sábado, 16 de janeiro de 2010

O coração cura o corpo - parte 1

Atropelam-se as lembranças. Amontoam-se palavras, soluços e sorrisos de tanto tempo distante, somado a uma saudade crescente de uma vida escrita, agora, renovada.

O espírito Administrador que ainda me usa como cavalo de quando em vez, me fez aprender a decidir muita coisa em pouco tempo, usando sagacidade e, como no último ano, o coração. E quando vi, estava sentada do outro lado da mesa, no frio consultório, dividida entre a certeza e o talvez, sendo obrigada a escolher num futuro distante, que tipo de sentimento carregar: frustração, mágoa ou a deliciosa morte no paraíso da maternidade. A primeira das decisões foi a de não chorar.

Por um mês, o almoço se tornou lanche, as manhãs no trabalho começavam mais tarde e por conta disso o expediente terminava cada vez mais tarde. O cansaço era meu companheiro diário. Valeria a pena isso tudo? Qual o objetivo final? E depois de tudo, como fazer? As dúvidas me assombravam até acordada. Felizmente, o tempo curto para tudo, até mesmo para uma simples hora com a manicure, não me permitiu considerar muito a ponto de desistir.

Tudo pronto e novamente naquela cadeira do consultório, vi a vida tentar decidir por mim. Pelo tamanho e localização da bola, talvez não fosse possível tirá-la de lá sem oferecer um sério risco de morte. Ou esterilização. Havia a pequena chance de, após um reestudo detalhado de todos os exames com o médico assistente, dar continuidade ao processo cirúrgico que me permitiria ser mãe.

Aquela tarde de terça-feira foi algo de fantástico. Cheguei até a movimentada avenida desejando que algum carro me atropelasse para me acordar, me trazer de volta a realidade. Mas por mais que eu gritasse com toda força, ninguém me ouvia, ninguém se dava conta de que atravessando aquela rua lotada de carros e pedestres, passava uma mulher em profundo desespero, tão profundo que apenas ela era capaz de saber.

Continua...

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