terça-feira, 26 de março de 2013

Eu sei e sou imbatível



Acho que mereço uma medalha, uma placa, um busto em praça pública, sei lá!

 Algum tipo de reconhecimento por minha insuperável capacidade de acolher miseráveis de coração e dar a eles algum conforto, nem que seja mentirosamente dizer que são as melhores pessoas no mundo todo.
Não que meus elogios não sejam sinceros, muito pelo contrário: se a pessoa se sabe péssima e eu insisto que não, é minha veia santa saltada tentando fazer com que um inseto inútil se perceba gente. Algumas vezes dou azar e eles acreditam nisso e tornam-se de fato os melhores do mundo: são ainda mais miseráveis e desprezíveis. Noutras vezes dou sorte: são tão, tão ruins que por não acreditarem em mim continuam os mesmos lixos e não fazem mais mal do que já se sabe.

Que tipo de credibilidade tem alguém que bate no peito em sinal de orgulho por ferir física ou moralmente alguém? Esse tipo de “gente” espera o que, um beijo, um abraço e parabéns? Fico imaginando os antigos carrascos dizendo “sou desses, não sei discutir: foice pra cima e cabeça pra baixo”. E é desse tipo baixo de malandro que eu adoro cuidar. Desse tipo bem, bem merda que ninguém quer: só eu, rainha da caridade emocional.
Basta a pessoa dizer assim: “eu poderia estar matando, poderia estar roubando, mas estou aqui, fazendo pior ao infernizar a vida das pessoas que me rodeiam”, que eu vou lá e me candidato a ser a próxima.

Como se faz com cachorro vira-lata, eu pego na esquina, dou banho, alimento, dou casa e um local pra dormir. Só que os cães são agradecidos, os miseráveis não: estão sempre cobrando porque você deveria fazer mais. E os vira-latas quando bem cuidados não mordem, já os miseráveis vão com os caninos justamente na ferida que já está aberta, mas não mordem, não arrancam pedaço: o prazer está apenas em enfiar os dentes e observar o outro sofrer com a dor lancinante provocada por ver a confiança ser estraçalhada.
O que ameniza essa dor é saber que isso já era esperado: esse é o tipo de gente que só vem ao mundo para isso mesmo.

E é nesse momento de dor que eu me vejo na iminência de agir da mesma forma canalha, e teria até uma desculpa, afinal fui provocada a tal atitude. Mas é isso que me diferencia dessas porcarias ambulantes: eu penso, eu tenho sentimento e assim como gostaria que fizessem com os meus, mesmo na hora da dor que cega, não acho que o melhor “castigo” seja descer tanto a ponto de se nivelar por baixo. Não passo anos estudando pra isso.



E que venham eles, todos eles! Estou pronta, canil arrumado, amor e compaixão zerados para receber todos os coitados que, cansados de suas vidinhas vazias e monocromáticas, me procuram em busca de alguma luz e compreensão para suas misérias particulares.
Invariavelmente eu os solto de volta no mundo um pouco melhores (aí voltam pra me agradecer, pedir perdão, dizer que foram uns merdas — como se eu já não soubesse! —, uns até choram, outros fazem textos, músicas, e-mails açucarados), e quando vejo, estão lá outra vez cavando outro buraco pra enterrarem suas mediocridades.
É cíclico: sua pobreza de espírito, minha pena e acolhimento. São apenas pobres coitados, nada além. E o que seria da minha própria evolução se não fossem eles? Quem mais me ensinaria a ser forte, tolerante, paciente e piedosa?

Lucille

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por vir e por ler!
Fique a vontade para comentar, sua opinião é muito bem-vinda.