quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pergunta enlatada, resposta vazia



Costumo pensar que minha profissão é mais do que apenas algo que me dará o sustento dignamente ― e adoro ter certeza. Quando olho para trás e vejo a jovem que estava a meio passo de seguir o caminho mais curto, fico grata de não ter conseguido colocar um pé diante do outro. Não escolhi trabalhar com pessoas; o universo de Recursos Humanos me colocou na posição de aprendiz da vida a fim de que eu pudesse entender que todos desejam e merecem aquilo que eu também quero: compreensão.

Alguns profissionais, como característica da profissão, se irritam ao serem abordados com dúvidas pelas quais estudaram e habitualmente cobram para responder. Eu não. Sinto prazer em falar de RH no meio de uma pista de dança, por exemplo. Se me perguntam e me deixam falar a vontade, não encontro limite para dissertar sobre o que sei. Na verdade, o único limite é quando realmente não sei. E nem isso me segura por muito tempo, afinal, só fica no escuro quem não sabe riscar o fósforo e acender a vela.

Quanto mais aprendo, mais me torno uma pessoa melhor, mais evoluída. Não apenas qualificada para o trabalho, pois o que mais me atrai neste aprendizado é a possibilidade de conhecer o outro e, desta forma, me conhecer também. Faço o caminho inverso da maioria: é lidando com o ser humano, suas fraquezas e virtudes, que consigo enxergar, entender e trabalhar com as minhas.

Claro que tudo tem seu lado sombrio, e o meu nesta caminhada de aprendizado, é justamente quando alguém me pergunta algo esperando que eu responda o que a pessoa quer ouvir. Oras, se não quer minha opinião, por que pede? Isso me deixa altamente irritada. Quem é da área de Tecnologia que se amarra nisso: você tem as respostas na ponta da varinha mágica e todas elas são enlatadas, classificadas e etiquetadas, fechadas e prontas e acabadas, sendo possível a resolução de toda e qualquer questão de forma rápida e óbvia. Óbvia? O ser humano é óbvio por acaso? Se estivermos falando de trabalho realizado por máquinas, ok, troca-se a peça defeituosa, aperfeiçoa-se o sistema. Para tudo ou quase tudo há um up grade disponível. Mas até mesmo em trabalho de máquina há um ser humano que cria, monta, opera e conserta a máquina, então entendo, portanto, que todo trabalho só existe se houver uma mão humana antes, durante e/ou depois do uso.

O que eu quero dizer com isso é que não adianta me fazer perguntas enlatadas esperando que eu responda com um abridor. Se quer minha orientação, eu sou carne, osso e coração para dá-la dentro do que eu conheço de RH e vida. Mas se espera que eu diga “Que legal! Acho sua ideia ótima.”, então peça opinião de outra pessoa, de outra área. Eu funciono assim: ouço, analiso e respondo. E argumento. Menos que isso, só meu silêncio. Que também não me custa nada para dar.



L.