais que queira. Elas se jogam com vontade dos olhos, quase têm vida própria, porque querem sair, talvez para aliviar o que o coração não suporta conter sozinho.

[Uma pausa para lavar a alma, deixar escorrer a dor e, quem sabe, ter mais um tempo de cura e paz.]

Fui cobrada por uma perfeição que eu não tinha, ou tinha, mas não sabia que tinha ou como usá-la. Eu deveria ser a “mulherzinha” padrão: boa de cama e disposta para o sexo 24h, legal, paciente, boa cozinheira, arrumadeira, mãe de filho dos outros e cega-surda-muda. Exatamente nesta ordem e nada mais a acrescentar.

Mas não fui. Não sou. EU NÃO SOU PERFEITAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

Eu sou só eu...

Hoje sei que foi bom não ter sido perfeita. Doeria mais ter sido tudo o que o outro queria, abrindo mão de ser o que eu sabia ser e tentando evoluir conforme o que eu acreditava. Esta descoberta de hoje trouxe a tona situações pesadas, algumas até que eu não sabia que havia acontecido. Há também as provas que fundamentam crimes. Mas, enfim, se assim foi, é porque assim teve de ser.

Digo amém porque saí mais forte e, isso sim é ótimo, estou viva, com saúde e usando todas as lições para dar o melhor de mim outra vez.

L.

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