quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Pra você e pra mim

Que bom que você veio.
Estava mesmo te esperando.



Se eu contar ninguém acredita (embora tenha contado e tenham acreditado), que nas duas últimas semanas tenho pensado demais em ti. O motivo, ou os motivos, eu mesma me dei e usei pra justificar que, sendo só uma fase, haveria de passar. Realmente acredito que vai passar, mas por ora tem estado muito forte, o que me obriga a por pra fora de alguma forma, seja na sessão extra da terapia, seja diretamente para você.

Meu parto foi um momento único, distante anos de tudo que já vivi ou que sonhava viver. Numa das noites mais tensas do pós-parto, estive com o celular na mão pra te mandar mensagem, tamanha era a minha aflição. A única coisa que martelava a mente era que você tinha de estar lá comigo, era dessa forma que deveria ter sido. Engraçado que durante a gestação eu não senti nada disso, pelo contrário: queria distância de tudo que dissesse respeito a você. O dia em que botei gente no mundo foi também o dia em que a mulher que você conhecia se foi. Nada em mim é o mesmo de suas lembranças, nem corpo, nem mente, nem sentimento. A lagarta metamorfoseou e dentro de sua pupa sentiu falta de dividir tudo aquilo com você, porque fora esse o sonho.

Quando tudo acalmou, ou melhor, quando pus os pés no chão, parece que piorou a “saudade”. Havia algo errado com aquele sentimento, com o vazio que me tomava quando sentia que deveria estar ao seu lado de qualquer forma. Sabe, no passado era tão fácil, havia sempre uma desculpa esfarrapada para fazer contato e estabelecer a comunicação fatal que acabaria na cama, em lágrimas, em volta, em lágrimas, em fim outra vez. Meios eu tinha: mensagens não respondidas, assuntos pendentes. A questão era que eu não deveria, não queria e não fazia sentido algum usar essas “ferramentas”. Admito, porém, que foi difícil. E aí mora um detalhe que explica muita coisa: os hormônios que dançavam em mim durante a gestação, me abandonaram após o parto. Sem hormônios, humor rebaixado, sensações e sentimentos confusos. Cheguei a ver a foto de um ex de mil anos atrás com a namorada (que eu conheci e que já estão juntos há quase um ano) e senti ciúmes. Sem noção. Então quando fui racionalizando essa “saudade” de você, me senti mais a vontade pra extravasar sem comprometer a minha nova vida, nem atrapalhar a sua.

Às vezes me pegava imaginando a sua cara de idiota olhando nossa obra de arte. Pensando em como as duas famílias ficariam felizes e nos ajudariam a ser mais felizes ainda. De uma hora pra outra tudo que vivi na gestação fui inserindo você. E agora no auge, eu quase vi você do meu lado, sendo e fazendo tudo que eu sonhava quando nossa vida era realidade. Quase posso sentir seu nó na garganta lendo isso... Normal, eu senti também quando o cansaço me pegava firme e minha mente ia longe. Muitas vezes eu não queria nada demais, apenas conversar com você, contar como estava sendo minha jornada, rir das suas bobeiras, aproveitar aquele momento mágico em que você se travestia de “meu melhor amigo” e era a melhor companhia do mundo pra um bate-papo, daqueles que varavam a madrugada e nenhum dos dois sentia vontade de ir embora, ou daqueles que terminavam com “vamos tomar um vinho”. E depois... Enfim.
Analisei friamente todas as possibilidades de contato direto, todos os canais. Ninguém saberia, ninguém poderia me julgar. Fraca? Nada, só eu poderia dizer isso. Conversando a respeito do que estava sentindo, a tal “saudade”, concluí: se aparecer na minha frente agora, eu pego, sento no chão no chão e como de colher. Numa madrugada em claro de sábado, a vontade foi mais forte, muito mais que eu e meus “não podes”: fui na rede social te procurar. E o que se seguiu você não vai acreditar: quando vi sua foto, recuei de imediato, como se tivesse pisado em espinhos. Saí correndo e não voltei mais. Passou. Por um tempo e daquela forma, no tempo verbal passado. Haveria outra forma: futuro. Ou futuro, ou estava projetando a situação em alguém que não existia, o fato é que estava então hoje de tarde analisando as possibilidades de contato presencial. O cinema (e um abraço infinito no corredor escuro da sala, com beijos sem testemunhas), o motel (porque seria o único local seguro pra quem não pode ser visto junto)... Quanta viagem, né? Depois disso decidi escrever, e depois que escrevi, passou finalmente.

Entendo que há um propósito em tudo que aconteceu e como aconteceu. Aquilo que a gente pensa ser certo, muitas vezes está longe disso. Se uma simples foto sua me fez desistir, sinal que nenhum limite já colocado deverá ser ultrapassado, para o bem de todos. E são muitos.

Por que usei o blog pra lhe falar? Simples: não quero falar. Contraditório, não? Mas queria que você soubesse. E sei que você gostaria de saber também. Sabemos muitas coisas... As que ignoramos é que nos movem, pois as que sabemos nos engessam, nos mutilam, nos transformam em menos do que podemos ser: estas não merecem nossa atenção. Então que a dúvida nos faça pessoas melhores: porque nunca saberemos o que poderia ter sido até que decidamos fazer melhor do que efetivamente pensamos.


Desejo a ti alegrias, amores, paz.

LN


“Cada dia teu, meu calendário”
MV

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