quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sono sem sonhos, realidade sem presente



Chega uma hora que tudo que você quer é ser forte o bastante para não querer mais nada.


Começou com um aborrecimento aqui, outro ali. Meu trabalho sempre foi a tábua de salvação para todos os problemas, especialmente os insolúveis, simplesmente porque ali eu era fundamental, necessária, importante. Eu era eu e desse jeito funcionava. O lugar é tão importante quanto minha profissão, afinal, você não realiza nada só, é necessário uma equipe, estrutura, planejamento, apoio, respaldo. Motivação vinda do sorriso, da correção do erro, do agradecimento. Isso é o que me move, o que me faz levantar todos os dias, muitas vezes com poucas horas de sono, com dor, com chuva, com calor e abraçar a missão que tanto amo. E de repente, o céu ficou escuro: não tinha mais salvação e nem ao menos tábua.

O corte profundo sofrido na alma fazia uma dor que era amenizada somente nesse momento. Um dia de trabalho chegava a durar 12, 14 horas. Nunca reclamei, muito pelo contrário, me fazia bem ter onde ir, o que fazer, mergulhar a mente em águas escuras e forçar a mente a esquecer que havia um ser humano sofrendo em mim.

Então veio outro corte: não havia mais liderança, apoio, motivação. Outro corte; covardia. Medo, muitas lágrimas, noites em claro. Uma pessoa que eu aprendi a gostar, parecida comigo no que eu sabia, diferente de mim no que podia me ensinar, uma grande líder. Sem chance de defesa. Que “justiça” é essa para a qual nós advogamos que não permite que o acusado seja ao menos ouvido? E as provas, testemunhas? Apenas um dedo acusador é o bastante? Contrassenso.

Tudo foi posto a prova, inclusive minha capacidade. Em verdade, a capacidade de quem saiu e de quem ficou. Desculpe, quem ficou só está aqui por causa de quem saiu, não tem como separar a qualidade.

Então havia dois cortes abertos, sangrando e nada mais para estancar. Um abraço amigo ajuda, um beijo numa tarde de sábado também, mas é tão fundo, tão fundo que o curativo não alcança a raiz da dor — passa momentaneamente e depois volta a dilacerar a alma, o coração.

Corpo dói, cabeça acompanha o ritmo nessa batucada frenética. Resistência até onde pude, mas o veredicto do médico deixou a situação bem clara: pressão 15 x 9, hora de parar. Licença médica, uma tarde de lágrimas, exame marcado, 48 horas de repouso domiciliar. Parece triste, aterrorizante, não? E é, mas nada se compara a quem deveria ao menos se compadecer do seu momento disparar: “preparou minha planilha do orçamento?”.

Passei o início dessa noite tentando manter a mente calma, embora saiba que não é o suficiente.
Não quero mais ser profissional, quero ser mãe, esposa, dona de casa. Quero escrever meu livro enquanto meu filho dorme ou vai pra escola. Já cheguei ao momento de pedir demais?

Quando um homem fechou a porta, me tirou brutalmente algo com que sonhar. Outro homem me tirou igualmente algo em que me apoiava quando o sonho virou pesadelo. E tenho tentado segurar os fiapos, remendar aqui e ali. Tem sido difícil... Hoje queria só ter nas mãos o poder de ignorar os sentimentos e não querer mais essas coisas, nem trabalho, nem família, nem nada que um dia já tenha me feito sorrir.

Quero chorar.

LN

Um comentário:

Gustavo Inácio disse...

ainda sou um dos leitores mais fiéis desse blog... e aqui tenho um contato distante de uma pessoa que eu queria tão perto.

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