quarta-feira, 9 de junho de 2010

Segunda terça-feira

Querido Diário,

(Essa é sem dúvida a seção que meus leitores mais gostam. Então que assim seja, aí vai um pouco de mim sem meio-termo.)

Hoje acordei meio assim-assim, tristonha, aborrecida com minha incapacidade de ouvir o despertador berrar, ou melhor, a capacidade de ignorar a obrigação de levantar e me concentrar apenas no quentinho divino da manta. As 10:37 tirei os edredons de cima, rumei para o banheiro para... colocar roupa na máquina de lavar! Estou uma perfeita workaholic-home. Quando me dei conta da inversão das prioridades, parei tudo e escovei os dentes e lavei o rosto. Uma casa tão pequena e quanto trabalho há por fazer... Pudera, passei quase dois meses inteiros sem mover uma poeira do chão. Só de lembrar fico arrepiada: não fazia comida nem varria casa, dei o grito de revolta contra a rainha de Sabá, pois já estava cansada de só fazer, só dar, só levar, só tomar (haja cu!) e não ter retorno. Um chiqueirinho foi o que se tornou minha casa, pobrezinha. E é impressionante mesmo o que eu tenho de “bens”. Livros, revistas, apostilas, papéis e mais um monte de tranqueiras que efetivamente poderiam ir pro lixo, mas que por alguma razão sentimental acabam ficando. Desenhos dos meninos, cartinhas apaixonadas, fitinhas do Senhor do Bonfim e até mesmo um baralho velho. Material de RH, ah, isso não vai mesmo! É parte de mim. Mas existem coisas que, exatamente pela razão sentimental, ganham o caminho da rua fácil. Os vestidos dados pelo ex, dois somente, foram parar em algum corpo miserável nessa cidade. Mas o vestido cinza-justo-gostosa, esse não sairá do armário nunca. Nem mesmo quando as formas não ficarem tão boas e definidas dentro dele, como já ameaça acontecer. Esse me traz bonitas lembranças. E é por isso que a faxina nunca acaba: tem sempre algo que não precisa sair, nem acabar, basta apenas mudar de lugar.

Almocei cedo, limpei a cozinha novamente (será TOC?) e fui pra rua aproveitar o Sol frio dessa tarde de outono. Lembrei da mensagem que chegou no celular na noite anterior e tentei ficar feliz, me sentir bem, mas não teve jeito. Acho que primeiro preciso parar de ouvir Los Hermanos. Concluí que esses barbudos me fazem sofrer. Mas parece que não tem muito jeito, no canal do Youtube estão todos favoritados, então saio da gritaria de Mariah direto para a solidão, medo e impotência oferecidos naquelas melodias. E eles estão logo antes de Rita Ribeiro e sua tecnomacumba deliciosa, o que significa dizer que o humor vai do pé a cintura em minutos.

Essa tristezinha desproposital tem propósito, sim. Há uma razão bem séria, mas que só me bate em alguns momentos, geralmente quando estou assim, a toa na lan house, ouvindo música, lendo, escrevendo e vendo meu perfil do Orkut voltar a ter mais de 30 visitas por dia, o que demonstra que a vida voltou a pulsar na rede – não só fora dela – e que, para quem tinha apenas a visita demoníaca do falecido a fim de procurar cheiro de traição, remodelar tudo fez um bem danado.

A tarde passou rápido, muito mais até do que eu gostaria – se tivesse acordado cedo ela seria maior. E a tristezinha ali, alfinetando o coração como um relógio cuco. No MSN alguém chamou. Ela me disse coisas tão bonitas, parecia mesmo que Deus tinha ouvido meu lamento e estava me dizendo aquilo para que eu não perdesse a fé. Saí de lá mais em paz do que havia entrado e segui para casa. No caminho “Olha a mensagem!” e eu sorri ao ler o torpedinho carinhoso, que me lembrava que Deus está mais comigo do que eu imagino. Mas nada disso foi capaz de me tirar aquele gosto amargo da boca. A mágoa... Mais uma vez ela tomando conta do coração. Cheguei em casa, fiquei longamente olhando o reflexo no espelho, cabelo sujo, pele feia, sem sorriso. Vontade de gritar, de espernear e chorar uma raiva dolorida, uma dor de cotovelo, dor de não poder matar, de não poder machucar. Respirei bem fundo, acumulei bastante ar nos pulmões e soltei bem devagar, iogue, buscando a paz que só eu posso me dar. Tomei banho, deixei a água bater na cabeça, ombros e pernas. Deixei a inquietude ir embora.

Quase perdi o ponto de descer do ônibus, cabeça estava longe. Apesar de sair de casa atrasada por causa do banho, cheguei a faculdade na hora em que deveria. Um chocolate e algumas respostas depois, ouvi alguns comentários dos colegas. Daqui a duas semanas começaram as provas – puta merda! – e ainda não tinha entendido porque algumas pessoas falavam em sentar do meu lado. Ainda não estava bem situada. Acho que relaxei tanto na respiração que perdi o foco. Caí em mim quando uma menina perguntou “Ela faz o quê?” e a resposta de outro rapaz foi “Ela saca tudo de RH”. Eu? Sim, eu! Voltei a realidade, caí em mim outra vez. Eu havia passado a aula toda respondendo as perguntas, de cabeça, sem consultar nada e sem errar. Eu. E então eu disse baixo: eu sou RH. Orgulho máximo lotando o peito, vislumbrei o caminho de novo. Eu sei, sim, porque amo, porque vivo disso, porque tenho certeza de que é isso que quero fazer para o resto da vida.

Encontrei o calcanhar de Aquiles da tristeza e dei logo um chega-pra-lá nela. Enfiei as mãos no casaco e caminhei animada de volta pra casa, olhando para meus sapatinhos novos.

Antes, uma passadinha na lan house. Como não poderia deixar de ser e estava até demorando para acontecer, as frases palhaçais no MSN começaram. Dá uma preguiça... Qual o interesse uma pessoa tem de mostrar a outra que ela está feliz, bem feliz, namorando, dando, comendo ou simplesmente bancando idiota? Eu deveria saber, né? Já fiz isso! rsrs Mas tenho um habeas corpus: fazia para provocar a reação contrária, ele veria que eu estou “amando e sendo amada” e viria correndo me procurar, tomado de ciúmes. Mas ele nunca vinha. rsrs Como sei que aquilo ali é tudo, menos uma tentativa de me provocar ciúmes (Deus me livre!), fiz o de costume: ri, virei a página e cuidei do que me interessava na internet. Fui comentar a atuação do meu time via Orkut, pareço até um homenzinho falando de futebol! hehehe

Quando deu a hora de ir embora, comentei com um amigo: quase caí na armadilha. Pensei comigo: mas Rita Ribeiro me salvou. Quando se deixa de prestar atenção ao grande e pensa-se nos vários pequenos que compõem o todo, quando se observa mais, é possível enxergar a beleza que inexiste nas coisas óbvias. Tirei o sapatinho de boneca e me entreguei ao descanso na minha confortável cama. Foram 53 minutos no telefone. Fiquei com vontade de gritar outra vez, mas não pelo mesmo motivo. Tive vontade de escrever um poema. O último foi feito ano passado, depois de uma noite ótima no Sambola. Então aqui, sentada agora, analisando meu dia e devorando meu pêssego, senti a necessidade de escrever outro. Mas a inspiração não veio.

O ser humano ainda é a minha tara e me divirto, sobretudo, com as imbecilidades que é capaz de cometer. As minhas, claro, não são muito melhores ou diferentes. Agora já mais calma e duplamente saciada de todas as minhas fomes, inicio o ritual do sono, vagarosamente, começando por aceitar a idéia de que, a 1:18h da manhã eu realmente preciso dormir.

Quase me esqueço: fiz um diário no período em que fiquei longe do blog. Publicarei as melhores partes.

Deus é mais!!! :-D

Boa noite.

L.

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