quinta-feira, 21 de março de 2013

Naqueles dias, outros dias



Andava pelo saguão do aeroporto com uma sensação boa, uma paz e ao mesmo tempo uma ansiedade por estar prestes a descobrir um mundo totalmente novo. Ou não: poderia ser a mesma coisa de sempre ou até piorar. Eu só sabia de uma coisa: queria voltar mais que qualquer coisa naquele momento.

Quando o avião pousou em solo carioca, eu era “oficialmente” uma pessoa casada, com direito a braço em volta do corpo, e a frase que jamais deixará de ecoar em minha mente: “— Agora você é minha mulher.” E pela primeira vez em quase 6 anos, tive a real noção do que era pertencimento. Eu era de alguém: tudo novo aqui dentro. Enquanto o táxi ganhava o caminho de volta àquela que seria minha nova casa, eu olhava pro céu e agradecia secretamente a Deus, pela viagem, pelo descanso das merecidas férias, por meu novíssimo marido ter tomado enfim a atitude que eu tanto esperava, por um dia ensolarado na minha terra, por voltar em paz, por estar com quem eu amava, por poder deixar as malas em casa e partir para mais uma aula de pós-graduação. Felicidade. Esse era o nome do que eu sentia jorrando tão forte do meu coração.

Sair da cama era bom, voltar para ela era melhor ainda: ele estaria nela comigo. O homem que me amava e que eu havia escolhido para chefe da minha família e eu, a que seria responsável pela casa, pela vida da família dele. Se perfeição existia, eu estava bem no meio dela. Sair do trabalho correndo pra fazer janta, deixar o almoço do dia seguinte pronto para que o marido pudesse comer em casa. Era divertido ser esposa, dona de casa. Cansativo, especialmente depois de uma longa semana de 6 dias e apenas um domingo para lazer, amor, descanso, família, tudo.

Um dia eu chorei, meu corpo estava entrando em parafuso e eu não sabia se ainda daria tempo de formar a nossa família de forma natural. Ele me abraçou, enxugou minha lágrima e me disse “— Eu quero que você seja mãe do meu filho, se ele vai sair da sua barriga ou não, não importa. Claro que eu quero que sim, mas se não der, a gente adota.” E então meu amor por ele elevou-se a décima potência e tudo voltou a ser feliz outra vez.

No outro dia eu chorei também, mas dessa vez ele me disse “— Se você tiver um filho e ele passar mal, você vai me ligar, eu vou ter que voltar pra casa, não vou fazer meu filme e vou ficar frustrado.” E aí o mundo ficou cinzento, dolorido, profundamente triste, como eu. E o homem que eu amava, de repente se tornou um louco enfurecido, um desconhecido, um inimigo. Desse dia em diante eu não sabia mais o que era sorrir, mas já havia decorado o que era chorar. E então eu fui embora — meu corpo ficou, não apenas porque fisicamente ainda estava lá, mas principalmente porque não havia mais nada em mim, só um corpo vazio. E depois eu fui embora: deixei minha rosa amarela no pé da árvore que ficava em frente aquela que fora a entrada para o nosso lar: a flor que eu mesma havia me dado para amenizar os dias ruins.

Agora faz um ano desse sonho lindo que se tornou um franco pesadelo.

Há pouco tempo decidi fazer de tudo que estivesse ao meu alcance para perdoá-lo, porque a mágoa que eu carregava certamente não mudava nada na vida dele, mas destruía a minha vida dia após dia, sem chance para um novo sorriso sequer. A dor ainda era tão grande, tão forte, que qualquer coisa me lembrava ele, aquele tempo, os planos que jamais seriam realizados. E a maldita da mágoa...

Um dia ele me mandou mensagem: “Está bem?” Sim, eu pensei, estou melhor do que estaria se tivesse morrido como estava torcendo para que acontecesse, mas não respondi. E outras mensagens, e novamente as respostas ficaram apenas no pensamento, porque fosse o que fosse, dizer a ele como eu me sentia não mudaria o curso da história. Para ele eu não estava bem e nem mal: apenas não estava.

E em outro dia, um dia novo, senti vontade de mandar uma mensagem a ele: eu te perdôo. Ele nunca me pediu — no máximo tentou voltar, mas sendo a mesma pessoa, com a cabeça pior, continuava sendo impossível —, nem vai pedir, mas eu quis por mim, muito mais que por ele (talvez só por mim), dizer a ele que eu precisava dar esse perdão a ele e que estava cuidando de fazer isso com toda a vontade do meu coração. Abri o e-mail, desisti. Num outro dia, mesmo caminho, nova desistência. Cheguei a conclusão de que talvez ainda não seja o momento.

Desejo, do fundo do coração que a vida seja boa para nós, que cada um tenha em seu novo par, aquilo que não encontrou no outro, que os objetivos sejam alcançados da forma que fizer bem a cada um.
Fora esses, confio que outros dias virão e que o novo me reserva boas notícias. Sei que não posso resolver todas as pendências do passado, muito menos com as pessoas do passado, mas tenho certeza de que sou capaz de resolver comigo.


Lucille

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