“Ele perdeu tudo. Ele vai escapar para
algum lugar seguro, mas o que vai fazer lá? Ele perdeu seu cargo, sua posição
na Casa dos Lannisters, todo o seu dinheiro. Por mais que ele tenha tido
desvantagens na vida por ser um anão, ele tinha a vantagem de ter um sobrenome
poderoso e tradicional e de ter todo o ouro que queria para comprar coisas -
inclusive seguidores como Bronn e outras pessoas para defendê-lo. Agora ele
perdeu tudo isso”, diz Martin, acrescentando uma trama que só é vista no livro:
“Ele também descobriu que Jaime, seu único laço de sangue que o ama e o
defende, também teve um papel nesse momento traumático de sua vida, nessa
traição. Ele está tão machucado que quer
machucar outras pessoas”, explica o autor.
Grifo meu.
A resposta chega como um tapa na cara: sem
esperar, assusta e dói — e acorda pra vida.
Talvez eu tenha passado os últimos dias
tentando entender o motivo das atitudes de uma pessoa que tinha tudo nas mãos
para ser nada menos que feliz. Não queria mais nada, apenas entender. O
entendimento me ajuda a perdoar. Não preciso culpar, isso não melhoraria nada e
muito pelo contrário, me traria ainda mais motivo pra guardar mágoa, nutrir
raiva e outros sentimentos ruins. Não quero, não preciso. Quero deixar a brisa
fresca soprar meu rosto, levantar a barra da minha saia e me tirar do chão:
quero ser leve.
Queria encontrar nas palavras daquele
e-mail a razão pra tanta dor causada, pra tanta incompreensão, tanto
sofrimento. Não queria ajudar mais, isso é bem verdade, só queria achar a razão
que levou e leva alguém a dar com a cabeça na parede repetidas vezes, até
machucar, até sangrar, até ver o outro lado. Quem sabe com a causa clara eu
conseguisse aceitar as consequências sem maiores traumas?
Sinto uma pena profunda, tão intensa que
me custa crer que foi um casamento. Muitas vezes me pego sentindo como se fosse
a madrasta má que abandonou um órfão no mundo. Não foi, sei que não.
Infelizmente razão, sentimento e percepção do outro não caminham de mãos dadas.
Meu amor por maior que fosse, minha
dedicação por mais abnegada que fosse, nada taparia o buraco existente nele.
Pelo menos nada meu, nada em mim, nada que dependesse de mim. Fosse o que
fosse, havia começado antes que eu chegasse.
E compartilhar esse vazio tampouco o
amenizou. Acho que se tornou pior, pois o buraco aumentou em não poder
corresponder ao que eu necessitava e queria. Não apenas comigo: não
correspondia aos anseios de ninguém. Nem aos dele.
E não havia amor de fato, a nova terapeuta
concluiu por mim: há pena, cuidado, medo. Amor é outra coisa.
Assim essa frase me pegou hoje, como um
violento tapa no rosto, que me tirou todas as certezas, me deixou solteira de
dúvidas. O escritor lida com personagens, seres fictícios que carregam em si
sentimentos bem reais, caso contrário jamais poderiam existir, nem mesmo na
fantasia. Sentimentos como esses que nem ousamos admitir, dor, vazio, nada. Um
buraco onde se joga muita coisa e nenhuma delas fica, simplesmente porque não
há fundo, não há limite, não há sequer motivo para que fiquem. Nem eu fui capaz
de ficar num vazio onde eu não cabia porque era excesso.
Nem eu.
LN
Leia a matéria completa em: site do Jornal O Globo
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