Há
momentos que basta lançar um olhar diferente sobre a mesma coisa para que tudo
mude.
Há
anos peguei o filme “Dança comigo” na locadora. Vi sozinha em casa, achei
interessante, mas não encontrei nada de especial que me prendesse a história.
Passado um tempo, vi novamente na tv a cabo. Tornei a ver pedaços em outros
momentos, mais por falta de opção que por vontade de rever.
Depois
de um insuportável dia comigo mesma, depois de arrumar casa, tirar o lixo,
organizar coisas, roupas e andar pela casa procurando o que fazer; depois de
tentativas dos amigos de melhorar meu humor com foto da minha bala favorita,
com piadas, com ligações (que eu não atendi), com mensagens carinhosas; depois
de aprender sozinha a baixar seriados e assistir a três episódios de Game of
Thrones... Mesmo depois de tudo isso, o dia não melhorou. A única ligação que
deixei passar, também me deixou algo irritada. É...
Liguei
a tv e lá estava o filme “Dança comigo”. Novamente sem opção melhor na grade,
só filme de violência, ação, terror, esse era o mais leve.
Vi
o filme todo até o final. As lentes de contato começaram a incomodar e tive que
tirá-las e assistir ao último bloco do filme bem pertinho da tv. Talvez tenha
sido isso. Quanta coisa passou a fazer sentido! E no fim do filme, uma música
linda que furou o bloqueio da minha couraça emocional.
Enquanto
o casal dançava, a música penetrava por alguma fresta, algum furo nessa
blindagem invisível.
Já
estava indo dormir, fui ao banheiro, escovei os dentes e a música continuava
martelando na mente. Decidi que o sono não seria tranquilo se não visse a letra
da música. Ainda tentei me driblar fazendo a busca pelo celular, sentada no
sofá para não cair em tentação de ir ao computador e perder tempo com rede
social e ser obrigada a ignorar as pessoas que quereriam conversar. Não
funcionou, tive que ir ao computador. No curto espaço entre o sofá e a cadeira,
senti o meio da testa enrugando enquanto os lábios se espremiam numa vã
tentativa de conter o que estava pra acontecer. De certo modo não tentei ser
forte, apenas deixei. Num soluço rápido e fundo elas vieram. Eram tão quentes,
como se estivessem há muito presas, esquentando. Encontrei a música que me
tocou ainda com a visão turva pelas lágrimas que caíam inadvertidamente.
Quando
tudo se acalmou, vi a letra e a tradução. E finalmente tudo fez completo sentido: o dia
ruim, as lágrimas, a música.
Ser
forte muitas vezes significa amadurecer, mas o sofrimento também faz parte do
crescimento. Ignorar a dor não a faz cessar. É como a água da chuva recém caída:
apenas o tempo se encarrega de evaporá-la das ruas, dos telhados, das janelas.
Um
filme, uma música. E uma chuvinha morna lavando as minhas janelas.
LN
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