Parece até que acende
uma luz, daqueles refletores de filmes em que o ator fica totalmente banhado
pela grande luz branca, em que suas mínimas rugas estão a mostra, sendo quase
possível ler seus mais obscuros pensamentos. É assim que acontece quando você gira
o gatilho e aponta para o verdadeiro culpado dos seus problemas.
Há uma forte tendência
a culpar o outro, é mais fácil, mais rápido e dói menos dizer que alguém
machucou, magoou, foi responsável pelo escoamento do seu tempo, do sangramento
de sua boa vontade, da mácula em sua caminhada irrepreensível.
O outro. E quem é o
outro senão alguém que você mesmo municiou com seu tempo, sua boa vontade, sua
atenção, sua vida? Quem é a pessoa que só poderia ter-lhe feito algo de ruim se
lhe tivesse algo de bom? O outro poderia ser um desconhecido? Um já declarado
inimigo? O outro rouba algo?
À quem se aponta o
dedo acusador? Ao que é um pouco de você, fora de você, criado e mantido por
você. Sua extensão. O outro é seu, é você.
Então quem pode ser
culpabilizado por essa transgressão do seu ser noutro corpo?
A luz do refletor acende.
Pelos lados rebatedores aumentam a iluminação e no centro da tela, com a taça
da culpa esculpida em dor e ódio, mágoa, lágrimas e desejo de vingança está o
grande vilão da história, temido, odiado e amado, senhor pérfido de si mesmo:
você.
Porque não nada que se
possa fazer: a vida mais difícil de todas é a sua.
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