segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A morte de uma saudade

Minhas escolhas haviam me obrigado a mudar de vida. Estava de volta ao lar que tinha abandonado, que já não era mais o mesmo. Nada era, nem mesmo os amigos eram. Novos amigos não tardaram a chegar. E aí se desenhou um novo capítulo da minha história.

Em meio a tantos conflitos internos, dor e arrependimento, eu ainda tinha que lidar com a vontade de arrancar do peito um malogrado amor. No meio desse turbilhão de emoções, alguém me chamou a atenção. Não pelo carinho ou gentileza, pelo contrário: a marra e a arrogância me aguçaram os sentidos. Semanas se passaram até que estivéssemos naquele momento em que o beijo é inevitável. Apesar disso, do alto de sua arrogância, ele esperou que eu tomasse a iniciativa. E eu, que não deixava por menos, não arredei o pé. Fui puxada com força e engolida por um longo beijo numa noite de domingo. Dias depois eu descobri que a tal arrogância era só um disfarce pra não ficar muito na cara que ele ansiava por aquele momento desde o primeiro dia em que pusera os olhos em mim. Descobri uma pessoa além do amiguinho que dançava pagode comigo aos domingos: era também e principalmente um ser humano do bem, muitíssimo educado e bem criado, gentil e alto astral.

Durante um ano e meio fui rainha desse nobre, não havia vontade que não fosse satisfeita. Minha farra com as amigas pelos bailes funk da vida não acabou quando o namoro começou: na verdade, ganhou mais um participante. Passamos por momentos bons, outros ruins, mas nada grave. Com ele não havia o fantasma da traição rondando. Mas havia outro: a minha incapacidade de aproveitar o que a vida me oferecia de bom.

Eu tinha apenas 19 anos, cabeça vazia, sem rumo, confusa. Prestes a completar 21 nossa vida em comum acabou, pois eu decidi que queria viver outra paixão. E uma semana após o rompimento, ao me ver na rua com o novo amor, ele nos cumprimentou usando toda sua educação e humildade. Eu sabia o quão doloroso aquilo estava sendo para ele, afinal ele me amava. Duas semanas após ele me procurou para conversar. A amizade continuava e forte ainda. No meio do papo soltou que havia ficado com uma conhecida nossa, mas que só havia ficado porque precisava me esquecer. Chorei, doeu bem fundo essa “traição”. Senti que o tinha perdido de verdade. Nos abraçamos e fizemos amor pela última vez foi a melhor de todo o tempo que passamos juntos.

Nossos caminhos se descruzaram de vez quando ele se mudou para outra cidade. Teve dois filhos e se casou duas vezes. Anos depois nos encontramos por acaso na rua. Final de expediente na Rua da Carioca, muita gente correndo de um lado pra outro, mas nós nos vimos no meio da multidão. Aquele corpo não era o que eu havia conhecido: estava muito melhor. O rosto havia endurecido pela idade e responsabilidades, mas o espírito conservava a alegria de viver. Conversamos por várias horas, sobre tudo e todos, inclusive nós. Nessa noite eu descobri que eu havia sido a única mulher que ele amou de verdade e que ainda me amava um pouco. Desejei voltar no tempo e descobrir um jeito de retribuir esse sentimento. Quando nos despedimos, a palavra que silenciosamente brilhava entre nós era “infelizmente”.

A distância encurtou com a internet, onde raramente nos falávamos. Há cerca de quatro meses, ele me chamou no bate-papo do Facebook:

Ele:  gostaria de agradecer
Eu:   pelo q?
Ele:  por vc ter feito parte da minha vida
 pois sempre foi uma mulher maravilhosa comigo
 acho que nunca agradeci pelo momentos maravilhosos que vivemos juntos
 vc foi e sempre vai ser uma mulher marcante na minha vida


Fiquei sem reação. Não esperava que depois da minha atitude, ele ainda conservasse esse carinho por mim. Pedi perdão, mas ele não achou que precisasse. No fundo, o pedido era para mim... Outra vez surgiu a vontade de conversar como na noite após o trabalho. E com ele eu sempre soube que conversa era conversa: ele sempre me respeitou. Combinamos, mas no dia não consegui me desvencilhar do namorado. Iria ao cinema com meu afilhado e depois encontrar com ele, mas o “namorado” descobriu que eu tinha telefone, depois de passar dias sem falar comigo. Não fui e não tornamos a tocar no assunto.

Esta semana me trouxe um evento que há tempos queria conhecer. Com o passar dos anos me distanciei da minha realidade na favela, dos amigos, de tudo. A festa seria uma celebração dessas amizades com pessoas que vivem os mesmos dramas e alegrias. Adiei uma viagem só para ir. Na sexta-feira pela manhã, antes de ir pro trabalho, entrei no Facebook como nunca faço. Ele estava on line e perguntou se eu iria a festa. Confirmei e nos despedimos. A noite de sábado chegou chuvosa e eu fui rever pessoas, conhecer outras, dançar muito e beber quase nada. Com quase uma hora de festa rolando, alguns convites pra beijos no fim da noite e algum ânimo pra aceitá-los. Tudo estava indo muito bem até ele aparecer.

Passou de longe, mas tão bonito e alto que o achei. Cortei pelo meio da multidão na quadra até encontrá-lo e ganhar um sorriso franco e fabuloso, seguido de um abraço apertado, demorado, carregado de saudade. Ele me soltou, abraçou de novo, ficamos em silêncio assim, porque as palavras eram desnecessárias. Com um super salto 15 eu ainda estava mais baixa que ele e era perfeito sentir a segurança daquele corpo outra vez. Quando acabou, chegamos pro lado para conversar melhor. Depois das perguntas de praxe sobre nossas famílias, uma força maior o movimentou e ele se inclinou e me beijou. Não foi um super beijo de novela, tampouco um selinho de amigo. Foi um beijo de um amor que estava gritando “eu ainda estou vivo!” Não me opus, não questionei, apenas retribuí. Ele me tomou pela mão sim, pela mão como nos bons tempos e me levou com todo orgulho pela quadra, rumo a saída. Apesar de ser alto e forte, a postura dele melhora quando me carrega pela mão, sempre foi assim.

Saímos da quadra e subimos a ladeirinha até a entrada da padaria. Tudo que estava engasgado foi dito. Eu fui muito honesta quando disse que não me arrependia de ter terminado, pois fiz o que me pareceu ser certo naquele momento, mas admitia que havia agido errado. Falamos de muitas coisas, muitas verdades que nunca tivemos coragem de dizer. Naquela época, ele me revelou, as mulheres davam mole pra ele porque queriam saber o que ele tinha de tão especial pra ter conseguido ficar com uma mulher como eu. Novamente ouvi que eu tinha sido a mais amada por ele, só que dessa vez meu coração doeu. Tão bonito ali na minha frente, tão querido e gentil, honesto, simpático, simples e honrado como nenhum outro foi. Queria ir embora, ele não deixou. Fui envolvida num abraço que se desfez num beijo, desta vez sem carinho. Foi pesado, conduzido por uma saudade violenta, com uma nota de mágoa. Sim, era essa a palavra: mágoa. Com uma mão na minha nuca e outra na cintura, ele se afundava em mim com saudade e um desespero magoado. Quando nos soltamos, minha vontade era de sumir dali com ele, chutar todos os baldes do caminho e fazer uma nova história, mas não dependia só de mim, então silenciei.

Decidimos voltar pra festa, pois já deveríamos ser o assunto da noite mesmo... Descemos sem mãos dadas, mas foi só entrar na quadra pro elo se restabelecer. E a música seguinte foi o pagode, bom e velho, igual ao que tocava quando tudo começou. Eu estava em alfa-ômega! Ele me tomou pelo braço e começou então a me levar por planetas fantásticos de alguma galáxia distante. Fechei os olhos e encostei a cabeça no peito dele enquanto deixava que ele me rodasse pelo salão. Ao final da primeira música, pensei, ele vai dançar com outra. Tudo bem, fico aqui no canto. Mas a segunda música foi minha também. Abri os olhos: muitos acompanhavam nossos movimentos. Quando acabou, ele queria ir embora comigo e eu também, mas estava tão feliz ali com os amigos, queria dançar mais , então ficamos. Com as amigas, minhas leais amigas desde sempre, dancei todas, desde o funk até “Ilariê”. De vez em quando ele aparecia pra demarcar o território e afastar os urubus que chegavam perto. Isso sempre foi algo que eu admirei no nosso relacionamento: ele me deixava super a vontade pra curtir com minhas amigas, contudo, sem me abandonar ou me sufocar. Quando os primeiros raios de Sol ameaçaram despontar no horizonte, ele foi me buscar. Caminhamos até o Casarão, lá onde namoramos nos primeiros dias. Eu precisava tirar o salto, então ele me levou até a porta de casa e não se ofereceu pra entrar , pus um vestidinho leve e o chinelo e fomos caminhar pelo morro.

Um dos nossos problemas era meu espírito aventureiro e o dele caseiro que não davam liga. Dessa vez não precisei falar nada, quando percebi estávamos no Campão. Como testemunha só o dia nublado tentando amanhecer.

Já na porta de casa outra vez, fiquei olhando ele se afastar até sumir do meu campo de visão. Ele se foi e deixou o cheiro suave no meu cabelo, pescoço, colo, mãos. Ele se foi e me deixou uma saudade boa. Ficou o calor no peito e na alma, o carinho no coração e no corpo. Ele se foi e as dúvidas ficaram também. Mas com essas não estou preocupada: o tempo é o senhor de tudo.



“Vem que o sol raiou
Os jardins estão florindo
Tudo faz pressentimento
Que esse é o tempo ansiado
De se ter felicidade”

Roberta Sá cantou essa música no DVD Samba Social Clube, chamada Pressentimento, de Elton Medeiros.



Lucille

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Provérbios 17:17



17    O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão.





Se eu pudesse escolher, se estivesse apenas em minhas mãos...



L.

sábado, 1 de outubro de 2011

Meu Magrelo Fortinho


Pensei em diversas formas de te dizer isso, mas não encontrei nada melhor do que meu sorriso para te mostrar que estou bem, como você sempre quis que eu ficasse.



Sem bebida, sem lágrimas. Sem arrependimentos.
Só eu e minha esperança, que foi fortalecida graças a você e seu carinho.
Cada vez que eu ia pro banheiro chorar, voltava com uma dor apertadinha que diminuía quando via seu e-mail confortando meu coração, minha alma e me arrancando uma risada. Cada noite era um martírio que só cessava com muito trabalho e até nisso você se encarregou de me ajudar, né? rs
O abraço no meio do expediente... E olha que você não gostava de mim... rs

Desejo que Deus retribua em dobro tudo o que você me deu nessas últimas semanas. Obrigada por estar do meu lado e por me fazer sorrir todos os dias em que eu só queria chorar. Obrigada por me fazer sorrir todos os dias, por me arrancar gargalhadas profundas no meio da tarde e, principalmente, por me dar o prazer de caminhar do seu lado nessa vida.

Como a gente costuma dizer: é por isso que eu te amo.      :-)


“Sua Morena”


Lucille