terça-feira, 10 de junho de 2008

Eu Creio

Em cima da minha mesa tem um carneirinho de gesso. Ele me olha, assim como me olhava o passarinho. Não sei onde deixei o passarinho, mas sei que ambos, ainda que não possam falar e estejam aparentemente imóveis, me guardam e acompanham meus passos.

Vocês vão dizer “pronto, endoidou de vez!”, mas eu sempre acreditei em muitas coisas, inclusive, que existam forças superiores a humana, capazes de ditar regras, mandar prender e mandar soltar. E algumas dessas forças são os orixás do Candomblé, religião de origem africana, pela qual tenho enorme simpatia.

Sábado, lá estava eu no barracão do Pai Jorge, gente finíssima. Não participo de absolutamente nada, apenas observo e acho tudo muito interessante, muito, extremamente diferente da minha formação e realidade religiosa. Os pais de santo, as ekedjis, os ogans e os ebomis e yaôs, componentes que formam a comunidade candomblecista são pessoas normais, como eu, com desejos e fraquezas, tementes a forças superiores, assim como qualquer outro fiel. Na primeira e última festa que fui, logo após meu noivado, fiquei encantada com a riqueza da organização, com o carinho que todos cuidam daquilo que acreditam. Não é um quartinho qualquer, onde um falso profeta fecha os olhos e grita em nome de algum deus. É uma casa, acima de tudo, com amor aos orixás que os protegem. Gosto de lá, me sinto bem. E Pai Jorge ficou emocionado porque eu o chamei de Pai. Mas claro! Não o chamaria apenas porque não professo a mesma fé que ele? Ele é Pai de seus filhos de santo, cuida deles e da fé que os move, e quem sou eu pra ir contra.

O que eu mais gostava mesmo de lá era da moral. rsrs Como eu não era filha da casa, era visitante ilustre, uma vez que era nora do primeiro Ogum, da Ekedji e noiva do Ogan. Nossa! rsrs Eu não era pouca merda, não! Gosto dessas coisas, deixo de ser eu, Lucille e passo a ser a “nora do Pai Carlinhos”, sem responsabilidade alguma com nada, apenas sentadinha no meu canto, observando e absorvendo as informações. Ganhava vinho, comida, bolo, docinho, lembrancinhas, tudo ali, na mão e sem dizer meia palavra. O clima de uma casa de candomblé é, por incrível que pareça, bastante leve. As pessoas sorriem, dançam, saúdam seus orixás, cantam seus hinos e cânticos religiosos. Ninguém fica berrando querendo tirar o demônio do corpo de ninguém! Acho péssimo isso. As pessoas têm problemas, demônios particulares e aposto que eles não são surdos, assim como os deuses também não.

Da última vez, ao me despedir, Pai Jorge me abriu aquele sorrisão, abraçou e ainda sorrindo, disse “Venha mais vezes, gosto muito de te ver aqui.” Fiquei besta, tanta gente ali e ele me dizendo que gosta de me ver lá. Acho que no fundo, ele estava me cantando... rsrs Já me disseram que eu seria filha de Oxum, segundo Carlinhos, Oxum Opará, a mais danada de todas, bonita e encrenqueira. Porque será? rsrs E aposto que Pai Jorge deve ter pensado o mesmo, e iria mesmo gostar de me ver como filha da casa dele.

Mas...

Sou mulher de um Homem só. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo, seu único filho. Minha mãe é Maria e Cristo, meu Salvador. Não tem jeito, minha fé é forte, sou fiel ao meu catolicismo. Nesta fé fui criada, batizada, confirmada na crisma, aguardando ansiosamente o matrimônio. É Ele que me salva dos apertos, que me guia e ilumina o caminho. É Ele quem perdoa minhas falhas e faltas, e me ama mesmo que as cometa.

Do lado do barracão tem uma igreja.

Com respeito, todos podemos conviver em harmonia. Respeito, principalmente, ao que o outro acredita. Se a pessoa quer cultuar nossa senhora dos canivetes, problema dela, que seja feliz. Só não peça pra santa fazer chover! Aborrecia-me profundamente quando os evangélicos vinham do Jacarezinho, até a Central do Brasil, berrando enlouquecidamente no trem, acreditando talvez, que Deus seja realmente um velhote com barba, cajado e surdo. Aos meus leitores evangélicos, meu pedido de desculpas, mas não concordo com certas atitudes, como a invasão do espaço do outro, por exemplo. Certa vez, uma moça, com aquelas folhetos com mensagens extraídos da Bíblia quase me impediu de fazer uma enorme besteira, a maior de todas da vida. Andréia, nunca esquecerei... Sentamos no Largo da Carioca e ela com sua voz melodiosa e a Bíblia na mão, tentava convencer-me a aceitar Jesus como ela o via e me ajudar a sair da situação em que estava. Não me lembro onde a conheci, mas sei que foi no acaso total. Andréia se foi sem sucesso na sua tentativa de me ajudar ou me fazer desistir da idéia autodestrutiva que eu tinha, mas me deixou uma enorme e maravilhosa lição: não existe problema maior do que Deus, com Ele tudo tem solução.

Da doutrina espírita, guardo com carinho os livros psicografados. São mensagens boas, que trazem paz. Não sei se os que se vão podem nos ver e ouvir, mas acredito que existem seres mais evoluídos, que cuidam dos desencarnados para que voltem melhores. Até eu mesma era um anjo, lembram? rsrs Uma ex-colega de trabalho passava a hora do almoço a me contar histórias de sua doutrina, as quais eu ouvia com interesse e respeito. Anos depois, Ana Paula, outra colega de trabalho e também espírita, num encontro casual no banheiro, me ensinou mais um pouco do “nada é por acaso” que permeia a crença deles.

Hoje estava subindo pra casa, o céu estava muito estrelado, o tempo quente e eu resolvi fazer algo que não fazia há tempos: perguntar. Sei que Ele sabe de tudo que me acontece, até mesmo antes, mas me ensinaram que às vezes Ele só espera que eu me manifeste. Qual o caminho? Aí me lembrei de todos os outros deuses e entidades que me protegem. Acredito em tudo que opera o bem, que prega o amor, a amizade, a misericórdia, a paz, o perdão e a união. “Se alguém me acolhe com gratidão, faremos juntos a refeição”, diz um dos cânticos de comunhão que mais gosto e me diz que posso estar feliz onde for bem recebida. Pensei em tantas formas de obter a resposta, mas por mais que admire tudo isso aí de cima e mais alguns, meu Deus mora em mim, portanto é onde estará a resposta.

*-*

Falei da internacionalidade do meu, ops, do nosso blog? Pois é, mais precisamente no Egito, África. A-m-o! Não me canso de dizer, muito humilde e sinceramente, obrigada por darem-me a honra de suas visitas, de perder seus minutos a ler o que escrevo, por participarem das aventuras comigo.

*-*

Atendendo aos pedidos, próximo post terá uma parte dedicada a ficção. Pedidos insistentes, vale dizer! rsrs Aliás, as pessoas teimam em achar que eu posso mais do que quero poder. Eu sou Administradora de Recursos Humanos, em formação! Escrever ainda é um lazer. Ok, um lazer positivamente obrigatório, mas é diversão ainda.

Vamos ver se consigo? Ok, então lá vai um pedacinho, direto da mente, assim do nada, para aprovação dos senhores.

Soergueu-se com dificuldade. Não que estivesse cansada, sentia-se bem, até demais, não queria mesmo sair. A cabeça pesava e pendia para o lado. Lá estava ele, exausto e com a expressão facial congelada: parecia ter morrido sorrindo. Não estava morto, ela não poderia imaginar naquele momento como alguém poderia morrer depois do que acabara de acontecer. Suas omoplatas subiam e desciam suavemente, denunciando que ainda havia vida ali, naquele corpo felino, quase selvagem. Não tenho dúvidas, ela pensou, de que há muita vida aí dentro. E não haveria de tê-las mesmo, afinal, em questão de minutos passara da condição de perseguidora a subjugada. Como? Por que deixou que aquilo acontecesse? Pensar agora será desnecessário, os músculos e, sobretudo, seus instintos femininos diziam-na que o mar de dúvidas estava apenas se abrindo a sua frente. Ainda haveria muito que navegar.

E então? Sejam sinceros!

*-*

Cheia de esperança e fé, despeço-me de todos, com um desejo crescente de que minhas palavras possam servir de ânimo: tudo vai dar certo!

L.

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