segunda-feira, 16 de junho de 2014

Guerra de um trono só

“Ele perdeu tudo. Ele vai escapar para algum lugar seguro, mas o que vai fazer lá? Ele perdeu seu cargo, sua posição na Casa dos Lannisters, todo o seu dinheiro. Por mais que ele tenha tido desvantagens na vida por ser um anão, ele tinha a vantagem de ter um sobrenome poderoso e tradicional e de ter todo o ouro que queria para comprar coisas - inclusive seguidores como Bronn e outras pessoas para defendê-lo. Agora ele perdeu tudo isso”, diz Martin, acrescentando uma trama que só é vista no livro: “Ele também descobriu que Jaime, seu único laço de sangue que o ama e o defende, também teve um papel nesse momento traumático de sua vida, nessa traição. Ele está tão machucado que quer machucar outras pessoas”, explica o autor.


Grifo meu.

A resposta chega como um tapa na cara: sem esperar, assusta e dói — e acorda pra vida.

Talvez eu tenha passado os últimos dias tentando entender o motivo das atitudes de uma pessoa que tinha tudo nas mãos para ser nada menos que feliz. Não queria mais nada, apenas entender. O entendimento me ajuda a perdoar. Não preciso culpar, isso não melhoraria nada e muito pelo contrário, me traria ainda mais motivo pra guardar mágoa, nutrir raiva e outros sentimentos ruins. Não quero, não preciso. Quero deixar a brisa fresca soprar meu rosto, levantar a barra da minha saia e me tirar do chão: quero ser leve.

Queria encontrar nas palavras daquele e-mail a razão pra tanta dor causada, pra tanta incompreensão, tanto sofrimento. Não queria ajudar mais, isso é bem verdade, só queria achar a razão que levou e leva alguém a dar com a cabeça na parede repetidas vezes, até machucar, até sangrar, até ver o outro lado. Quem sabe com a causa clara eu conseguisse aceitar as consequências sem maiores traumas?

Sinto uma pena profunda, tão intensa que me custa crer que foi um casamento. Muitas vezes me pego sentindo como se fosse a madrasta má que abandonou um órfão no mundo. Não foi, sei que não. Infelizmente razão, sentimento e percepção do outro não caminham de mãos dadas.

Meu amor por maior que fosse, minha dedicação por mais abnegada que fosse, nada taparia o buraco existente nele. Pelo menos nada meu, nada em mim, nada que dependesse de mim. Fosse o que fosse, havia começado antes que eu chegasse.

E compartilhar esse vazio tampouco o amenizou. Acho que se tornou pior, pois o buraco aumentou em não poder corresponder ao que eu necessitava e queria. Não apenas comigo: não correspondia aos anseios de ninguém. Nem aos dele.

E não havia amor de fato, a nova terapeuta concluiu por mim: há pena, cuidado, medo. Amor é outra coisa.

Assim essa frase me pegou hoje, como um violento tapa no rosto, que me tirou todas as certezas, me deixou solteira de dúvidas. O escritor lida com personagens, seres fictícios que carregam em si sentimentos bem reais, caso contrário jamais poderiam existir, nem mesmo na fantasia. Sentimentos como esses que nem ousamos admitir, dor, vazio, nada. Um buraco onde se joga muita coisa e nenhuma delas fica, simplesmente porque não há fundo, não há limite, não há sequer motivo para que fiquem. Nem eu fui capaz de ficar num vazio onde eu não cabia porque era excesso.
Nem eu.


LN

Leia a matéria completa em: site do Jornal O Globo

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