sábado, 17 de outubro de 2009

Princípio

Algumas verdades são tão duras e frias que, mesmo sob o nariz, nos recusamos a sabê-las. Às vezes, a verdade chega a cegar de tão clara, porém, dificilmente é admitida. De outras vezes, a verdade é tão indizível que chega a ser considerada mentira. E, na maior parte do tempo, é necessário que outra pessoa nos obrigue a parar de olhar por cima do ombro a fim de achar a verdade, pois ela está justamente encarapitada sobre os nossos pescoços.

Cheguei a acreditar que vir aqui, olhar o editor de texto vazio e nada encontrar que pudesse ser escrito, fosse nada menos ou mais que o grande terror de todo escritor: o momento em que a mente não organiza as idéias de modo a transformá-las em texto. Todas as noites, dias e tardes em frente ao computador em que passei sem ao menos duas linhas, para mim nunca passaram de falta de inspiração.

E por que alguém perde a inspiração de fazer aquilo que tanto lhe dá prazer?

Todas as noites um ritual era cumprido. Lágrimas rolavam como que convidadas de casa, tão habituadas a estarem comigo por lá. Religiosamente ao deitar, ou ao me dar conta da solidão, sem um motivo especificamente forte que justificasse tanto pesar. Nem o cisto e nem mesmo o mioma foram capazes de provocar tanta tristeza traduzida em choro fino e soluço agudo.

E por que alguém chora sem motivo?

Um do meu lado e outro distante alguns minutos. Tendo mais dificuldades de horário, dinheiro e disposição, já fui atrás dos dois pequenos sóis da minha caminhada. E agora, no entanto, eles ficaram alguma coisa fora do contexto do momento. Não fui, não vi, não ouvi. Não quis saber.

E por que alguém se afasta das pessoas que mais ama em todo o universo?

Decididamente os últimos meses de novembro e dezembro tiveram peso quase devastador sobre mim. Quase, porque havia um Deus comigo que não me deixou tombar sobre os joelhos e assim ficar mais tempo do que o necessário. E, quando Ele estava ocupado com outras pessoas, deixava ao meu lado seus anjos. Dentre tantos, um chegou montado no cavalo alado, com a missão de devolver os dias de sol ao meu verão. Quantas e quantas vezes ouvi aquela voz rouca e arfante me pedir pra ficar mais, pra dormir por lá, pra ir mais vezes? A missão foi bem cumprida, mas eu queria que não, que ele falhasse. Sem mais e nem porque a dei por encerrada. Foi o início da série de auto-sabotagens a que me impus. Foi apenas a primeira.

Qual a verdade de alguém que se neutraliza de todas as dores e mágoas?

A última noite de quinta-feira trouxe a resposta para as dúvidas sequer imaginadas por mim. E não é uma chamada a realidade muito boa, pelo contrário, a verdade desceu como um véu negro, grosso e pesado. A verdade é uma só e desagradável, mas eu tenho fé. Deus colocou um anjo precioso do meu lado, um anjo que me acompanha há um ano e dois meses, que retira de mim as verdades que nem eu mesma sei que existem. E essa verdade, bem, eu que estava procurando a resposta no lugar errado.

Os próximos passos ainda são uma incógnita. Apenas uma instrução permeia meu dia: não dar linha demais à pipa. O que isso significa? Que existe uma separação tênue entre o momento ruim e um péssimo que pode vir, e que vai depender forçosamente do meu caminhar, sabendo qual a verdadeira vilã da história.

Passar horas na livraria ainda é um santo remédio.

E que assim seja e continue sendo. Amém.

L.

Um comentário:

Unknown disse...

Me emocionei com o teu texto... consegui me ver em suas palvras... impressionante...

bjo e precisando sabe que pode contar com seu amigo mineiro

Rodrigo

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