Fiquei
tentando achar respostas por muito tempo, muita energia gasta, muitas noites em
claro, muitos momentos de distração buscando explicações pra tudo, pra tanta
coisa, pra qualquer coisa, simplesmente porque eu achava, ou melhor, tinha
certeza de que tudo deveria ter uma resposta.
Estou
aqui sentada, ainda é dia. Atrás de mim uma criança barulhenta corre, chama a
avó, se esconde, vê desenho barulhento de uma menina curiosa, que precisa
saber, que quer saber! Minha criança de 1 ano vê um desenho de uma menina de 6
anos que busca respostas pra tudo, seja da mistura de cores até do que são
feitos os anéis de Saturno. Ela tinha apenas 4 meses quando deu sinais de que
gostava desse desenho Show da Luna. Eu aprendi a gostar também. Assisto, canto,
aprendo, acho respostas para perguntas que nunca fiz. No final de cada
episódio, Luna volta a se questionar sobre outras coisas e diz “são tantas
perguntas!”
♥
Nesse
feriado, a tia da minha filha me chamou baixinho pra ir até a sala. Lá
cochilavam ela e o pai, agarrados, ela no compasso da respiração e apoiada na
barriga dele. Assistiam ao Show da Luna, desenho favorito dela, e adormeceram.
Não me demorei vendo a cena, no meu peito rapidamente se formou um nó, dei as
costas e voltei pra cozinha. Mordi o lábio, engoli e segurei a emoção de ver
aquelas “respostas” tomando forma.
Quando
a noite caiu, a vida pregadora de peças, me deixou frente a frente com o pai
dela como se nada tivesse acontecido nesse tempo. E eu me senti a vontade pra
falar, pra desabafar, sem cobrança, sem mágoa, sem peso, sem misturar
sinceridade com raiva. Apenas falei. E deixei que o espaço vazio fosse
preenchido de amor, de perdão, de paz. Quando vi, estávamos sentados na beirada
da cama, no escuro, só a luz da rua divisando o rosto dele. Por um momento
éramos apenas duas pessoas que se conheceram há dois anos e meio, conversando
sobre tudo outra vez. A diferença é que no meio da cama dormia nossa cria, sono
pesado e respiração profunda de quem tinha passado um dia maravilhoso de
bagunça da infância mais feliz que alguém poderia ter. E eu me senti orgulhosa
de mim. Nada daquilo era resposta que eu busquei, mas esclarecia muita coisa.
Um
beijo de boa noite dado, outro em retribuição. E uma madrugada fria pra
repassar tudo até mergulhar num mundo ideal em que os problemas não existem
chamado sono, onde tampouco existem respostas.
♦
No
final do dia seguinte, já em casa, repassei tudo, aquietei a mente e lá veio
nova leva de questionamentos. Dessa vez não meus. Estava pensando nela e no
dilema que ela vive. Mais uma vez lembrei da Luna e seus experimentos pra
encontrar respostas. Que necessidade que a gente tem de querer saber tudo!
Certa vez uma amiga me disse que nós não precisamos saber tudo. Essa fala me
deixou encucada, mas ao mesmo tempo um portal se abria diante de mim.
Lentamente, ano após ano, se desenhava a grande resposta, aquela que eu sempre
busquei. Dito isso, ver essa mulher linda e forte, inteligente e sábia, com
esses questionamentos foi o último estágio de atravessar o portal. Todas nós
precisamos saber, queremos saber, acho até que isso nunca vai deixar de ser.
Mas a questão é: o que queremos saber e o que faremos com a resposta?
Queria
dizer isso à ela, só não sei se já é o momento pra ela absorver o que eu tenho
a dizer. Existe isso também: o tempo de cada um. Quando a outra amiga me disse
lá em 2012 que não precisávamos saber tudo, eu não absorvi de imediato também.
E talvez ela tivesse outras coisas a me dizer, mas tenha percebido que não era
o meu momento de ouvi-las.
Da
mesma maneira não sei se é o momento de dizer a outra mulher, de perguntar o
que ela fará com as respostas.
A
gente vive de dúvidas, elas nos impulsionam a buscar mais e conhecer mais: as
dúvidas não nos permitem estagnar. O portal que atravessei foi esse em que
descobri, finalmente, que nem tudo tem resposta, nem tudo tem de ter resposta
e, fundamentalmente, que respostas podem ser inúteis quando não sabemos
exatamente quais dúvidas temos. É importante saber o que buscar e o que esperar
dessa busca, caso contrário, tudo se torna frustração, lágrimas, dor e mais
dúvida.
Quando
vi minha filha cochilando com o pai, quando eu estive a sós com ele...
Respostas que um dia eu quis achar sem nem saber quais eram as perguntas
certas. E no fundo entendi que não havia pergunta nenhuma a ser feita. Entendi
que a menina de 6 anos que precisa saber não se compara a mulher que já sabe,
porque a mulher entende e isso basta. Nem tudo tem de ter resposta, nem tudo
precisa ser perguntado, mas de uma forma ou de outra, em algum momento a gente
entende tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por vir e por ler!
Fique a vontade para comentar, sua opinião é muito bem-vinda.