domingo, 25 de maio de 2014

Descoberta e aceitação

Parece até que acende uma luz, daqueles refletores de filmes em que o ator fica totalmente banhado pela grande luz branca, em que suas mínimas rugas estão a mostra, sendo quase possível ler seus mais obscuros pensamentos. É assim que acontece quando você gira o gatilho e aponta para o verdadeiro culpado dos seus problemas.

Há uma forte tendência a culpar o outro, é mais fácil, mais rápido e dói menos dizer que alguém machucou, magoou, foi responsável pelo escoamento do seu tempo, do sangramento de sua boa vontade, da mácula em sua caminhada irrepreensível.

O outro. E quem é o outro senão alguém que você mesmo municiou com seu tempo, sua boa vontade, sua atenção, sua vida? Quem é a pessoa que só poderia ter-lhe feito algo de ruim se lhe tivesse algo de bom? O outro poderia ser um desconhecido? Um já declarado inimigo? O outro rouba algo?

À quem se aponta o dedo acusador? Ao que é um pouco de você, fora de você, criado e mantido por você. Sua extensão. O outro é seu, é você.

Então quem pode ser culpabilizado por essa transgressão do seu ser noutro corpo?

A luz do refletor acende. Pelos lados rebatedores aumentam a iluminação e no centro da tela, com a taça da culpa esculpida em dor e ódio, mágoa, lágrimas e desejo de vingança está o grande vilão da história, temido, odiado e amado, senhor pérfido de si mesmo: você.

Porque não nada que se possa fazer: a vida mais difícil de todas é a sua.


LN

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