quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aguardando liberação do sinal

Quando abri o navegador, ainda tinha a esperança de ler notícias positivas, alguma mensagem de esperança e crédito, no meio de ataques sem fim – porém injustamente justos.

Voltei no tempo três anos. Era um dia de sol muito forte, não havia uma parte do meu corpo que não pedisse para ficar em casa, estirada no sofá, assistindo televisão. Havia uma importante entrevista para estágio, e, mesmo sem acreditar que pudesse entrar, tentei. Fui a melhor das nove candidatas e em setembro, mais precisamente numa segunda-feira, dia 18, peguei o trem que me levaria ao mundo encantado do conhecimento humano.

Foram quase dois anos de intenso aprendizado, diários e pequenos tesouros que levarei até o dia do último suspiro. Talvez eu não entendesse à época, mas cada rosto daqueles dois mil, cada história, cada pergunta, me fazia uma profissional e pessoa melhor. Não, eu realmente não entendia. Mas, felizmente, estou colhendo agora as sementes que plantaram em mim.

O crachá pendurado no pescoço, brilhava no peito pelo reflexo do meu orgulho em estar lá. Eu era parte daquele mundo. Sentia prazer em responder perguntas que não faziam parte do meu trabalho, como por exemplo, onde pegar o ônibus para Copacabana. Aquele crachá me habilitava a tudo, até ser rainha daquela multidão que diariamente passava por ali. E eu me sentia realmente necessária, mesmo que fosse só por indicar que a plataforma 8, ficava ali, logo depois da plataforma 7.

O tempo me incitou a voar. Fui embora levando na mala dias de estresse fervente, dias de amor incondicional e muitos e muitos sorrisos inesquecíveis. Deixei lá um pedaço do coração, sobre os trilhos.

E agora, revendo aquele homem na televisão, sendo massacrado, julgado e condenado pelo apresentador, senti uma imensa vontade de gritar, pedir pra parar. Não era ele propriamente dito que estava sendo julgado, era uma população de duas mil vidas que dão o sangue e o suor, por vezes literalmente, para colocar outros tantos milhares de vidas em seus empregos e em seus lares, com simpatia e segurança. Ele estava assustado, como menino pego em flagrante na hora em que se preparava para sair de casa descalço, e esse medo estava quase respirável. Tive raiva. Tive pena. Queria defender. Queria apedrejar.

Eu estive lá, eu sei como funciona (ou não) cada estrutura do todo que é a empresa. Como todo lugar tem suas dificuldades, e até seus próprios obstáculos pro crescimento, causados por ela mesma. Mas o que mais posso saber, se uma funcionária me liga chorando por ter sido agredida fisicamente por um cliente, se um outro é amordaçado por criminosos armados, ou ainda, se eu tenho que providenciar o seguro de vida do outro que foi assassinado? Como condenar homens que bateram quando o que mais fazem é apanhar? Nada, absolutamente nada justifica o comportamento selvagem de agredir clientes, seja em que circunstância for. Mas como posso treiná-los para levar soco, pontapé, cusparada, empurrão e xingamento de todo grau, anulando a condição humana que providencia uma reação para toda ação? De que forma devo dizer a eles que o apresentador do jornal jamais chorará a morte de nenhum deles, mas se eles levantarem a voz para um cliente o mesmo apresentador convidará toda a sociedade a um julgamento em rede nacional?

Não me permito apontar culpados ou inocentes nesta história. Quero pensar que toda moeda tem dois lados, e, tenho certeza, uma pessoa que “bate” com o crachá da empresa, num revide desesperado, e diante da iminente situação de pânico, no mínimo, precisa ser analisado e recuperado. Jogá-lo a margem da sociedade só aumentará o prejuízo, já que, sem emprego e dinheiro, pode ser que ele passe para o outro lado da grade e resolva amordaçar a ex-colega de trabalho, enquanto assalta seu caixa.

O povo carioca e fluminense já tão maltratado pelo governo podre deste estado decadente, assistindo seus filhos, vizinhos e netos ser mortos covardemente por quem os deveria proteger, aproveita um momento de fúria generalizada para descontar seus medos e mágoas no primeiro que, desafortunadamente, atrai para si a responsabilidade de zelar pela ordem e segurança pública quando não é nem mesmo treinado para tal atitude.

Pensando bem, ainda bem que era um crachá e não um revólver.

L.

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