sábado, 23 de janeiro de 2010

Filé de peixe: limpo e fresco

Tudo começando a ficar bem.

Interessante como os valores mudam diariamente. Ou melhor, acho que valores de uma vida são na verdade sazonais. As prioridades dos meus vinte anos foram-se quando fiz trinta. Sim, já os fiz. Cronologicamente ainda faltam alguns meses, mas aqui dentro, do peito e da mente, a idade da mulher madura instalou-se bem aos poucos, quase que sorrateiramente. Quando vi, nada mais era o mesmo ou estava no mesmo lugar.

Hoje tenho a certeza de que mudanças, sejam de que ordem for, jamais são definitivas. Assim como os amores não são eternos. Hoje sei que basta uma palavra para alterar o curso de toda uma vida. E basta uma fagulha de egoísmo para dar de comer aos lobos. Em todo o caminho há falsas ou fracas amizades. E a falsidade que outrora me despertava a ira, agora me entristece. E a tristeza não acompanha a raiva, pelo contrário. A tristeza enfraquece a saudade. E como não existe nada que alimente uma saudade, o amor morre.

Amor de verdade não morre. Se morrer, é porque nunca foi forte. E fraqueza, e isto é uma certeza, não pode fazer parte da minha vida.

Nem fraqueza, nem egoísmo. E muito menos falsidade.

Vejo de longe, bem distante mesmo, palmas e gargalhadas de quem acha que basta a própria vida para que o outro seja feliz. Sinto pena. Pessoas medíocres agem assim, como quem nada quer, usando a máscara sorridente para afastar os que incomodam.

E eu bato. Bato forte e pra doer de verdade. De frente e sem medo nem vergonha. Aliás, quando bato é porque acho que ainda vale à pena. O meu silêncio é o tiro de misericórdia.

Covardia nunca foi o meu forte. Cravar o punhal nas costas nunca foi divertido. Na testa, sim. Portanto, quando algo me incomoda, aprendi a dizer, verbalizar, oralizar sentimentos, sejam positivos ou negativos. Especialmente os negativos. Aprendi a usar palavras para o fim a que se destinam. E quando algo de fato me aborrece, não me escondo, nem saio de fininho e nem enveneno os outros a minha volta. Pelo contrário, dignamente deixo claro e só então me retiro. Porque covardia, repetência proposital, nunca foi o meu forte.

E mulheres de trinta não discutem com meninas de vinte. Mulheres sorriem, e meninas, bom, isso eu não me lembro mais. Acho que no meu tempo de loura-burra eu devia ser assim também, o que é absolutamente perdoável. Nascemos idiotas e morremos idiotas, o que nos salva é o que fazemos no intervalo. E até a hora da idiotice derradeira, quero estar aqui, analisando tudo quanto me for possível, correndo, amando, fazendo filhos, lendo livros e plantando árvores.

Aí, elas virão dizer “A Lucille se acha.” Passei dessa fase, queridas. Eu me tenho certeza, mesmo. Com essa cabeça e o corpinho dos dezoito, teria feito muito mais estrago por onde passei, de proporções mundiais. Ah, a Itália... Enfim, acho que é algo que passa pela cabeça de todas quando percebem que, se a bundinha não é mais a mesma, é hora de se tornar uma pessoa legal.

Mas eu sempre disse que pessoas legais, daquelas que todo mundo a-do-ra a primeira vista, que é sempre solícita, sorri pra tudo, nada a desagrada, concorda com todos, certamente são pessoas do tipo que eu detesto e do qual nunca serei. Não sou legal. A grande vantagem da maturidade é saber em que momento bancar a legal. E isso, sem modéstia, eu faço muito bem.

Há uma diferença sutil em ser falsa e bancar a legal. A falsa é aquela que diz pra amiga que não sabe de nada, mesmo tendo consciência do que fez de errado. A pessoa que banca a legal, fica quieta a espera do pedido de desculpas, mesmo sabendo que ele não virá e jamais, jamais mesmo, desata o nó que prende as barbaridades insensíveis que gostaria de dizer para alguém que não conhece, a fim de não magoar uma terceira pessoa.

E enquanto oficialmente ainda sou uma menina de vinte, delicio-me com a bundinha ainda no lugar e a mente em constante evolução. Porque só as balzaquianas conhecem verdadeiramente o sentido da palavra equilíbrio.

Não há dor que o sono não consiga vencer.

Estamos habituados a julgar os outros por nós próprios, e se os absolvemos complacentemente dos nossos defeitos, condenamo-los com severidade por não terem as nossas qualidades.

É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja.

Honoré de Balzac

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- Lucille, você me permite uma ousadia?

- ... Sim.

- Você fica muito bem de vestido. Não que não fique com outras vestimentas, mas o vestido realça sua beleza.

- Você tá diferente.

- Diferente somo?

- Não sei... mais séria, mais madura, mais calma.

Quando você recebe esse tipo de comentário, vindo de um Gestor do Jurídico ou vindo de um amigo que não vê há dois anos, descobre que está exatamente onde queria.

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Deus dá o peixe. Aprender a pescar depende de você.

L.

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