Toda nova jornada, obrigatória ou
voluntária, traz consigo o medo do desconhecido, o receio de não chegar ao meio
do caminho, mas também traz as surpresas boas, a ansiedade pelo que está logo
depois da esquina.
Quando o fim apareceu na minha
porta sem ligar avisando, sem dar o menor sinal de que estava próximo ou que
gostaria de rever-me, eu entrei em processo de autodestruição. Fim? Como fim? O
meu fim, constatei. Não havia porque não ser o meu: quem me presenteava com
aquela máscara agourenta não via em mim um ser humano, apenas um olho direito e
um olho esquerdo que, míopes, leriam a informação plantada na tela do celular.
Meus olhos são míopes, meu coração
não.
Só enxergo de perto, mas sinto de
longe. Sinto além do que meus olhos possam alcançar, do que qualquer visão
pode.
Senti algo rondando naquele
momento e nos dias e semanas que se seguiram. O que era não sei, mas acho que
bem poderia ser Dona Morte e suas garras molhadas e gélidas louca de tesão no
meu pescoço. Poderia, sim. E Deus, onde estava Deus? Eu não conseguia mais
vê-lo, nem senti-lo. Não tinha forças para esticar o braço e me segurar em seu
manto de amor e conforto, não sabia para que lado correr: fiquei parada, no
chão sujo, suja eu, soluçando uma dor sanguinolenta, uma dor que eu nem sabia
de onde vinha — apenas sentia.
Aos que passavam por mim, murmurei
um pedido de ajuda. Sabia que não conseguiria sair sozinha daquele estado
deplorável de ser humano.
Outra ajuda se fez necessária. Não
dava, não tinha como, não ia caminhar, não podia. O único caminho a minha
frente era indicado por uma mão gosmenta, fedorenta, ossuda, sem pele...
Recusei-me a acompanhá-la.
Iniciei uma nova caminhada
silenciosa. Será que ela conseguiria me entender, me ajudar? Quando vi, ela me
fez uma pergunta e eu não soube responder. Não por desconhecer a resposta, mas por
não ter uma. Não tinha argumento. E isso foi um choque. Como assim não existia
o que passei anos acreditando que existia? Então não me conhecia tanto assim.
Acordei hoje ainda pensando, as palavras saíam da minha boca como que tentando
acreditar na descoberta.
Tenho medo, mas sei que o que está
por vir me chocará mais ainda. Sei que logo ali está o que vale a pena
conhecer, algo pelo que valerá a pena viver. E ela há me ajudar nesse novo caminhar,
disponibilizando botas macias e firmes, indicando onde pisar, potencializando
minha fé e minha força.
Ela saberá.
Ela é ela e ela sou eu.
LN
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