quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nós duas

Toda nova jornada, obrigatória ou voluntária, traz consigo o medo do desconhecido, o receio de não chegar ao meio do caminho, mas também traz as surpresas boas, a ansiedade pelo que está logo depois da esquina.



Quando o fim apareceu na minha porta sem ligar avisando, sem dar o menor sinal de que estava próximo ou que gostaria de rever-me, eu entrei em processo de autodestruição. Fim? Como fim? O meu fim, constatei. Não havia porque não ser o meu: quem me presenteava com aquela máscara agourenta não via em mim um ser humano, apenas um olho direito e um olho esquerdo que, míopes, leriam a informação plantada na tela do celular.
Meus olhos são míopes, meu coração não.

Só enxergo de perto, mas sinto de longe. Sinto além do que meus olhos possam alcançar, do que qualquer visão pode.

Senti algo rondando naquele momento e nos dias e semanas que se seguiram. O que era não sei, mas acho que bem poderia ser Dona Morte e suas garras molhadas e gélidas louca de tesão no meu pescoço. Poderia, sim. E Deus, onde estava Deus? Eu não conseguia mais vê-lo, nem senti-lo. Não tinha forças para esticar o braço e me segurar em seu manto de amor e conforto, não sabia para que lado correr: fiquei parada, no chão sujo, suja eu, soluçando uma dor sanguinolenta, uma dor que eu nem sabia de onde vinha — apenas sentia.

Aos que passavam por mim, murmurei um pedido de ajuda. Sabia que não conseguiria sair sozinha daquele estado deplorável de ser humano.

Outra ajuda se fez necessária. Não dava, não tinha como, não ia caminhar, não podia. O único caminho a minha frente era indicado por uma mão gosmenta, fedorenta, ossuda, sem pele... Recusei-me a acompanhá-la.

Iniciei uma nova caminhada silenciosa. Será que ela conseguiria me entender, me ajudar? Quando vi, ela me fez uma pergunta e eu não soube responder. Não por desconhecer a resposta, mas por não ter uma. Não tinha argumento. E isso foi um choque. Como assim não existia o que passei anos acreditando que existia? Então não me conhecia tanto assim. Acordei hoje ainda pensando, as palavras saíam da minha boca como que tentando acreditar na descoberta.

Tenho medo, mas sei que o que está por vir me chocará mais ainda. Sei que logo ali está o que vale a pena conhecer, algo pelo que valerá a pena viver. E ela há me ajudar nesse novo caminhar, disponibilizando botas macias e firmes, indicando onde pisar, potencializando minha fé e minha força.
Ela saberá.
Ela é ela e ela sou eu.

LN

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