Acordei meio sem saber por que e nem para
que. Aos poucos fui me lembrando: era dia de trabalho. Uma segunda-feira
quente, porém cinza, céu ainda de um azulado escuro por começar uma hora mais
cedo.
Apesar do enorme amor pela profissão e pelo
trabalho em si, naquela manhã vinda de um fim de semana agitado física e emocionalmente,
eu só queria continuar mais dez minutos na cama. Não, mais dez horas. No
escuro, no silêncio. Tipo inexistente, fora da área de cobertura, apagada,
tuuuuuuuuu...
Não deu, o dever falou mais alto, apesar da
vontade ser mais forte. Ônibus lotado, eu em pé, trânsito, calor. E a mente na
cama, no aconchego do edredom, no silêncio da minha casa.
Dia correu como previsto, até mais rápido
que de costume. No final dele a exaustão dominava. Telefone tocou, vi o nome e
deixei que cansasse. Já havia ligado no domingo e eu não retornei. Ele não
cansou. Porque no fundo eu esperava que desistisse, porém mais no fundo eu
desejava que não. Atendi. E aquela noite quente, sem lua, sem brisa, se
transformou numa daquelas tardes de sábado banhadas de Sol em que eu o via
trabalhar e achava bom tê-lo por perto, mesmo que não como eu gostaria.
Ligou pra saber como eu estava, pra me
cobrar por não ter ligado mais e pra checar se estava bem. “Então se você está
bem, eu estou bem também”.
Ele não soube, mas quando desligou deixou
do outro lado da linha alguém que sorriu feito menina com doce, talvez porque seja
desta forma que me terá pra sempre: uma menina, a dele.
Muita coisa fez sentido naquele momento:
acordar, trabalhar, o dia. A aflição e o medo ficaram mínimos ante a força da
voz grossa e familiar. E por assim saber, encontrei as razões que precisava sem
buscar, para continuar a construção do que busco ― e preciso ― com ele, Nilson
Nascimento.
Lucille
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