Senti dor no peito, uma
dor anormal, absurda. Revirei na cama, orei, tentei ignorar, mas nada passava,
e eu pensei: aqui, sozinha, no escuro, longe dos meus, sem ajuda, chegou a
hora, vou morrer.
Levantei da
cama, poderia ser apenas rejeição a dormir. Não era. Liguei pra uma, duas
pessoas. Três pessoas depois, um banho, outra roupa e eu estava acompanhada num táxi a
caminho do hospital.
O lado esquerdo
do corpo formigava e enquanto o carro avançava pelas ruas vazias naquela
madrugada fria de sábado, eu pensava no que estava deixando para trás. Nada.
Concluí que eu não tinha nada para deixar, o que quer que acontecesse, o que
tenho de mais precioso estava comigo: o amor, as lembranças, conhecimento. Não
ficaria nada para contar, no máximo um “nossa, tão jovem!” e algumas poucas
risadas das minhas loucuras.
A cabeça doía do
lado esquerdo e eu ficava imaginando o que poderia ser, se afetaria minhas
funções intelectuais ou motoras. Passamos por um grupo de meninas de seus 15
anos a caminho do baile funk e eu me lembrei da época em que sentir esse tipo
de coisa era inimaginável na minha vida. Aos 18 anos eu tinha um corpo tão
perfeito que não dava pra sonhar em algum tipo de doença nele. Quando ia ao
baile funk e destruía os corações alheios com aquele pedaço de pano que eu
chamava de saia, não pensava que um dia o meu coração estaria dolorido também,
só que fisicamente.
Engraçado como
as 2h30 da manhã as ruas parecem tão tristes em comparação ao calor do dia...
Parece que nada tem vida. Assim como eu, naquele táxi, temendo estar nos
últimos minutos da minha. E no primeiro hospital não havia médico, no segundo
iria depender da minha queixa. Ah, coração? Então espera que vou chamar o
médico que está dormindo. Jaleco sujo, manchado, olhos injetados como quem
estivesse... dormindo! Toma uma dipirona e faz exame de sangue. Mas a dor é no
coração... “Próximo!” Assim o médico sujo e sonolento me dispensou e mostrou
que, fosse o que fosse que eu estivesse sentindo, não fazia a menor diferença
pra ele.
Engoli o choro,
tomei a dipirona na veia — o enfermeiro teve mais cuidado comigo que o médico —
e desisti de fazer exame de sangue. Eu sabia que não era dengue. Mas ainda que
eu quisesse, não havia ninguém no laboratório para colher. Então fomos embora.
Ele me deixou no caminho, pois iria para outro lado e eu segui o restante do caminho no táxi,
sozinha, com medo, com frio, lágrimas rolando silenciosamente.
Descansei
algumas horas e levantei sentindo a mesma coisa. Ok, era de dia, eu precisava
fazer algo. Enquanto eu me arrumava o telefone tocava: pessoas ainda
preocupadas comigo. Pensei em tantas coisas nessas horas... Há exatamente um
ano atrás eu tinha um plano de saúde ótimo, um emprego que amava, um marido
que... bem, ao menos não estaria sozinha. Hum... dúvidas.
Diferente da
madrugada, o atendimento demorou mais, porém foi outro nível de profissionais.
Da enfermeira ao médico, era outro mundo. Atenção, limpeza, respeito a mim e ao
exercício da profissão. Não havia muito que ser feito de fato, só um acompanhamento
médico especializado poderia determinar causa e tratamento, mas por enquanto,
outro furo no outro braço com mais remédio pra segurar no laço esse touro que é
a minha pressão.
Não havia o que
fazer, só aguardar. E comigo, naquela tarde de sábado, após um dia inteiro no
hospital, cansada, com fome e assustada, esteve uma das pessoas que se
preocuparam. O rádio bem alto, suco de uva, risos e por do sol na varanda.
Isso acalmou
muita coisa, inclusive a minha sensação de que o fim estava próximo. Não passou
ainda e talvez jamais passe, pois sei que não há certeza maior do que a morte
nesta vida, mas amenizou.
E pra quem
pensava que ao exagerar na bebida, uma das piores coisas que poderia fazer era
mandar sms pro ex, nem imagina o que passa pela cabeça fazer quando se está
nessa situação limite em que o medo é muito mais forte que saudade, carência,
mágoa, tudo junto. Desagradável. Por sorte me controlei.
Chamei pessoas
de amigas e elas não passavam de colegas que dividiram uma mesa de bar comigo.
E outras pessoas eu só disse que não estava me sentindo bem, e estavam do meu
lado, de corpo presente e em oração.
Obrigada Leni,
Pedro, Carlos, Fernanda e Francis, por segurarem a onda comigo.
Perdi o sono
essa noite. Não eram 2h00 quando me sentei aqui e agora o Sol alto no céu me
diz que outro dia começou. Não quero pensar, só preciso me concentrar em não
desistir. Admitir derrota nunca foi meu forte. E que venham exames — o medo
continua — farei o que estiver ao meu alcance pra que valha apena todo o tempo
que Deus me disponibilizar nessa vida.
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