Eu
queria fazer, senti que precisava. Não era um sonho, mas uma finalização do sonho:
a cereja do bolo. Escolhi o forno e fui em busca dos ingredientes, juntei os
ingredientes um a um, misturando levemente, observando a mudança que eles
faziam na tigela do meu pensamento.
Sorrisos
a parte, o início de tudo foi delicioso: primeiro saía da minha casa, arrumada e
cheirosa, para uma tarde de aula. Em seguida veio o auge: sair de casa, minha
nova casa, feliz e saltitante, as vezes de táxi porque era bem perto, e voltar
a tempo de preparar o jantar para o marido. Depois o período nebuloso: sem
sorriso, sem cor, só a obrigação e a mão forte e invisível de Deus me guiando,
segurando, apoiando para encarar uma tarde inteira com o pensamento distante,
choroso. Felizmente, não durou muito tempo. O samba me mostrou que seria
possível erguer a cabeça, ainda que não fosse sincera, e continuar a caminhada.
Os sábados passaram a ter música e isso aliviou. E quando a noite de samba
trouxe uma melodia rasteira, então a força ameaçou voltar.
Paralelamente
ao samba e a tudo mais que me diz respeito, estava o charme. Ah, o charme...
Quer me ver com um sorriso aberto, honesto e salpicado de amor, encontre-me num
baile charme em Madureira. Ah, Madureira... É lá que reside o foco do meu mais
antigo e genuíno bem-querer, é lá que palavras são absolutamente
desnecessárias, porque o corpo fala e os olhares gritam. E cada sábado que se
findava em charme, em Madureira, nascia um domingo com motivos renovados para
não desistir.
Nesse
processo foi fundamental a colaboração da arte literária! Doce literatura
minha. Sem dúvida, sem sombra de dúvida foi o ponto alto, altíssimo da retomada
do poder sobre mim mesma. Mandei prender, mandei soltar: sambei na cara da
sociedade! Aqui mando eu — aqui, bem aqui no meu corpo! E me tornei um bloco
pautado: me deixei ser escrita, descrita, despida, esculpida, lambida,
sugada, desenhada... satisfeita! Sangue nos olhos outra vez.
Quando
a força de fato voltou, eu disse a mim mesma: entrei nessa batalha pra ganhar,
mas posso aceitar a derrota, porém jamais sem lutar.
Assim
a música deu o tom da massa. Assim eu aprendi sobre pequenas derrotas e grandes
vitórias, pequenas vitórias e grandes derrotas, e decidi o que melhor se aplicaria
a minha trajetória nessa vida.
Segui
independente de qualquer dor, segui porque não me permiti recuar, segui porque
Deus tinha um plano pra mim e me ajudou a completá-lo. Segui e consegui chegar.
É
uma conquista minha, mas não individual. É um valor que não cabe apenas no meu
bolso, é um orgulho que um peito apenas não comporta.
Motivo e incentivo: luz na caminhada |
É
nosso, é para nós, é por todo mundo que, de alguma forma, esteve presente nesse
processo de preparação do bolo e que, agora, convido a sentar comigo à mesa
para saborear um delicioso pedaço de vitória.
Lucille
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