quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dignidade já!

Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor.”

Mario Quintana

Eu já sabia que tinha alguma coisa errada que não estava certa. Nariz sangrar é prenúncio de péssimas notícias. E, não tardiamente, elas chegaram. E porque eu não fui ao médico quando sangrou da primeira vez? Ora, simples! Porque sou uma cretina preguiçosa que é capaz de cuidar do mundo e nunca de si mesma.

Pensar nos outros em detrimento de mim mesma é uma arte herdada de família. E, tenho que admitir, é uma merda. Uma boa merda! No final das contas, o retorno é bem inferior ou nulo.

Quando você tira alguém de uma encrenca, quando empresta grana ou quando simplesmente abre mão do seu bem estar para que outra pessoa fique melhor, na hora, a sensação é boa. Tipo droga: dá um barato, mas é momentâneo. Se você ajuda, não diz, mas espera que haja, no mínimo, um agradecimento. A situação envolvendo dinheiro, nem precisa dizer que pagamento deve ser feito. Na hora de pedir, de fazer cara de coitado para receber ajuda, nossa, pouco falta para um pedido de beatificação do santo. E a jura eterna de que, no dia combinado haverá o pagamento, só reforça sua decisão de emprestar. Mas quando chega o dia... O dia chega e passa. Claro, todo mundo pode esquecer, ter um contratempo, mas não fica esquecido. Isso é o que se quer acreditar. Na verdade, não fica esquecido. Fica deliberadamente deixado pra lá. Aí dias depois você, pisando em ovos, vai lembrar. Pra quê... “O quê? Eu? Te devendo? Você está me cobrando? Emprestou de má vontade? Tá achando que eu vou te roubar? Muquirana!”. Desnecessário e constrangedor. Porém se deu, tirou de algum lugar, e se tirou, precisa repor. Salvo raríssimas exceções, há uma tendência mundial ao calote. E o pior não é pagar. Agora que o País quitou a Dívida Externa, é o momento de rever aquela velha máxima “se até o Brasil deve...”. Dureza mesmo é quando há as demonstrações prévias do não pagamento. “Faz o cálculo de quanto eu te devo. Tem notinha? Quando foi que você me emprestou isso? Tá, vou somar tudo, calcular com calma e deposito na tua conta. Quando? Não sei, quero fazer isso com calma.” Então você respira, agradece e aguarda. Aguarda... Vendo a conta começar a ficar rosa, se preparando pra entrar no vermelho, você investe outra vez na cobrança, se odiando por ter que passar por aquilo. “Ah, quer saber? Vai se fu...!!!” Você mantém a calma e explica que não está querendo nada demais, apenas o que foi combinado. E, no dia seguinte, claro, volta a pedir e, dessa vez, assume que está passando de credor a devedor: é você quem está pedindo. “Eu não já falei que vou te pagar? Só que eu preciso de tempo pra calcular. Não, nessa semana eu não consegui fazer isso. O quêêêêê? Você tem coragem de dizer que eu estou te enrolando?! Como é mesquinha, meu Deus... Ah, não quer mais dinheiro? Não quer mesmo? Ok, então vai se fu...!!!” Você desliga o telefone, a cara em chamas, mas no fundo sabe que essa pobre alma tem mais a pedir do que você a perder.

E você aprende e toma vergonha na cara? Pois é, foi o que imaginei. Bem-vindo ao clube.

Compromisso assumido tem que ser honrado, caso contrário, pode não haver outra oportunidade de confiança. Não se trata apenas de dinheiro. Se você empenhou sua palavra em algo, no que quer que seja, honre-a. A dignidade é o bem mais valioso do homem.

Lembrei disso agora porque, claro que já aconteceu comigo, mas também porque, devido ao meu descaso comigo mesma, preocupada com alimentação de outros um dia desses e não fui capaz de me ocupar de uma simples consulta, que me evitaria gastar tanto dinheiro com remédios. Sim, remédios. Nada menos que seis. Aliás, ficar doente nesse país é surreal. O que significa uma caixa com 10 comprimidos por R$53,00? Significa que, dá ou desce, ou compra ou morre. Legalização da eutanásia já!

Vi a fabulosa programação do fim de semana se evaporar à medida que a atendente ia colocando os remédios em cima do balcão. Juntos, sobre a mesa do trabalho, eles somavam duas calças jeans da Taco, ou um vestido da Madame Ms, ou duas sandálias da Botanopé.

Não posso reclamar, pelo menos eu pude pagar. Triste mesmo é ficar doente e não ter condições de melhorar. E esse é o meu compromisso comigo mesma.

É... Está sendo um período difícil. Mas quando é que foi fácil? :-)

L.

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