"Chope, não. Quero martíni."

Eu pensava que já tinha visto de tudo, conhecido todo tipo de gente. Mas ela superou as mais improváveis expectativas. Foi além do que eu acreditava, nos mais absurdos sonhos, existir. Ela chegou devagar. Não, não foi nada devagar. Foi como um golpe de vento frio que ela entrou na minha vida. Assim, com aquele jeito explosivo e expansivo, nada simples, nada humilde, era ela que vinha com seu grupo: muitas mulheres num corpo só. Justo eu, tão calmo e até demais, vendo aquele furacão refeito em curvas (e que curvas), passar por mim, levantando poeira e levando consigo todos os olhares do local. Ela não entrou, ela iniciou a apresentação. Quis protestar, quis desviar os olhos, mas foi uma inútil tentativa. Quando passou, ela segurou e levou consigo minha atenção. Desde aquele dia não tive mais sossego, quando não era fisicamente, era em sonhos que ela me aparecia, com aquele andar forte e decido e as mãos mais bonitas que já vi. Mas não foi bem isso que me fez seu admirador. Há nela uma coisa muito mais poderosa e arrebatadora: o sorriso. Ela demora, prende, quase se nega a sorrir, mas quando abre, é como uma manhã de Sol, fresca e convidativa. Quando ela sorriu, estacionei. Fiquei ali parado sem saber o que fazer, aonde ir, o que dizer. E ela, sem disfarçar (ela não sabe disfarçar) riu da minha momentânea viagem. Ela puxou um cacho solto pra trás da orelha e foi ali que eu decidi que teria aquela mulher. Como fosse, onde e quando não importava, mas eu iria até ela e a teria. Deveria ter decidido dar a volta ao mundo em dez dias, seria mais fácil. Escorregadia, grossa às vezes, arrependida, séria, doce, impaciente, engraçadíssima e muito corajosa – a cada dia que passava eu a queria mais. E quando ela abriu uma brecha, quase um buraco de agulha, eu passei, abri mais, entrei e fiz dela meu mundo. Todas as qualidades, vistas com mais profundidade, são ainda mais bonitas, ela ficou quase perfeita. Descobri coisas que ela não mostra a ninguém que não confie, coisas que ela se orgulha e ama e ainda encontrei uma grande amiga em quem confiar. Dentro da mulher existe uma menina, elas dão as mãos e fazem dessa criatura a pessoa que poucos conhecem, e quem tem o prazer de conhecer, e privilégio de estar perto, não quer mais se afastar. Queria congelar o tempo, emoldurar esse sorriso. Queria que as estradas do seu corpo fossem interditadas pra mim. Quero que sejam. Quero estar do lado quando ela chorar de emoção ao ver um filme de drama. Quero rir com ela. Quero rir dela. Quero que ela descubra que é muito melhor do que acredita. Quero comer risoto, miojo com lingüiça, pavê, mousse. Quero tudo que aquelas mãos belas fizerem com carinho. Não quero mais nada. O que vier estará bom, porque o melhor de tudo eu já tenho: ela.