segunda-feira, 18 de junho de 2012

Transformando barro em arte


Tenho sentido coisas que há muito não vivia.
Calores, desejos, vontades, tudo que pensava não voltar a sentir, pelo menos não da justa forma em que acontecem: com profundidade que me alcança o espírito.
Num momento queria morrer, noutro renasci; e floresci.

Recebi abraços, de todas as cores e perfumes. Busquei abraços antigos, alguns perdidos no tempo e congelados sob grossa camada de mágoa. Recebi novos abraços, afagos sinceros de quem só me queria ver bem. Recebi sorrisos, confiança, paz e beijos. Sim, beijos que abriram os ferrolhos pesados que me prendiam no ontem.

Aquela dor absurda que durou três semanas, finalmente passou. O peito se encheu de ar fresco, esperançoso: ele me deu uma borboleta e eu voei novamente por minhas próprias forças.

Os dias seguem cheios de descobertas, novidades. A vida é outra, em potencialidades e, por que não dizer, em fraquezas também. Tenho sentido coisas que não vivia, sobretudo as que nunca conheci e essas são as melhores.


Lucille

domingo, 10 de junho de 2012

E pode melhorar!


Quando tudo parece ruim, sempre pode ficar pior. E ficou. Mas não desisti, sou enjoada.
Mas o que seria do renascimento se não fosse a morte?

Levantei, enxuguei a lágrima, arrumei os cachos, me equilibrei no saltão e fui bater minhas asas de borboleta azul por aí.





Encontrei a luz e sorri outra vez.

Lucille

sábado, 9 de junho de 2012

Na impossibilidade de sonhar, não durma


Em algum momento do futuro, hei de querer me lembrar desses dias e sei que a memória apenas não me facilitará desencavar tantos sentimentos, tantas situações, sorrisos e principalmente lágrimas. A verdade é que não tenho certeza se quero me lembrar.

A primeira ruptura de laços se deu quando eu troquei minha zona de conforto da vida inteira, por uma vida a dois, a qual eu acreditava que tinha 50% de chance de dar certo ou errado. Quis me enganar a todo custo e caí na minha própria fantasia: só havia um número percentual e esse era 100 para dar errado.

Numa terça-feira, ouvi que se não pudéssemos ter filhos, adotaríamos. No dia seguinte, ouvi que um filho seria um estorvo, motivo de frustração e infelicidade. Ele queria fazer um filme, eu queria fazer uma família. Saí da minha casa com a mala lotada de expectativas positivas, os grandes sonhos na eminência de realização. No momento em que ouvi aquelas palavras, foi como se adagas cruzassem cada parte do meu coração. “Seu sonho não cabe no meu.”

E essa foi a segunda ruptura: a jovem esposa que cuidava do lar e do marido, pronta para ser mãe, abriu a mala, jogou dentro o pouco de dignidade que ainda lhe restava e foi embora daquela casa, aos prantos, assustada, magoada e arrependida.
E eu morri outra vez.


As semanas seguintes foram cruéis. Um pedaço de mim queria ir embora, mas só um pedaço, pois grande parte queria acordar do pesadelo e voltar a vida com sonhos, promessas e dedicação ainda que fosse unilateral. Ao se completar a terceira semana, veio o ultimato: mais 5 dias para desaparecer. Como? Para onde? Isso não importava. No auge do sofrimento, ainda fui acusada de estar fingindo uma dor para me lançar aos braços de outro. Seria perfeitamente possível, mas não tinha como acontecer: só havia dor e mais dor, nenhum espaço para aventuras.


A terceira ruptura foi trabalhada na urgência: ou você foge ou morre. Psicopatia não manda recado, minha vida estava constantemente em risco e eu não tinha muito tempo. Pus tudo que me pertencia no carro e fui para longe. Longe de tudo, de todos, dele e dos sonhos.

Quando entendeu que seu pedido-ordem estava se realizando, me pediu para ficar. Eu não podia ficar: já tinha ido embora há muito tempo, só meu corpo é que havia ficado. E essa foi a ruptura menos dolorosa, a quarta. Não houve dificuldade, pois a alegria de olhá-lo nos olhos, do abraço, do afago, do amor, de estar perto, tudo isso estava devidamente acomodado na lata do lixo.


Durou um mês e apesar de toda a dificuldade, foi um grande aprendizado. Foram necessárias rupturas para que se chegasse a conclusão óbvia: as pessoas são o que podem, não o que os outros gostariam que fossem.

Lucille