sábado, 6 de novembro de 2010

Caixa de tesouros



Há duas semanas recebi a minha caixa de tesouros de volta. Por falta de espaço em casa e por segurança, ficaram no mesmo quarto, sobre o mesmo armário ― espaços que um dia ocupei na casa materna. Revirando aqueles papéis, fotos, cartas, bilhetes, poemas e objetos, espanei a poeira da mente que guardava aquelas histórias. Dia 28 de agosto de 1998, dia 14 de julho de 2003, dia 13 de abril de 2003, dia 2 de maio de 2002. Foram dias de extremos: felicidade inominável e dor profunda. Aliás, as feridas contidas na caixa já estão cicatrizadas e justamente por isso, tudo o que havia de material a respeito delas foi para o lixo. Os papéis que ainda guardavam dias e noites de lágrimas, traições e desesperos, esses foram feitos em milhares de pedaços. As lembranças ficaram, claro, fazendo companhia às viagens, aos passeios de barco, aos abraços e reconciliações.

Nesta caixa eu costumava guardar tudo o que me era importante, bom ou ruim. Durante um tempo parei de fazer isso, talvez até pela idade também. Até os 16 anos eu ainda tinha diário, que virou agenda até os 25 anos e agora, surpresa!, tenho um blog. Os diários joguei fora, apesar de passar uma noite me contorcendo de rir com a escrita da adolescente que sofria de amor pelo pedreiro ou pelo cobrador do ônibus ou pelo motorista da Kombi. Também me apiedei dela em muitos momentos, pois eu sei o quanto foi difícil passar por essa fase do descobrimento do mundo e de si mesma tendo uma cruz gigante para carregar que não lhe pertencia, mas que lhe fora, de certa forma, imposta e que acabou sendo aceita. As agendas também joguei fora: as aventuras com os primeiros namorados dariam uma comédia. Aos 17 anos eu aprendi a lidar com namorado do tipo Esperto. Naquela época em que estava sendo alfabetizada no assunto, eu acordava de madrugada para chorar na janela pela sexta-feira em que era deliberadamente deixada em casa. Hoje sou Mestre ― prestes a concluir o Doutorado ―, por isso piquei todas aquelas páginas. Os primeiros anos da vida adulta foram de fato os piores, por isso guardei apenas uma página dos 18 anos, uma que, em papel e pensamento, jamais será esquecida. Aos 21 anos me tornei uma mulher linda, ainda desmiolada, mas muito bonita e feliz. Foi a época dos buquês, declarações de amor, poemas e finalmente a Era da Responsabilidade: aos 22 anos me tornei tia, madrinha e madrinha de novo e não tardei a entrar na faculdade. Um dia, ao atravessar a rua imprudentemente e quase ser atropelada, entendi que não poderia mais me por em risco: eu tinha uma vida da qual muitos sentiriam falta, especialmente certa pessoinha que havia acabado de entrar nela. Com todos os problemas que ainda existiam, eu consegui ser bem feliz nesse período.

Entre o blog e a caixa há um hiato, mas que tenho tentado recuperar. Talvez um tempo sem tesouros significantes. Hoje depositei na caixa alguns outros tesouros, inclusive os melhores momentos do blog, fotos, bilhetes, um barquinho de papel e uma folha de caderno escrito “Você é a melhor Dinda do mundo.” ― coisas que nenhum dinheiro no mundo poderia pagar.

Algumas coisas não podem entrar lá: a enormidade de sua importância não permite que sejam encerradas numa caixa. Para estas existe o coração.


L.

Um comentário:

Simone Castro disse...

Oi amiga, que bom que você escreveu mais. É super interessante o jeito que coloca a sua vida exposta. Parece que estamos lendo um livro e por sinal, bem legal e bem escrito.
Parabéns!!!
Vê se me escreve amiga.
Beijinhos,
Simone Castro

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