terça-feira, 4 de março de 2014

Perdas


Os anos passam e a gente entende tanta coisa, como começa, os meios e o fim de cada uma. Entender a gente entende, o difícil mesmo é se acostumar quando as coisas acontecem, ainda que no tempo determinado por Deus. 

Tarde de sábado, depois do almoço que saía religiosamente ao meio-dia em ponto, assistíamos televisão e mais tarde ouvíamos música. Na sala ele afastava a mesa pro lado e tínhamos então bastante espaço para dançar. Ela sentava para ver e animar e bater palmas e cantar junto com Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara e Paulinho da Viola, enquanto ele me rodopiava, enquanto eu sambava no pé, enquanto ele me olhava com um sorriso e cantava pra mim. Eu, minha avó Maria José e meu avô Nilton.

Tarde de domingo, no quartinho das ferramentas e material que segundo ele “ainda servia ou serviria”, sentada no banquinho ao lado dele eu ouvia as histórias do Ceará, da família que não conheci, mas me enchia de curiosidade, de um tempo difícil, de fome e dificuldade que colocava todos os meus problemas no chinelo. Eu e meu avô Cícero.





Com intervalo de apenas uma semana, ambos se foram de volta ao Pai. Ambos me deixaram... Mas deixaram também uma pessoa forte porque recebeu de ambos as melhores experiências que avôs podem dar. Ambos tiveram muitos erros, não foram santos, eram seres humanos normais apenas. Já me arrancaram momentos de dor, de sofrimento, mas se eu for pensar em coisas ruins, esqueço de aproveitar o melhor: as lições de vida e os sorrisos que me deram.

Hoje só quero agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de viver com eles. E que possam se orgulhar de mim de onde estiverem, da mesma forma que eu me orgulho deles.

Obrigada, Marola e Seu Ciço!



A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Santo Agostinho

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