O
tempo parou no exato minuto em que nossos olhares se encontraram. Tudo que
havia entre o céu e a terra deixou de fazer sentido no momento em que conheci o
poder do amor verdadeiro.
Ela
chegou ao mundo num dia bonito, Sol ameno, brisa boa batendo nas costas nuas do
vestido amarelo. O chorinho entrecortado denunciava que os pulmões estavam
ainda cheios de líquido, os olhos amendoados abertos e atentos — os meus olhos.
Sussurrei: “está tudo bem, agora está tudo bem, mamãe está aqui” e senti o
resmungo abrandar de lá e finas lágrimas escorrerem de cá. Eu era amor e
orações, agradecimentos, alívio, felicidade: uma mulher, enfim, completa e
refeita. Havia encontrado minha paz, meu ar fresco, minha razão de viver. Minha
filha.
Ao
longo da gestação tudo foi se transformando. Não é apenas a barriga que cresce.
Ser mãe é mais difícil que ser pai, fisicamente falando, todo o corpo muda. Mas
tem lá suas vantagens. Nunca me vi tão bonita e gostosa. Parava em frente ao
espelho pra me admirar, namorar minhas novas curvas. Meu cabelo, minhas unhas,
minha pele: tudo brilhava e crescia forte. O cansaço era forte também, mas os
hormônios em demasia circulando a vontade pelo corpo garantiam que a mãe se
desenvolvesse sem que a mulher se anulasse. A barriga crescente era um detalhe
da nova anatomia. Mesmo sendo obrigada a abandonar o salto meu corpo mudava pra
acomodar meu bebê e me fazer radiante e plena de vida, disposição e beleza.
Engordei
só 8 kg até o penúltimo mês, a pressão normalizou, trabalhei tranquila até os 9
meses. O último mês foi mais tenso, engordei mais e a pressão alterou, mas no
geral foi uma gestação bem tranquila para uma mulher da minha idade, com
sobrepeso, hipertensa, recém saída de uma depressão com medicação e cujo
trabalho é exaustivo. Fui melhor do que eu mesma imaginava, mas esse mérito não
é só meu. Algumas pessoas foram fundamentais para essa fase ser boa, sem elas
certamente não teria ótimas histórias pra contar antes de dormir pra minha
pequena.
Eu
queria um filho dentro do meu casamento, com meu marido, com tudo que nós
poderíamos ser e construir para ver nossa pequena família bem. Um dia me vi sem
marido, sem possibilidade de ter filhos, atrás de mim uma louca retardada
berrando que eu NUNCA teria filhos (sim, a mesma que botava a Bíblia embaixo do
braço e dizia viver no nome de Cristo, a hipócrita). Estava só, humilhada,
perdida. Entrar em depressão foi inevitável. Sair dela e como sair é que estava
nos planos de Deus.
Quando
me tornei mãe, no dia em que vi o resultado positivo, soube que não estaria
mais sozinha nessa vida. E quando vi minha cria pela primeira vez, do jeitinho
que havia desenhado nos meus sonhos mais bonitos, realizei que Deus existe e
seu tempo e seu poder são indizíveis: só me restava aceitar e agradecer.
LN
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