quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Muito melhor agora

Pode-se mudar o futuro com uma reedição do passado.

Não tenho mais receio do que o amanhã me reserva, mas tenho medo de não ter tempo de aproveitar tudo o que sei que posso conseguir. Quero tantas coisas quanto queria antes — talvez queira até menos —, porém com mais requinte: agora sei como conseguir com a qualidade necessária para que sejam significativas nessa caminhada.

O trabalho não é mais sinônimo de emprego; trabalho, segundo Karl Marx, é atividade essencial ao ser humano, que transforma a natureza, o próprio homem e a sociedade em que vive. Quero o emprego, cargo, função e tarefas que me permitam realizar o trabalho transformador. Sou Analista de Gestão de Pessoas (em formação) e cheguei ao ponto em que essa é a minha atividade essencial: alinhar os interesses organizacionais e individuais, de modo que as relações de trabalho sejam, também e principalmente, humanas e humanizadoras. 

O amor não rima mais com sofrimento. Pelo menos não gratuitamente, daqueles que se sabe de longe que haverá e mesmo assim paga-se pra ver. Amor é libertador e não opressor. Se houver amarras, deixa de ser sentimento, relacionamento, e vira aprisionamento de almas. Sou mulher, adulta, vacinada e consciente das vantagens de ter passado por tantas experiências ruins, o que me possibilitou o aprendizado para construir novas experiências de sucesso.

Não me encaixo em nenhum tipo de padrão da “sociedade”: não tenho cabelo louro-liso, não tenho olhos azuis-piscina, não sou magra-modelo. Posso não ser a mulher mais bonita do mundo para uns, mas sou para mim. Tenho 1,67m o que me permite ser baixa quando quero e alta quando me convém. Meus longos cachos cor de caramelo emolduram olhos igualmente castanhos, que são capazes de recitar um poema com apenas um bater de cílios. Com 102 cm de quadril eu faço chover no deserto.


Sou o que sou e me aceito e amo assim.

Tenho ferramentas e sei como buscar a qualidade das realizações. Se não der pra tudo, não faz mal; o que efetivamente fizer, será o melhor que eu puder fazer no futuro para que o passado tenha valido a pena.



L.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ineficiência


Deficiente auditivo é aquele que não pode ouvir.
Deficiente visual é aquele que não pode ver.

Aquele que não quer ver é deficiente de amor-próprio.
Aquele que não quer ouvir é deficiente de dignidade.






Estou cansada de ficar listando as incompetências alheias em forma de poesia, mostrar com oitenta dedos quais as possibilidades de caminho para a melhora. Muitas vezes deixo de cuidar de mim para segurar o outro no colo, embalar, dar de mamar e trocar fraldas. Todo mundo nasce burro, mas só continua quem quer. Só que gente idiota nasce perfeita; deveria seguir o caminho inverso ao longo da vida e regredir, ficando assim, esperta. Mas é complicado... Tem gente que não consegue e acaba morrendo idiota, do mesmo jeito que nasceu. Eu acho que dei sorte: nasci apenas burra. Ao longo desses trinta anos já provei a mim e a quem interessar possa, que só fui assim enquanto não alfabetizada. Depois que aprendi a ler, nunca mais perdi a rima. Depois que aprendi a escrever, nunca mais fiquei com sede. E depois que aprendi a fazer os dois ao mesmo tempo... nunca mais me soube santa.

Isso é quase insano: dar, dar, dar, dar e dar, sem esperar receber algo em troca. Mentira, espero, sim. Mas como dificilmente recebo, me acostumei a apenas levar [na cara], tomar [no cu], mas nunca a receber. Cuide de sua imagem, eu digo, com flores nos lábios, música na voz. E a resposta é: não preciso, todo mundo da minha área trabalha assim mesmo que nem mendigo, sujo, roupa velha, maltrapilho. Você está confundindo, porque na sua área as pessoas trabalham de terninho, mas na minha não. Somos imundos, mas produzimos.

Um belo dia, anos depois e após mais algumas insistências minhas ― sem sucesso, viva a mendicância produtiva! ― a pessoa me olha nos olhos e diz: “Sabe, estava pensando, acho que preciso cuidar da minha imagem... Imagem é tudo.

Fiquei olhando, observando e absorvendo aquelas palavras. Por que eu me importei? Por que eu tentei ajudar? Por que eu achei que pudesse, de alguma forma, transformar algo em alguém?

Esse é um dos meus grandes “defeitos”: ter fé nas pessoas, achar que têm o direito de errar, mas podem se recuperar e melhorar. Já devia ter aprendido: há quem não queira mudar. Há quem goste de viver no buraco, na lama, na pobreza ― material e de espírito, principalmente ―, nas trevas, na mentira, na sacanagem. Há quem seja muito feliz consigo mesmo, seus trapos e porcarias e assim passe muito bem, obrigada.

Da próxima vez que eu quiser insistir nessa mania chata de querer ajudar, não vou mais ter cuidado, sugerir, conversar amigavelmente, assim como alguém que vê um cabelo na camisa e se oferece pra tirar. Vou meter o pé na porta:

Pode tirando esse sorriso [defeituoso] da cara, você pode até ser eficiente, produtivo, inteligente e o escambau. Mas só quem te admira do jeito que você é, é sua mãe. Portanto, vai tratando de procurar um dentista, um dermatologista, um barbeiro e uma loja Scotsman.



Depois que aprendi a ser ruim, nunca mais quis ter razão.



L.



PS 1: Sim, eu escrevi cu. E daí? Se escrevesse ânus ficaria menos anal? Ah, palhaçada! Cu: quem não bota no de alguém, toma no próprio.
PS 2: Cansei de ser legal e boazinha.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Já vou


Pronto. Pé na estrada outra vez. Em todos os sentidos. Aprendi a esperar o tempo do outro - que nunca é igual ao meu - e me deixei parar para acompanhar quem eu queria que andasse ao meu lado. Ando só novamente. Em todos os sentidos. Mas não desisto, nunca desisti. Quando eu menos espero, alguém resolve me acompanhar outra vez. E isso é bom. Em todos os sentidos. Não sou só; quero estar só, pois só assim sou parte de tudo e de todos, num único sentido.



L.




* Texto originalmente publicado em 11/11/2010 no Google Buzz.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Aliados


Você não pode sentir o que eu sinto, muito menos pode ver o que eu vejo. Não pode realizar os meus sonhos, ou mudá-los para sua própria realidade; nem pode sonhar por mim. Mas olha só, aí está você querendo saber dos meus sentimentos, sonhos e realizações. Eu sei e você sabe também que minha vida é única e não tenciono transformá-la em várias para dar conta de todos que me solicitam ― você sabe e não me cobra. Você não pode me dar tudo o que eu desejo ou satisfazer todas as minhas vontades, embora ouça atentamente quando eu digo o que quero. Você entende, mais do que qualquer outra coisa que, quando me olha nos olhos está vendo a mim e não aquilo que gostaria de achar no ser humano perfeito; você sabe que não sou perfeita e me aceita. E com você eu me sinto uma imperfeita bem ajustada, pois é nesta condição que vejo as grandes diferenças que nos tornam iguais.

Agradeço não por não poder fazer nada em meu lugar, mas sim, por estar do meu lado enquanto eu mesma faço.

Desejo que Deus te guarde e as Luzes do Céu iluminem seus caminhos para que a sua caminhada seja enfeitada com os laços coloridos do amor, da paz e com os pingos de alegria das boas amizades.











Hoje minha escrita em oração é dedicada a algumas pessoas que neste dia me deram sua força de alavanca:

Jacira Leão
Fiel: “Até que ela me diga o contrário, ela continua sendo minha amiga.”

Cátia Diniz
Se não muda o mundo, mudamos nós. Pra sempre as detentoras...

Flavio Araújo
O meio-fio nos aguarda pra celebrar. -- Vamos negociar!

Simone Castro
Esquecer de ti? Você me esqueceu? Então...

Carlos David
Conhecimento compartilhado e multiplicado. Trabalho em dupla? Não. Em grupo!

Monika Braga
Primeira pessoa que entende meu TOC.



“Amizade é amor que nunca morre.”
Mario Quintana


L.

domingo, 7 de novembro de 2010

O último e o próximo passo



Esses dias dei para sentir saudade, e, como sempre, levantar uma porção de dúvidas sobre minhas próprias regras e definições, criadas para estabelecer um padrão de vida relativamente saudável no sentido psicológico da coisa.

Saudade e falta são coisas diferentes. Não quero que volte o que já passou ― ainda que tenham sido maravilhosos, tiveram o tempo exato para sê-lo ―, mas a saudade é o resultado do processo construtivo das lembranças. E negar o passado é negar a própria existência, o que, no meu caso, do alto dos meus trinta anos, é impossível diante da riqueza das experiências.

Nunca roubei, nem matei, nem me prostituí e nem me droguei, mas de resto, já fiz tudo. E ainda há muitas coisas que desejo, especialmente as imateriais. Positivamente nunca valorizei tais experiências, mas hoje entendo que sejam as mais importantes desta caminhada: são o que de fato poderei carregar comigo até o fim da estrada e ninguém conseguirá tirá-las de mim.

Ando com meu saco de lembranças, pois me são muito úteis. Para pensar no próximo passo convém lembrar se ele já não foi dado, e se foi, se deu certo. E hoje a saudade me ajuda a redefinir a estratégia da caminhada. Nunca é tarde quando se tem vontade de mudar.


Ansiedade boa nascendo.



L.

sábado, 6 de novembro de 2010

Caixa de tesouros



Há duas semanas recebi a minha caixa de tesouros de volta. Por falta de espaço em casa e por segurança, ficaram no mesmo quarto, sobre o mesmo armário ― espaços que um dia ocupei na casa materna. Revirando aqueles papéis, fotos, cartas, bilhetes, poemas e objetos, espanei a poeira da mente que guardava aquelas histórias. Dia 28 de agosto de 1998, dia 14 de julho de 2003, dia 13 de abril de 2003, dia 2 de maio de 2002. Foram dias de extremos: felicidade inominável e dor profunda. Aliás, as feridas contidas na caixa já estão cicatrizadas e justamente por isso, tudo o que havia de material a respeito delas foi para o lixo. Os papéis que ainda guardavam dias e noites de lágrimas, traições e desesperos, esses foram feitos em milhares de pedaços. As lembranças ficaram, claro, fazendo companhia às viagens, aos passeios de barco, aos abraços e reconciliações.

Nesta caixa eu costumava guardar tudo o que me era importante, bom ou ruim. Durante um tempo parei de fazer isso, talvez até pela idade também. Até os 16 anos eu ainda tinha diário, que virou agenda até os 25 anos e agora, surpresa!, tenho um blog. Os diários joguei fora, apesar de passar uma noite me contorcendo de rir com a escrita da adolescente que sofria de amor pelo pedreiro ou pelo cobrador do ônibus ou pelo motorista da Kombi. Também me apiedei dela em muitos momentos, pois eu sei o quanto foi difícil passar por essa fase do descobrimento do mundo e de si mesma tendo uma cruz gigante para carregar que não lhe pertencia, mas que lhe fora, de certa forma, imposta e que acabou sendo aceita. As agendas também joguei fora: as aventuras com os primeiros namorados dariam uma comédia. Aos 17 anos eu aprendi a lidar com namorado do tipo Esperto. Naquela época em que estava sendo alfabetizada no assunto, eu acordava de madrugada para chorar na janela pela sexta-feira em que era deliberadamente deixada em casa. Hoje sou Mestre ― prestes a concluir o Doutorado ―, por isso piquei todas aquelas páginas. Os primeiros anos da vida adulta foram de fato os piores, por isso guardei apenas uma página dos 18 anos, uma que, em papel e pensamento, jamais será esquecida. Aos 21 anos me tornei uma mulher linda, ainda desmiolada, mas muito bonita e feliz. Foi a época dos buquês, declarações de amor, poemas e finalmente a Era da Responsabilidade: aos 22 anos me tornei tia, madrinha e madrinha de novo e não tardei a entrar na faculdade. Um dia, ao atravessar a rua imprudentemente e quase ser atropelada, entendi que não poderia mais me por em risco: eu tinha uma vida da qual muitos sentiriam falta, especialmente certa pessoinha que havia acabado de entrar nela. Com todos os problemas que ainda existiam, eu consegui ser bem feliz nesse período.

Entre o blog e a caixa há um hiato, mas que tenho tentado recuperar. Talvez um tempo sem tesouros significantes. Hoje depositei na caixa alguns outros tesouros, inclusive os melhores momentos do blog, fotos, bilhetes, um barquinho de papel e uma folha de caderno escrito “Você é a melhor Dinda do mundo.” ― coisas que nenhum dinheiro no mundo poderia pagar.

Algumas coisas não podem entrar lá: a enormidade de sua importância não permite que sejam encerradas numa caixa. Para estas existe o coração.


L.