A caminhada não tem sido fácil, e nem ao
menos dá sinais de que vá ficar. Viver não é lá tarefa das mais descomplicadas,
do tipo que se realiza após uma verificada no manual de instruções ―
simplesmente porque não existe um. E se talvez existisse, desconfio que diria
apenas: faça tudo conforme determinar seu coração.
A vida não foi ajustada para a razão,
apesar de toda a tentativa de transformar o dia num monte de atitudes sensatas
e politicamente corretas. O coração domina, manda, rege. Ir contra ele é um
grande erro, afinal, o valor das coisas se dá justamente por sua inexatidão
sentimental e não por sua aparente lógica racional. O ser humano é sentimental
com pitadas de racionalidade, sim, pitadas, que são fortes e desesperadas buscas
pela aceitação alheia. O que, convenhamos, nem sempre é tão necessária assim
quanto pensamos que seja.
O coração é um bom conselheiro, uma pena
que o desejo de parecer uma pessoa dita “normal” perante uma sociedade nos
prive de darmos total atenção a ele.
Preambulando antes de entrar no que de
fato eu gostaria de dizer, pensei nisso nesse momento, para enfim dizer porque
meu sentimento tem sido um aliado fiel. Minha profissão lida com a formação
complexa do ser humano: biopsicossocialmente falando, e, para tanto, eu preciso
entender e aceitar essa minha condição de ser humano também. Quando consegui ―
e ainda estou na luta ― compreendi qual meu papel enquanto profissional.
Invariavelmente sigo meu coração quando me proponho a realizar alguma tarefa
para a qual sou designada. O conhecimento, a experiência e a vontade de fazer
certo são aliados, mas é o sentimento quem mostra o caminho a seguir e faz com
que tudo se encaixe de forma a alcançar um bom resultado.
Sou elo de uma grande corrente chamada Organização,
faço ponte, sou ligação, uno interesses, represento desejos. Mas não sou apenas
eu: juntamente com a minha equipe, eu sou RH. Posso dominar as técnicas,
conhecer os parâmetros e leis, mas sozinha de nada me adianta tudo isso.
A razão me mostra diversos caminhos,
possibilidades e até mesmo algumas formas de utilizar o momento ruim para subir
na carreira. E o coração me diz apenas: hora de continuar a caminhada. Meu
sentimento é de perda, mas também de gratidão. Meu sentimento é de injustiça,
mas também de conclusão. Meu sentimento é de revolta, mas também de orgulho. Eu
fiz parte de uma equipe unida, honesta, leal, alegre, louca, simples, tão
diversa e ao mesmo tempo parecida, consciente, respeitosa e fundamentalmente
humana. Eu sou um pouco delas três e sei que em algum lugar delas tem algo de
mim ― que espero seja minha parte boa. Ficar sem uma grande líder e uma
companheira excepcional foi um golpe duro. Muito mais duro foi entender que
nada havia que minha indignação pudesse fazer, logo eu que tantas e tantas
vezes vendi uma imagem de justiça sofrendo com a mão pesada da injustiça.
Meu coração chorou, meu corpo chorou
também, minha alma se sentiu perdida. Minha razão teria motivos para
aproveitar, afinal o conhecimento está na minha mão, mas a dignidade faz parte
da minha formação. A razão me diz que eu posso usar e abusar, pedir, ordenar,
ditar regras. Sou detentora do conhecimento que fica. Então deixei o coração
soluçar todas as vezes que quis, que precisou. Deixei a dor sair pelos poros,
pelos olhos. Permiti que meu coração calasse a razão. E quando tudo se
aquietou, ele tornou a dizer: aqui mando eu.
Tomei uma decisão baseada apenas em
sentimentos. O primeiro deles, sem dúvida, é de perda de identidade, de norte,
de sentido. Não existe time sem técnico, barco sem capitão, e nosso direito de
ser ouvidas a respeito foi apenas ignorado. E o segundo foi baseado em
honestidade: tem de existir de ambos os lados, se não a relação não pode continuar.
E o terceiro... Felicidade, prazer, alegria. Foram roubados. Pesei meus
sentimentos profissionais com meu momento pessoal, concluí que meu momento pessoal
em muito foi afetado pelo profissional, portanto, agora mais que nunca eu
preciso resgatar meu prazer de fazer aquilo que me enche de alegria, que é o
meu trabalho com e para pessoas.
O coração me diz que a caminhada não está
fácil, mas que não mudar de rumo nesse exato momento pode fazer com que piore.
E sendo eu tão ocupada em buscar a felicidade, minha e dos outros, devo admitir
que uma mudança será bem-vinda, seguramente importante. Até aqui formamos um
time campeão, e haja o que houver continuaremos sendo, cada qual em seu
momento, em seu lugar, mas sempre sendo o RH nossos corações nos levaram a
criar, bom para nós, tentando dar nosso melhor para todos. E se se por acaso
falhamos em algo, temos a ressalva de nossa condição de seres humanos também.
Meu coração não se engana, eu é que me
engano quando não o ouço.
Lucille
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