segunda-feira, 22 de abril de 2013

E que valha a pena, sempre!



Senti dor no peito, uma dor anormal, absurda. Revirei na cama, orei, tentei ignorar, mas nada passava, e eu pensei: aqui, sozinha, no escuro, longe dos meus, sem ajuda, chegou a hora, vou morrer.


Levantei da cama, poderia ser apenas rejeição a dormir. Não era. Liguei pra uma, duas pessoas. Três pessoas depois, um banho, outra roupa e eu estava acompanhada num táxi a caminho do hospital.

O lado esquerdo do corpo formigava e enquanto o carro avançava pelas ruas vazias naquela madrugada fria de sábado, eu pensava no que estava deixando para trás. Nada. Concluí que eu não tinha nada para deixar, o que quer que acontecesse, o que tenho de mais precioso estava comigo: o amor, as lembranças, conhecimento. Não ficaria nada para contar, no máximo um “nossa, tão jovem!” e algumas poucas risadas das minhas loucuras.

A cabeça doía do lado esquerdo e eu ficava imaginando o que poderia ser, se afetaria minhas funções intelectuais ou motoras. Passamos por um grupo de meninas de seus 15 anos a caminho do baile funk e eu me lembrei da época em que sentir esse tipo de coisa era inimaginável na minha vida. Aos 18 anos eu tinha um corpo tão perfeito que não dava pra sonhar em algum tipo de doença nele. Quando ia ao baile funk e destruía os corações alheios com aquele pedaço de pano que eu chamava de saia, não pensava que um dia o meu coração estaria dolorido também, só que fisicamente.

Engraçado como as 2h30 da manhã as ruas parecem tão tristes em comparação ao calor do dia... Parece que nada tem vida. Assim como eu, naquele táxi, temendo estar nos últimos minutos da minha. E no primeiro hospital não havia médico, no segundo iria depender da minha queixa. Ah, coração? Então espera que vou chamar o médico que está dormindo. Jaleco sujo, manchado, olhos injetados como quem estivesse... dormindo! Toma uma dipirona e faz exame de sangue. Mas a dor é no coração... “Próximo!” Assim o médico sujo e sonolento me dispensou e mostrou que, fosse o que fosse que eu estivesse sentindo, não fazia a menor diferença pra ele.

Engoli o choro, tomei a dipirona na veia — o enfermeiro teve mais cuidado comigo que o médico — e desisti de fazer exame de sangue. Eu sabia que não era dengue. Mas ainda que eu quisesse, não havia ninguém no laboratório para colher. Então fomos embora. Ele me deixou no caminho, pois iria para outro lado e eu segui o restante do caminho no táxi, sozinha, com medo, com frio, lágrimas rolando silenciosamente.

Descansei algumas horas e levantei sentindo a mesma coisa. Ok, era de dia, eu precisava fazer algo. Enquanto eu me arrumava o telefone tocava: pessoas ainda preocupadas comigo. Pensei em tantas coisas nessas horas... Há exatamente um ano atrás eu tinha um plano de saúde ótimo, um emprego que amava, um marido que... bem, ao menos não estaria sozinha. Hum... dúvidas.

Diferente da madrugada, o atendimento demorou mais, porém foi outro nível de profissionais. Da enfermeira ao médico, era outro mundo. Atenção, limpeza, respeito a mim e ao exercício da profissão. Não havia muito que ser feito de fato, só um acompanhamento médico especializado poderia determinar causa e tratamento, mas por enquanto, outro furo no outro braço com mais remédio pra segurar no laço esse touro que é a minha pressão.


Não havia o que fazer, só aguardar. E comigo, naquela tarde de sábado, após um dia inteiro no hospital, cansada, com fome e assustada, esteve uma das pessoas que se preocuparam. O rádio bem alto, suco de uva, risos e por do sol na varanda.
Isso acalmou muita coisa, inclusive a minha sensação de que o fim estava próximo. Não passou ainda e talvez jamais passe, pois sei que não há certeza maior do que a morte nesta vida, mas amenizou.


E pra quem pensava que ao exagerar na bebida, uma das piores coisas que poderia fazer era mandar sms pro ex, nem imagina o que passa pela cabeça fazer quando se está nessa situação limite em que o medo é muito mais forte que saudade, carência, mágoa, tudo junto. Desagradável. Por sorte me controlei.


Chamei pessoas de amigas e elas não passavam de colegas que dividiram uma mesa de bar comigo. E outras pessoas eu só disse que não estava me sentindo bem, e estavam do meu lado, de corpo presente e em oração.
Obrigada Leni, Pedro, Carlos, Fernanda e Francis, por segurarem a onda comigo.


Perdi o sono essa noite. Não eram 2h00 quando me sentei aqui e agora o Sol alto no céu me diz que outro dia começou. Não quero pensar, só preciso me concentrar em não desistir. Admitir derrota nunca foi meu forte. E que venham exames — o medo continua — farei o que estiver ao meu alcance pra que valha apena todo o tempo que Deus me disponibilizar nessa vida.

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