sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Parte do que eu sinto

Dizem as más línguas que sou mimada. Mas que posso eu fazer se esbarro pelo caminho com pessoas que me estragam ainda mais? O quê? Aproveitar, ora essa! :-D

Ele tinha fogo nos olhos. Não fogo de safadeza, fogo de chamas, incêndio em mato seco, que se alastra com um assopro. Estava com raiva de alguma coisa quando passei. E imaginei o que seria aquela pessoa com ódio, capaz de intimidar com o olhar. Mas não tive medo, sustentei-o enquanto precisei estar ali. Quando me virei pra sair, senti que algo me despia. Virei. Era ele, medindo meu corpo de alto a baixo, com precisão milimétrica. Não havia fome naqueles olhos, apenas minuciosa análise. Cretino. Devolvi o olhar. Ele era agradável ao olfato e a visão. Cabelos bonitos, bem cortados. Cabeça imperturbável. As maçãs do rosto eram rosadas, saudáveis. O nariz anguloso, uma linda batatinha baroa no meio do rosto moreno claro. Não sorri. Gostei do que vi, mas minha fama me precede, se eu sorrisse o mundo viria a baixo. Fui-me com a sensação franca de que algo havia mudado naquele minuto.

Dias passaram até que aqueles olhos castanho-claros pudessem novamente encontrar os meus. Sorri. Fiquei feliz em vê-lo, especialmente sem o fogo nos olhos. Havia um mar azul no lugar, sereno e límpido. Adivinhando meus pensamentos, ele veio. Pra que mesmo? Nem ele sabia. Me olhou com cara de pateta e eu não pude deixar de rir diante daquilo. E apesar de tudo, ele soube chegar de mansinho, porém com força e intensidade surpreendentes, dos quais eu tive receio de gostar. O medo se fez real.

Estava escuro ainda, talvez 4h da manhã. Perdi um pedaço do sono com tudo que acontecera naquele dia, naquela noite. Estava em êxtase. Os risos faziam eco ainda. Como poderia ser tão bom como foi sem que eu ao menos quisesse? Não foi bom. Foi perfeito. As mãos... Inomináveis. O fogo nos olhos. A minha pele. Minha espinha dorsal...

Ssshhh... Que foi? Tá ouvindo? Não, o quê? Seu coração. Parou de bater? Não, levou um susto, ficou acelerado e agora tá cantando baixinho. E qual é a música? Não sei, posso ouvir? Vem. [E eu entendi que tudo aquilo poderia ser o céu e eu poderia morrer naquele minuto, mas queria aproveitar, de olhos abertos. Observar o mar invadindo toda minha terra, transformando meu deserto em oásis, sentir cascatas se formando em meus olhos e deixar a luz do Sol entrar.]

A amizade é algo de fato estranho, nasce onde menos se espera e abre portas para tantos outros sentimentos. Quando vi, era noite, tinha fome e sede. Quando busquei, estava só. Quando chorei, só havia silêncio. Mas o tempo trouxe o colorido novamente. E aí... Quando tornei a andar, era dia e ele estava do meu lado. Ele e sua gostosa gargalhada quando eu falo besteira. Ele e seu cheiro amadeirado. Ele e as aventuras. Ele e a chatice do sorvete de creme. Ele e a cara de bobo. Ele e a delícia de ser jovem e cheio de vida. Ele e as ordens. Ele e a rendição. Ele e tudo o mais que só eu sei e guardarei aqui dentro, aqui onde toca aquela música bem baixinha.

L.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ele e a delícia de ser jovem e cheio de vida.

Puro suco, mainha! kkkkkkkkkkkkkkkkk

Batata baroa é sacanagem... huahshuasaisoashah

Obs: não guarda só aí dentro, não... eu quero saber.

Fernanda Azevedo disse...

Texto delicioso.

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