quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Pingos de rio

Tantos altos e tantos baixos, alguns com velocidade assustadora, outros com demora cruel. Há dias que a felicidade é uma luz azul clara emanando do corpo e brilhando em qualquer direção. Há dias que a tristeza é companheira, uma amiga inseparável.

Tem coisa que ainda dói, assim como outras não fazem mais sentido. E o que fez sorrir, bem, isso não morre nunca: não se deve desprezar motivos para sorrir, ainda que não existam mais — pode ser a salvação de uma vida.

E lá se vai quase um ano...




Eu só gostaria que tudo isso fosse possível de registrar em mais palavras, porém ainda me sinto limitada para tamanha façanha. Não apenas por não me sentir capacitada a escrever, mas muito mais por não me sentir a vontade de registrar essas gotas de felicidade e esses oceanos de dor que anos têm me proporcionado. Engana-se quem pensa que por ser gota, a felicidade é menos poderosa que a dor. E muito menos a dor é mais intensa por ser oceano. De gota em gota pode se esvair um oceano, bem como pode se formar outro. Tudo depende do ponto de vista.



Há quase três semanas vi o ex na rua, e sabendo que ele não me via, tive a oportunidade de continuar olhando, tentar descobrir mais sobre as pessoas ao seu redor. Simplesmente não senti vontade. Podia, mas não queria. É o momento que a pergunta “Para quê?” funciona como antídoto para muitos dos erros cometidos nesta caminhada. E não se trata de se obrigar a não querer, mas sim de deixar a vontade decidir, e ela resolveu que não havia razão em seguir alguém que bem não poderia fazer. Quando ele se foi levou consigo dois dos meus melhores sonhos, e isso me deixou num oceano de tristeza, profundo, escuro e gelado. Em contrapartida fiquei com a cama, o travesseiro e o sono, que me permitem ter outros sonhos — assim faço dessas gotinhas ótimos motivos para sorrir toda vez que se realizam.



Há cerca de um mês dei o grito de liberdade. Foi necessária muita coragem, alguns podem pensar, mas eu prefiro acreditar que foi mais que isso: foi uma prova de autoconhecimento, da pessoa e da profissional que me tornei, ou melhor, que estou construindo. Havia um oceano de inquietude, de nervosismo, de injustiça. Cortei o mal pela raiz, certa de que haveria consequências (ou não) e que outra forma não haveria de manter minhas gotas de paz e lucidez.





No último fim de semana, nova viagem para Cabo Frio. Dessa vez, diferente dos últimos seis anos, não havia sequer uma nota de amargura durante as três horas do trajeto mais que conhecido. Música, Sol batendo na janela, depois chuva, pipoca, fotos. Paz aguda em mim. Dois dias de maxilar dolorido de tanto gargalhar! Mais gotas: muita conversa, carinho fortalecido, samba no pé, catorze taças de vinho de morango, beijos, amigos novos, pizza de quatro queijos, uma breve escapulida aos 18 anos de idade — válida e necessária, uma jovem senhora vivendo sem amarras, nem regras, só vivendo e deixando que outro corpo saboreasse toda a vida que ainda pulsava frenética nela — ventinho bom desarrumando os cabelos. Gotas que transbordam cada vez que a lembrança me leva aos sorrisos.





São passos que fazem a caminhada. São gotas que fazem chuva, que fazem rios, que fazem oceanos. É do pouco, do simples, que se tira o prazer em ter tudo.





Lucille


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