Sinto
uma enorme necessidade de dizer com todas as letras o que estou pensando, mas
não sei se todos estão preparados para saber.
As
pessoas acham que podem dizer suas verdades e sair caminhando sobre o salto
como se jogassem uma pedrinha no lago e pudessem dar as costas certas de que a
pedrinha jamais voltaria para lhes acertar a nuca. Ser direto e sincero são grandes
características que admiro bastante, porém saber ouvir a resposta é tão ou mais
importante que apenas por para fora pensamentos e sentimentos. Isso significa
dar a oportunidade do outro exercitar seu direito de ser sincero e direto
também.
Nas
últimas semanas do último ano, engoli sapos enormes, do brejo, bem alimentados,
quase que não me descem pela garganta. Me vi obrigada a isso a fim de manter o
clima sustentável, sem prejudicar ninguém. O fato é que eu queria olhar nos
olhos de algumas pessoas e perguntar quantas contas de luz minhas elas haviam
pago para me julgar. Queria também saber em que século eu nasci e fui criada
para diminuírem o meu trabalho e meu sacrifício em comparação ao de um homem.
E, por fim, queria dar as costas para todos os egoístas que me cruzam o
caminho.
O
ano nem bem começou e as cobranças desnecessárias já começaram. Desta vez não
tinha porque manter o silêncio: verbalizei o pensamento e tentei não deixar
dúvidas sobre o que sinto. Cada um tem o sagrado direito de fazer o que quiser
de sua vida, desde que saiba respeitar o do outro também.
E
para ficar ainda melhor, consegui sem esforço testar minha resistência a
vontade de ir contra o que eu acredito e determino como certo. Acabou a época
de bandidagem, me cansei de diversão com o único propósito de contar uma
vantagem masculina sobre os próprios homens.
Essa
noite tive um sonho bom, bonito. Quero que a vida siga um curso mais suave
agora, com a minha dedicação para fazer apenas o que me dá prazer: trabalhar, estudar,
escrever, dançar, terapia e desenvolver as varias ideias que povoam minha
inquieta mente. E pra isso eu preciso me livrar daquilo que penso: se me pesar
a vontade de desabafar, assim o farei, caso contrário o caminho nunca ficará
livre para que outros sentimentos possam chegar.
Se
esse é o caminho, então vou andar.
Lucille
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