sábado, 3 de outubro de 2009

Amar o que se faz

Em minhas histórias épicas de heróis, longas batalhas e gladiadores, a armadura será uma túnica preta, cinturada por uma faixa azul, com um capelo cobrindo a cabeça.

Elisabete, Gestora de Recursos Humanos. Minha Madrinha.

Existem poucas coisas na vida que me dão prazer e orgulho ao mesmo tempo. Fora do ambiente familiar, minha profissão é a que melhor representa essa combinação.

Havia uma vaga para trabalhar em Departamento Pessoal, o salário era de R$400,00 na época, quase o dobro dos R$250,00 que eu recebia como Recepcionista. Eu não tinha a mínima experiência na área, o que, segundo o contratante, era justamente o que ele precisava, uma pessoa crua, sem os vícios do trabalho, para que ele pudesse ensinar e moldar. Com os olhos arregalados, aceitei o desafio. Não tanto pela nova função, muito mais pelo salário. Sandálias, roupas, sextas-feiras na pista... Enfim, eu ainda não tinha a menor consciência profissional, era uma consumista apenas. Por lá fiquei dois anos, até ir para uma grande empresa, mesma função e mesmo desejo de carreira. Nulo. Eu era só mais uma parte do processo. Intransigente, muitas vezes grossa, respondona, malcriada.

Não encontrando um trabalho que se adaptasse a mim, fui parar numa Super empresa, literalmente. Lá conheci uma mulher que era metade de mim em tamanho e o dobro em atitude e peito. Uma de nós teria que mudar, ou sair, já que com a mesma personalidade não poderíamos habitar o mesmo espaço sem causar grandes catástrofes. E, ainda assim, contando ela com a larga vantagem de ser a mais sábia, decidiu que eu iria mudar. Ou melhor, ela iria me mudar. Durante outros dois anos ela me moldou como água na rocha do mar. Não, água, não. Um maremoto.

“Humanize-se!” foi a frase que ela proferiu e que me perfurou como uma adaga.

Pensei, caminhei, analisei e com o passar do tempo concluí que realmente havia algo que merecia uma senhora mudança. Apesar de ter a vida de pessoas sob minha responsabilidade, eu nunca havia de fato assimilado que aquelas vidas eram como a minha.

Quando me sentei naquela outra cadeira, um ano após, minha vida se tornou uma corredeira. Águas geladas, pedras, quedas. Entendi que a minha volta havia pessoas que queriam não menos atenção que eu e precisavam de minha disponibilidade e amor pra dar-lhes isso. Entendi que o sofrimento que eu carregava era somente amenizado quando estava lá, dando o melhor de mim para aquelas pessoas. E quando tudo isso ficou bem claro e definido, então eu me tornei, efetivamente, uma profissional de Recursos Humanos.

Hoje, ainda que ganhando bem mais do que quando comecei, a bagagem de conhecimento que carrego não tem valor que se possa pagar. As portas que se abrem a cada dia, as amizades, as influências, as trocas, tudo é fruto de uma dedicação e de uma consciência que, agradeço muito aquela baixinha, foram plantados em mim e germinaram belíssimas e fortes raízes.

Um dia estranhei ouvir a expressão “ser RH”, que não é a mesma coisa que “trabalhar no RH” ou “estar no RH”. Ser RH é olhar o outro como extensão da sua própria vida, cuidar para que ele tenha boas condições de trabalho, jamais esquecendo da saúde financeira da empresa. Ser RH é zelar pelo patrimônio mais importante de uma organização.

E é graças a essa visão e a essa profissão tão rica que o meu mundo hoje é muito melhor. Dentro de mim existem outras vidas.

Meu carinho e profundo respeito a todos os profissionais de Recursos Humanos do Brasil.

E meu obrigada a todas as 13 mil vidas que me animam a continuar a luta todos os dias.

L.

Um comentário:

Cadu disse...

Pior que a minha faixa será azul tb!!!

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