Que bom que você veio.
Estava mesmo te esperando.
Se eu contar ninguém acredita
(embora tenha contado e tenham acreditado), que nas duas últimas semanas tenho
pensado demais em ti. O motivo, ou os motivos, eu mesma me dei e usei pra
justificar que, sendo só uma fase, haveria de passar. Realmente acredito que vai
passar, mas por ora tem estado muito forte, o que me obriga a por pra fora de
alguma forma, seja na sessão extra da terapia, seja diretamente para você.
Meu parto foi um momento único,
distante anos de tudo que já vivi ou que sonhava viver. Numa das noites mais
tensas do pós-parto, estive com o celular na mão pra te mandar mensagem,
tamanha era a minha aflição. A única coisa que martelava a mente era que você
tinha de estar lá comigo, era dessa forma que deveria ter sido. Engraçado que
durante a gestação eu não senti nada disso, pelo contrário: queria distância de
tudo que dissesse respeito a você. O dia em que botei gente no mundo foi também
o dia em que a mulher que você conhecia se foi. Nada em mim é o mesmo de suas
lembranças, nem corpo, nem mente, nem sentimento. A lagarta metamorfoseou e
dentro de sua pupa sentiu falta de dividir tudo aquilo com você, porque fora
esse o sonho.
Quando tudo acalmou, ou melhor,
quando pus os pés no chão, parece que piorou a “saudade”. Havia algo errado com
aquele sentimento, com o vazio que me tomava quando sentia que deveria estar ao
seu lado de qualquer forma. Sabe, no passado era tão fácil, havia sempre uma
desculpa esfarrapada para fazer contato e estabelecer a comunicação fatal que
acabaria na cama, em lágrimas, em volta, em lágrimas, em fim outra vez. Meios
eu tinha: mensagens não respondidas, assuntos pendentes. A questão era que eu
não deveria, não queria e não fazia sentido algum usar essas “ferramentas”.
Admito, porém, que foi difícil. E aí mora um detalhe que explica muita coisa:
os hormônios que dançavam em mim durante a gestação, me abandonaram após o
parto. Sem hormônios, humor rebaixado, sensações e sentimentos confusos.
Cheguei a ver a foto de um ex de mil anos atrás com a namorada (que eu conheci
e que já estão juntos há quase um ano) e senti ciúmes. Sem noção. Então quando
fui racionalizando essa “saudade” de você, me senti mais a vontade pra
extravasar sem comprometer a minha nova vida, nem atrapalhar a sua.
Às vezes me pegava imaginando a
sua cara de idiota olhando nossa obra de arte. Pensando em como as duas
famílias ficariam felizes e nos ajudariam a ser mais felizes ainda. De uma hora
pra outra tudo que vivi na gestação fui inserindo você. E agora no auge, eu
quase vi você do meu lado, sendo e fazendo tudo que eu sonhava quando nossa
vida era realidade. Quase posso sentir seu nó na garganta lendo isso... Normal,
eu senti também quando o cansaço me pegava firme e minha mente ia longe. Muitas
vezes eu não queria nada demais, apenas conversar com você, contar como estava
sendo minha jornada, rir das suas bobeiras, aproveitar aquele momento mágico em
que você se travestia de “meu melhor amigo” e era a melhor companhia do mundo
pra um bate-papo, daqueles que varavam a madrugada e nenhum dos dois sentia
vontade de ir embora, ou daqueles que terminavam com “vamos tomar um vinho”. E
depois... Enfim.
Analisei friamente todas as
possibilidades de contato direto, todos os canais. Ninguém saberia, ninguém
poderia me julgar. Fraca? Nada, só eu poderia dizer isso. Conversando a
respeito do que estava sentindo, a tal “saudade”, concluí: se aparecer na minha
frente agora, eu pego, sento no chão no chão e como de colher. Numa madrugada
em claro de sábado, a vontade foi mais forte, muito mais que eu e meus “não
podes”: fui na rede social te procurar. E o que se seguiu você não vai
acreditar: quando vi sua foto, recuei de imediato, como se tivesse pisado em
espinhos. Saí correndo e não voltei mais. Passou. Por um tempo e daquela forma,
no tempo verbal passado. Haveria outra forma: futuro. Ou futuro, ou estava
projetando a situação em alguém que não existia, o fato é que estava então hoje
de tarde analisando as possibilidades de contato presencial. O cinema (e um
abraço infinito no corredor escuro da sala, com beijos sem testemunhas), o
motel (porque seria o único local seguro pra quem não pode ser visto junto)...
Quanta viagem, né? Depois disso decidi escrever, e depois que escrevi, passou
finalmente.
Entendo que há um propósito em
tudo que aconteceu e como aconteceu. Aquilo que a gente pensa ser certo, muitas
vezes está longe disso. Se uma simples foto sua me fez desistir, sinal que
nenhum limite já colocado deverá ser ultrapassado, para o bem de todos. E são
muitos.
Por que usei o blog pra lhe falar?
Simples: não quero falar. Contraditório, não? Mas queria que você soubesse. E sei
que você gostaria de saber também. Sabemos muitas coisas... As que ignoramos é
que nos movem, pois as que sabemos nos engessam, nos mutilam, nos transformam
em menos do que podemos ser: estas não merecem nossa atenção. Então que a dúvida
nos faça pessoas melhores: porque nunca saberemos o que poderia ter sido até
que decidamos fazer melhor do que efetivamente pensamos.
Desejo a ti alegrias, amores, paz.
LN
“Cada dia teu, meu calendário”
MV
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