segunda-feira, 24 de abril de 2017

Ser diferente, fazendo igual

A gente vai lendo, relendo, encontra tesouros (outros nem tanto), e pensa: cadê aquela paixão pela escrita que vivia aqui?



A verdade é que a maternidade muda a vida inteira. Muda o que a gente entende sobre o mundo, sobre a vida, sobre si, sobre o outro. Muda pra melhor e pra pior também. Muda tanto que a gente olha pra trás e não se reconhece mais, não lembra de onde vinha aquela vontade, pra onde foi aquele gosto, onde está escondido aquele prazer. E o que esse desejo está fazendo aqui? A maternidade traz filho, que acaba sendo a menor das surpresas, porque o restante que a maternidade traz torna você uma pessoa que nem imaginava que pudesse ser e muito menos que alguém no mundo pudesse ser. Mas num lance de jogo ou outro, a gente se vê nessas mudanças radicais como aquela amiga que é mãe, a tia, a avó e quase sempre a própria mãe. Especialmente naquele momento do “eu nunca farei isso com meu filho”. E tá lá a gente fazendo! Igual. Pior. Melhor. Nunca se sabe.

Queria encontrar em mim aquele antigo prazer em ver as letrinhas preenchendo o branco da tela. A minha sopa particular que ia tomando a forma que eu quisesse, bastava assoprar e cada letra aparecia no lugar certo, dando vida aos meus pensamentos.

Acabaram. Assopro, letras, prazer. E nada tem que ver com a falta de tempo. Claro que ele é escasso, mas sobra pra ver a série favorita depois que a cria (graças a Deus!) dorme. Sobra pra perder com idiotas no whatsapp. Sobra pra pesquisar a festa de aniversário da filha (o tempo é sempre dela, querendo ou não). Sobra pra entrar em debates na rede social. Mas a vontade de abrir o editor de texto era nula.

Esse feriado do dia 21/04/2017 foi tão especial que eu cheguei em casa sentindo que poderia fazer novamente, querendo fazer. Levei dois dias... A sopa estava pronta, mas o assopro era fraco, nada combinava com nada. Quando saiu, nada do final ficar pronto. Não o final que estava na minha mente. Parece que quanto mais você procura, menos encontra. Foram dois dias até chegar onde eu queria. Eu senti que poderia fazer, mas não foi tão simples. Nunca é, nem mesmo quando se sabe fazer.

A paixão está timidamente reaparecendo. Porque a mudança é tão avassaladora que todo começou ou recomeço é gota no oceano. Mas ela está aqui, bem aqui. Finalizei o texto anterior e nem fechei o editor: tinha muita sopa fervendo na cabeça ainda.

E que sejam novos tesouros, que eu me encante comigo, que eu me surpreenda daqui 10 anos. E que eu saiba que, parecendo outra pessoa ou não, serei sempre a mesma mente inquieta que precisa organizar as palavras no papel.

LN
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