segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Do tempo e do poder de Deus - Final

O tempo parou no exato minuto em que nossos olhares se encontraram. Tudo que havia entre o céu e a terra deixou de fazer sentido no momento em que conheci o poder do amor verdadeiro.

Ela chegou ao mundo num dia bonito, Sol ameno, brisa boa batendo nas costas nuas do vestido amarelo. O chorinho entrecortado denunciava que os pulmões estavam ainda cheios de líquido, os olhos amendoados abertos e atentos — os meus olhos. Sussurrei: “está tudo bem, agora está tudo bem, mamãe está aqui” e senti o resmungo abrandar de lá e finas lágrimas escorrerem de cá. Eu era amor e orações, agradecimentos, alívio, felicidade: uma mulher, enfim, completa e refeita. Havia encontrado minha paz, meu ar fresco, minha razão de viver. Minha filha.

Ao longo da gestação tudo foi se transformando. Não é apenas a barriga que cresce. Ser mãe é mais difícil que ser pai, fisicamente falando, todo o corpo muda. Mas tem lá suas vantagens. Nunca me vi tão bonita e gostosa. Parava em frente ao espelho pra me admirar, namorar minhas novas curvas. Meu cabelo, minhas unhas, minha pele: tudo brilhava e crescia forte. O cansaço era forte também, mas os hormônios em demasia circulando a vontade pelo corpo garantiam que a mãe se desenvolvesse sem que a mulher se anulasse. A barriga crescente era um detalhe da nova anatomia. Mesmo sendo obrigada a abandonar o salto meu corpo mudava pra acomodar meu bebê e me fazer radiante e plena de vida, disposição e beleza.

Engordei só 8 kg até o penúltimo mês, a pressão normalizou, trabalhei tranquila até os 9 meses. O último mês foi mais tenso, engordei mais e a pressão alterou, mas no geral foi uma gestação bem tranquila para uma mulher da minha idade, com sobrepeso, hipertensa, recém saída de uma depressão com medicação e cujo trabalho é exaustivo. Fui melhor do que eu mesma imaginava, mas esse mérito não é só meu. Algumas pessoas foram fundamentais para essa fase ser boa, sem elas certamente não teria ótimas histórias pra contar antes de dormir pra minha pequena.

Eu queria um filho dentro do meu casamento, com meu marido, com tudo que nós poderíamos ser e construir para ver nossa pequena família bem. Um dia me vi sem marido, sem possibilidade de ter filhos, atrás de mim uma louca retardada berrando que eu NUNCA teria filhos (sim, a mesma que botava a Bíblia embaixo do braço e dizia viver no nome de Cristo, a hipócrita). Estava só, humilhada, perdida. Entrar em depressão foi inevitável. Sair dela e como sair é que estava nos planos de Deus.

Quando me tornei mãe, no dia em que vi o resultado positivo, soube que não estaria mais sozinha nessa vida. E quando vi minha cria pela primeira vez, do jeitinho que havia desenhado nos meus sonhos mais bonitos, realizei que Deus existe e seu tempo e seu poder são indizíveis: só me restava aceitar e agradecer.

O meu Deus é o Deus do "impossível", do "nunca" e das melhores respostas. ;-)



4, 5, 7 e 9 meses

LN



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