quarta-feira, 22 de abril de 2009

Caminhos iluminados

Vim, tanta areia andei

Da lua cheia eu sei

Uma saudade imensa

Olhando para trás, vejo que o caminho foi longo e cansativo, porém, não cheio de surpresas agradáveis e felicidades. A Lua que me acompanha do alto é a única testemunha dos sorrisos e das angústias. Saudade que me dá de tudo porque passei, todos os prazeres que minha carne foi capaz de sentir e os quais a alma jamais poderá esquecer.

Vagando em verso eu vim

Vestido de cetim

Na mão direita, rosas

Vou levar

O caminho foi adornado de poesia. O lirismo se fez presente em quase todas as etapas, exceto quando havia dias cinzas. Tantos foram os momentos de beleza interna, que de tão verdadeira, ultrapassou os limites da pele. E comigo, carrego todas as notas desta bela melodia que transformo em flores e carrego junto ao peito, das lembranças dos belos momentos.

Olha a Lua mansa se derramar (me leva amor)

Ao luar descansa meu caminhar (amor)

Meu olhar em festa se fez feliz (me leva amor)

Lembrando a seresta

Que um dia eu fiz (por onde for quero ser seu par)

Em menina, a Lua era amiga. Quando mulher, se tornou confidente. Meu corpo e pensamento foram tomados pelo desejo, por sensações arrebatadoras. Tudo era suspiro e ardor. Havia a luz, a música e o gosto. O som que não era meu, abafava o que de mim saía.

Já me fiz a guerra por não saber (me leva amor)

Que esta terra encerra meu bem-querer (amor)

E jamais termina meu caminhar (me leva amor)

Só o amor me ensina onde vou chegar (por onde for quero ser seu par)

O enorme buraco afetivo na infância provocou uma ira permanente, que adormecia em mim, mas nunca morria verdadeiramente. Os conflitos eram constantes, especialmente os meus comigo mesma. Duros embates, intermináveis batalhas e uma única guerra a vencer, que eu nunca soube direito contra quem...

Rodei de roda, andei

Dança da moda, eu sei

Cansei de ser sozinho

Em cada lugar, uma aventura. Uma noite de paz é uma noite em que o corpo percorre os cantos do salão, encantando quem o olhar. O ostracismo já não é mais uma regra. Preciso estar com pessoas, aprender, absorver. E mais que tudo, preciso estar em par.

Verso encantado, usei

Meu namorado é rei

Nas lendas do caminho onde andei

O poder de atuação feminino é algo somente comparado a grandes forças da reação química. Não há como se escapar impune de um belo sorriso. E eu, sabedora disso, tornei a vida de algumas pessoas o céu. E o inferno também, tenho que ser justa. Ao meu lado, era o homem mais importante de todo o mundo, o mais amado e positivamente domado. Mas a fúria me vinha em trombas d’água quando se afastava. Sendo ainda crua para tomar grandes decisões, deixei que o tempo se encarregasse de curar nossas feridas e transformasse as mágoas em saudade boa das inúmeras aventuras.

No passo da estrada só faço andar (me leva amor)

Tenho minha amada a me acompanhar (amor)

Vim de longe léguas cantando eu vim (me leva amor)

Vou, não faço tréguas sou mesmo assim (por onde for quero ser seu par)

Continuo a caminhada, na certeza de que ainda não cheguei ao final. E, sinceramente, não quero saber quando será. Ao meu lado somente aqueles que me dão a força necessária pra seguir a jornada. Nem mais e nem menos. Nada de figurantes. Quero apenas os que possam, efetivamente, escrever suas histórias, sem querer alterar o curso da minha. Foi uma longa viagem até aqui, entre guerras, flores e música. Mas foi tudo muito bem aproveitado. Não me dou por vencida, nem mesmo quando tudo parece perdido. Só parece. Enquanto houver vida, haverá esperança e eu continuarei caminhando.

Já me fiz a guerra por não saber (me leva amor)

Que esta terra encerra meu bem-querer (amor)

E jamais termina meu caminhar (me leva amor)

Só o amor me ensina onde vou chegar (por onde for quero ser par)

... Numa das paradas do caminho estava a resposta. Tudo o que aqui fosse feito, aqui ficaria. Depois do derradeiro suspiro, nada poderia ser levado dessa vida. Apenas o amor poderia salvar. Entendi e busquei ajuda, fiz dos meus passos motivo de orgulho e positividade. Mudar a passada não significa sair da estrada. Parei com as marchas forçadas, alterei o ritmo, e, passo a passo, vou refazendo o caminho que é meu, parando de vez em quando para respirar e absorver o que de melhor a vida pode me dar. Hoje, a vida é permeada de um sentimento inconfundível e insubstituível, que me ajuda a ver o outro com a mesma necessidade de compreensão que eu tenho. Um sentimento restaurador e solidário: o amor.

Beth Carvalho e Golden Boys - Andancas

N.A.: Letra da música de Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós. Texto meu, que nasceu em 20.04.2009, após cantarolar um trecho da música, e perceber o quão importante era aquela letra, sob a luz Lua que me acompanha ao retornar para casa. )

L.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Preso na garganta

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Velhas amigas

Deixo que me invada, que se espirale por mim até me tomar por completo. Pouco a pouco, permito que todas as inverdades ouvidas e guardadas se tornem mágoa, tão fina quanto transparente. Não faço força contrária, não luto contra a onda que me arrasta para o fundo. Não me dou uma falsa esperança fundamentada em não pensar.

Penso e sinto. E quando os verbos se fazem substantivo, é a dor que chega sem pedir licença, preenchendo os espaços onde deixo de ser eu e me torno um pedaço deles.

Em ciranda, dor e lágrimas me rodeiam. Deixarei que se cansem de existir.

Elas sempre cansam.

L.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aguardando liberação do sinal

Quando abri o navegador, ainda tinha a esperança de ler notícias positivas, alguma mensagem de esperança e crédito, no meio de ataques sem fim – porém injustamente justos.

Voltei no tempo três anos. Era um dia de sol muito forte, não havia uma parte do meu corpo que não pedisse para ficar em casa, estirada no sofá, assistindo televisão. Havia uma importante entrevista para estágio, e, mesmo sem acreditar que pudesse entrar, tentei. Fui a melhor das nove candidatas e em setembro, mais precisamente numa segunda-feira, dia 18, peguei o trem que me levaria ao mundo encantado do conhecimento humano.

Foram quase dois anos de intenso aprendizado, diários e pequenos tesouros que levarei até o dia do último suspiro. Talvez eu não entendesse à época, mas cada rosto daqueles dois mil, cada história, cada pergunta, me fazia uma profissional e pessoa melhor. Não, eu realmente não entendia. Mas, felizmente, estou colhendo agora as sementes que plantaram em mim.

O crachá pendurado no pescoço, brilhava no peito pelo reflexo do meu orgulho em estar lá. Eu era parte daquele mundo. Sentia prazer em responder perguntas que não faziam parte do meu trabalho, como por exemplo, onde pegar o ônibus para Copacabana. Aquele crachá me habilitava a tudo, até ser rainha daquela multidão que diariamente passava por ali. E eu me sentia realmente necessária, mesmo que fosse só por indicar que a plataforma 8, ficava ali, logo depois da plataforma 7.

O tempo me incitou a voar. Fui embora levando na mala dias de estresse fervente, dias de amor incondicional e muitos e muitos sorrisos inesquecíveis. Deixei lá um pedaço do coração, sobre os trilhos.

E agora, revendo aquele homem na televisão, sendo massacrado, julgado e condenado pelo apresentador, senti uma imensa vontade de gritar, pedir pra parar. Não era ele propriamente dito que estava sendo julgado, era uma população de duas mil vidas que dão o sangue e o suor, por vezes literalmente, para colocar outros tantos milhares de vidas em seus empregos e em seus lares, com simpatia e segurança. Ele estava assustado, como menino pego em flagrante na hora em que se preparava para sair de casa descalço, e esse medo estava quase respirável. Tive raiva. Tive pena. Queria defender. Queria apedrejar.

Eu estive lá, eu sei como funciona (ou não) cada estrutura do todo que é a empresa. Como todo lugar tem suas dificuldades, e até seus próprios obstáculos pro crescimento, causados por ela mesma. Mas o que mais posso saber, se uma funcionária me liga chorando por ter sido agredida fisicamente por um cliente, se um outro é amordaçado por criminosos armados, ou ainda, se eu tenho que providenciar o seguro de vida do outro que foi assassinado? Como condenar homens que bateram quando o que mais fazem é apanhar? Nada, absolutamente nada justifica o comportamento selvagem de agredir clientes, seja em que circunstância for. Mas como posso treiná-los para levar soco, pontapé, cusparada, empurrão e xingamento de todo grau, anulando a condição humana que providencia uma reação para toda ação? De que forma devo dizer a eles que o apresentador do jornal jamais chorará a morte de nenhum deles, mas se eles levantarem a voz para um cliente o mesmo apresentador convidará toda a sociedade a um julgamento em rede nacional?

Não me permito apontar culpados ou inocentes nesta história. Quero pensar que toda moeda tem dois lados, e, tenho certeza, uma pessoa que “bate” com o crachá da empresa, num revide desesperado, e diante da iminente situação de pânico, no mínimo, precisa ser analisado e recuperado. Jogá-lo a margem da sociedade só aumentará o prejuízo, já que, sem emprego e dinheiro, pode ser que ele passe para o outro lado da grade e resolva amordaçar a ex-colega de trabalho, enquanto assalta seu caixa.

O povo carioca e fluminense já tão maltratado pelo governo podre deste estado decadente, assistindo seus filhos, vizinhos e netos ser mortos covardemente por quem os deveria proteger, aproveita um momento de fúria generalizada para descontar seus medos e mágoas no primeiro que, desafortunadamente, atrai para si a responsabilidade de zelar pela ordem e segurança pública quando não é nem mesmo treinado para tal atitude.

Pensando bem, ainda bem que era um crachá e não um revólver.

L.

sábado, 11 de abril de 2009

Meninos

Ei! Psiu, acorda! Vamos lá fora ver o Sol que Deus fez pra nós. Vem, anda. Segura minha mão, não tenha medo...

Você abre os olhos, a manhã se faz. Não importa quantas nuvens ameacem o dia, o seu olhar ilumina o céu. E a Terra. Você me chama e sua voz se faz canção aos meus ouvidos. Ainda que haja silêncio, o eco das palavras mágicas me enchem de som por onde quer que eu vá. Você chora e eu não sou mais nada. A sua dor me escorre em cascatas internas diante da impotência em cessá-la. Você se entristece e um coração gela. Posso suportar tormentas, mas não há o que me deixe mais sem norte do que a escuridão adornando-lhe o rosto. E quando você ri, aí então eu sou feliz. Todas as riquezas, ter o mundo, ter o universo, nada disso valeria o prazer de vê-lo inundar a vida com seu sorriso. Porque a sua vida é o meu amor.

Para Daniel Nascimento e Vinicius Biller. Março, 2009.

Lucille