domingo, 16 de dezembro de 2012

Quem dá o tom da caminhada

A caminhada não tem sido fácil, e nem ao menos dá sinais de que vá ficar. Viver não é lá tarefa das mais descomplicadas, do tipo que se realiza após uma verificada no manual de instruções ― simplesmente porque não existe um. E se talvez existisse, desconfio que diria apenas: faça tudo conforme determinar seu coração.

A vida não foi ajustada para a razão, apesar de toda a tentativa de transformar o dia num monte de atitudes sensatas e politicamente corretas. O coração domina, manda, rege. Ir contra ele é um grande erro, afinal, o valor das coisas se dá justamente por sua inexatidão sentimental e não por sua aparente lógica racional. O ser humano é sentimental com pitadas de racionalidade, sim, pitadas, que são fortes e desesperadas buscas pela aceitação alheia. O que, convenhamos, nem sempre é tão necessária assim quanto pensamos que seja.

O coração é um bom conselheiro, uma pena que o desejo de parecer uma pessoa dita “normal” perante uma sociedade nos prive de darmos total atenção a ele.

Preambulando antes de entrar no que de fato eu gostaria de dizer, pensei nisso nesse momento, para enfim dizer porque meu sentimento tem sido um aliado fiel. Minha profissão lida com a formação complexa do ser humano: biopsicossocialmente falando, e, para tanto, eu preciso entender e aceitar essa minha condição de ser humano também. Quando consegui ― e ainda estou na luta ― compreendi qual meu papel enquanto profissional. Invariavelmente sigo meu coração quando me proponho a realizar alguma tarefa para a qual sou designada. O conhecimento, a experiência e a vontade de fazer certo são aliados, mas é o sentimento quem mostra o caminho a seguir e faz com que tudo se encaixe de forma a alcançar um bom resultado.

Sou elo de uma grande corrente chamada Organização, faço ponte, sou ligação, uno interesses, represento desejos. Mas não sou apenas eu: juntamente com a minha equipe, eu sou RH. Posso dominar as técnicas, conhecer os parâmetros e leis, mas sozinha de nada me adianta tudo isso.

A razão me mostra diversos caminhos, possibilidades e até mesmo algumas formas de utilizar o momento ruim para subir na carreira. E o coração me diz apenas: hora de continuar a caminhada. Meu sentimento é de perda, mas também de gratidão. Meu sentimento é de injustiça, mas também de conclusão. Meu sentimento é de revolta, mas também de orgulho. Eu fiz parte de uma equipe unida, honesta, leal, alegre, louca, simples, tão diversa e ao mesmo tempo parecida, consciente, respeitosa e fundamentalmente humana. Eu sou um pouco delas três e sei que em algum lugar delas tem algo de mim ― que espero seja minha parte boa. Ficar sem uma grande líder e uma companheira excepcional foi um golpe duro. Muito mais duro foi entender que nada havia que minha indignação pudesse fazer, logo eu que tantas e tantas vezes vendi uma imagem de justiça sofrendo com a mão pesada da injustiça.

Meu coração chorou, meu corpo chorou também, minha alma se sentiu perdida. Minha razão teria motivos para aproveitar, afinal o conhecimento está na minha mão, mas a dignidade faz parte da minha formação. A razão me diz que eu posso usar e abusar, pedir, ordenar, ditar regras. Sou detentora do conhecimento que fica. Então deixei o coração soluçar todas as vezes que quis, que precisou. Deixei a dor sair pelos poros, pelos olhos. Permiti que meu coração calasse a razão. E quando tudo se aquietou, ele tornou a dizer: aqui mando eu.

Tomei uma decisão baseada apenas em sentimentos. O primeiro deles, sem dúvida, é de perda de identidade, de norte, de sentido. Não existe time sem técnico, barco sem capitão, e nosso direito de ser ouvidas a respeito foi apenas ignorado. E o segundo foi baseado em honestidade: tem de existir de ambos os lados, se não a relação não pode continuar. E o terceiro... Felicidade, prazer, alegria. Foram roubados. Pesei meus sentimentos profissionais com meu momento pessoal, concluí que meu momento pessoal em muito foi afetado pelo profissional, portanto, agora mais que nunca eu preciso resgatar meu prazer de fazer aquilo que me enche de alegria, que é o meu trabalho com e para pessoas.

O coração me diz que a caminhada não está fácil, mas que não mudar de rumo nesse exato momento pode fazer com que piore. E sendo eu tão ocupada em buscar a felicidade, minha e dos outros, devo admitir que uma mudança será bem-vinda, seguramente importante. Até aqui formamos um time campeão, e haja o que houver continuaremos sendo, cada qual em seu momento, em seu lugar, mas sempre sendo o RH nossos corações nos levaram a criar, bom para nós, tentando dar nosso melhor para todos. E se se por acaso falhamos em algo, temos a ressalva de nossa condição de seres humanos também.
Meu coração não se engana, eu é que me engano quando não o ouço.


Lucille

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