quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eu não existe sem nós

Estava pensando numa frase do meu querido e amado escritor Mario Quintana. Uma frase, possivelmente imortalizada em algum de seus livros, exposta num site qualquer de frases-impactantes-pra-deixar-alguém-impressionado-com-sua-inteligência-e-nível-cultural.

Quando fechei os olhos e pensei no significado daquela frase, entendi que existem pessoas que não compreendem o poder das palavras, e tampouco poderiam compreender outra frase de Antoine de Saint-Exupery.

Lanchando com colegas de outros setores, descobri que um deles carrega nos olhos uma doença chamada daltonismo, que o impede de distinguir cores básicas. Fiquei fascinada com a história. Pela primeira vez conheci uma pessoa com este distúrbio que me intriga. Como será ver a vida em preto e branco? Será pior do que não vê-la? Tive que pedir desculpas, não estava encantada com o problema, mas sim com a forma como ele lidava com aquilo. Certamente, lida da mesma forma como a outra colega lida com a ausência de uma das pernas. A mais sorridente, a mais animada e aquela que me tira um sorriso até quando a raiva ameaça explodir. Ela, em outra ocasião, me contou como era subir o morro de muletas ou com a recém-adquirida prótese. Falou da dor, da esperança, do descaso dos motoristas de ônibus, e, acima de tudo, dos gatos que chovem na horta dela. Mais divertida, impossível. E, nesta tarde, ele estava me contando como é ver um pacote de biscoito vermelho em tom de abóbora, ou um copo azul, em tom verde. E, com um demorado sorriso, da vontade da esposa em pintar a casa de verde, cuja tinta ele já havia comprado no cartão de crédito, que assim sairia mais barato.

Quando voltei à mesa, fiquei lendo aquelas palavras com certa pena. Um ser humano nasce com braços, pernas e visão perfeita e ainda assim consegue ser um deficiente de percepção e sensibilidade. Isso entristece e empobrece minha alma. Sinto vontade de correr de volta pelo caminho, e pedir a L. que me mostre outra vez a perna que não existe mais, apenas o buraco e a pele que pende do quadril. Quero pedir ao P. que volte a contar suas confusões na hora de pedir algo pela cor, inclusive uma simples pasta plástica na papelaria. Sinto que as pessoas com dificuldades reais são as que mais sabem o sentido e dão valor a cada vírgula da vida, tanto a própria quanto dos que os rodeiam.

Em contrapartida, quem sabe o poder do excesso, tende a não compreender o valor do simples, do pouco, do frágil.

E sentimento não é bem durável.

Especialmente o alheio.

O ano era algum entre 1986 e 1988. Era hora do almoço e havia apenas um ovo cozido, cercado por alguns pares de olhos miúdos. Quem levaria a melhor sobre o ovo? Quem teria o privilégio de ficar com toda a gema? O menor do grupo? O mais velho? A resposta veio ao encontro da dúvida: “Se Jesus Cristo repartiu um pedaço de pão entre doze, nós podemos dividir um ovo igualmente entre quatro”.

Daquela tarde em diante, nunca mais esqueci o peso da palavra compartilhar. E espero que minha prima e meu irmão ainda guardem esta, que foi uma das maiores e mais importantes lições de amor e compaixão que nossa Mamãe poderia nos dar, ela que jamais pisou numa sala de aula, que não fez licenciatura em Letras, não leu os maiores autores do país, que não será bacharel em alguma coisa, mas que, do alto de seus quase 80 anos de história e amor dividido, foi capaz de se dar tanto a cada um de seus dez filhos, quanto aos dezesseis netos e dois bisnetos.

Muita coisa hoje fez sentido, inclusive “Tu te tornas responsável por aquilo que cativas”. Sendo assim, não há o que se reclamar quanto ao que recebes, certo?

E, como ultimamente eu ando em paz demais, graças a Deus, deixo que o vento leve o Quintana e suas antologias poéticas, porque delas já tirei o sumo, do qual fiz meu alimento pra continuar a caminhada.

“Amizade é um amor que nunca morre”

L.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Até logo, minha leoa

Eu decidi a hora de vir. Escolhi a melhor dentre todas e estava certa. Sabia que era a melhor. Talvez pudéssemos ter feito mais, porém, de tudo o que foi feito, carrego o calor do maior amor de todos do mundo.

Não se zangue nem desespere. Tudo há de ficar bem. Eu também decidi a hora de ir. E a hora é agora. Não tenho amarras, lembra?

Vou para logo ali, bem ao alcance de suas mãos e, para todo sempre, junto do coração.

Meu amor por ti é desmedido. Ainda que meu corpo não repouse mais no quarto ao lado, do teu lado caminharei até quando Deus nos permitir.

Cille

domingo, 16 de agosto de 2009

Dentes-de-leão voam com o vento

Quando o sonho acaba...

Quando a luz enfraquece até ficar escuro...

Quando a dor gela o corpo...

... só o amor de Deus é capaz de entender e suportar.

Só quero que passe logo.

L.

sábado, 15 de agosto de 2009

Meu tempo sou eu quem faço

Durante muito tempo a palavra idade foi um tesouro no fim do arco-íris pra mim. Aos 13, o sonho era ter 15. Aos 15, nada valeria à pena enquanto não chegasse aos 18. Quando finalmente os 18 chegaram, a primeira maravilha do universo estaria nos 21 anos de idade. E quando o relógio biológico soou às vinte e uma badaladas, se deu o processo inverso. Poucos meses antes dos 18 anos estaria perfeito para aterrissar da minha nave que viaja no tempo. Mas, antagonizando-se ao desejo de voltar, havia uma convicção de que, embora o corpo não fosse o mesmo, e, honestamente, tenha ficado quase disforme, a cabeça em construção estava sensacionalmente melhor.

O ponto chegou em que havia uma necessidade de evidenciar as idéias, a mulher que realiza, deixando de lado assim, o corpo, a mulher boa de cama. Isso foi em algum momento após os 22, quando o corpo tão desanimado com os maus tratos a que era submetido, deu o basta e se negou a continuar em forma. Nada mais de barriguinha de fora, top, sainha e saltão. Nahim. Nada mais de vontade de mudar isso também, a cabeça também começou a cobrar sua apresentação no palco desta vida. Deixe seu corpo de lado e vamos fazer cursos e faculdade, foi o que ela me disse. Obedeci. Afunilei o portal de entrada em minha vida e só os desapegados de bens materiais, sexuais e analfabetais conseguiam entrar.

Mas nada está inteiramente bom quando pende para um lado só.

Aos 26, a coisa começou a funcionar outra vez, corpo e cabeça se entendiam bem. Aos 27 corpo e cabeça eram uma diabólica dupla e os estudos e o sexo nunca foram tão perfeitos. Aos 28 separaram-se. Nada funcionava em mim. Cabeça, muito mais forte e perseverante, ainda deu um suspiro, mas sem seu grande parceiro não havia muito que fazer.

Então, findando os 28 anos, o espírito que a tudo observou calado e quieto, tomou as rédeas dessa vida e decidiu que faria por mim o melhor para que o equilíbrio tivesse parte nesta passagem também.

E, aos 29 anos, 4 quilos perdidos em um mês, muque crescendo, autoconfiança colocando as garras de fora e muita vontade de continuar, finalmente corpo e cabeça voltaram a trabalhar juntos. Parceria perfeita, com a colaboração do espírito e do valiosíssimo coração. O levantar de cabeça, algo entre arrogante e decidido, agora tem a vantagem da experiência adquirida com o abaixar de cabeça tristonho e humilhado. O rebolar dos quadris, exibe agora um número a menos e muita, mas muita malícia a baseada no indiscutível fato de que, seja lá como for, eu sou a detentora da perereca.

O dia é hoje e o momento é agora.

*-*

Primeiro dia de academia: “O que eu estou fazendo aqui? Só tem mulher gostosa, sem medo de correr na esteira e eu andando na velocidade 3, com essa camisa GG cobrindo tudo feito burka.”

Terceira semana de academia: “Imagem bonita no espelho, né? Quadril largo, coxa ficando durinha, cabelo bonito. Essa galera fominha me secando, será por causa da calça e da blusinha? Ou será que é porque sou a única que sorri enquanto malha ouvindo funk na velocidade 5.5? Vai saber...”

*-*

- Tô dando aula pra sua sobrinha!

- É mesmo? Que legal. E ela?

- Ela é show de bola, muito engraçada e gente fina a beça, muito gente boa. E mó gata.

*-*

“Campo magnético”

Essa expressão dela me deixou desconfortável comigo mesma. Então ontem eu decidi que seria o dia de ser feliz. E fui. Desmagnetizando os fantasmas.

Are baba!

*-*

Está passando o tempo da ansiedade.

O que vier agora... estarei de braços abertos para receber!

Certamente que sim.

L.

Texto originalmente escrito em 11 de agosto e não modificado na data de sua publicação.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Não tenho medo

É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja.

Honoré de Balzac

Serei forte. Prometo.

L.