Ultimamente ando sem vontade de escrever,
de imortalizar o que tenho sentido. Não que me falte a inspiração, é que me
abandona a vontade de relembrar o gosto desagradável de alguns dias.
Começando assim, parece até que estou em
depressão profunda, vendo tudo cinza-escuro, querendo morrer. Também não é
isso. Desde o final de abril minha vida perdeu um pouco do brilho em alguns
dias. O que era para ser um dos momentos mais importantes se tornou um dos
pesadelos. E nele eu estava sozinha, aflita e não havia jeito de acordar. Mas,
como não poderia deixar de ser, como sempre aconteceu com todos os péssimos
sonhos que tive, acordei desse também. Era apenas um sonho, meu sonho. E eu
mesma fiz meu pesadelo quando achei que pudesse dividi-lo com alguém. Até
poderia, mas escolhi a pessoa errada. E lembrar esses dias, e o que poderiam
ter sido, e o que eu fiz para que não chegassem ao ponto que chegaram, isso
tudo me deixa sem vontade de ajudar a mente a guardar. Prefiro que o
esquecimento seja natural, dia a dia, um passo de cada vez, cada coisa em seu
lugar.
Quando a dor me assalta, sai cada soluço
que me assusta. Parece que estou perdendo um pedaço do corpo, que uma ferida
enorme está aberta e sangrando. Sinto-me perdida, fraca, com medo, triste,
infinitamente triste e desamparada. Sento no chão frio do banheiro e deixo a
tristeza escorrer até que o coração fique leve outra vez. No entanto, é também
um momento de conversa franca com Deus, de pedir, de agradecer, pois se não é
como eu quero, certamente é como eu preciso.
Não posso afirmar que a tristeza seja minha
melhor amiga ―
embora não seja de todo errado dizer que me visita habitualmente ―, afinal os dias
bons são verdadeiramente bons e a esperança em dias melhores é de verdade a que
me acompanha, desde o minuto em que me levanto até quando mergulho em sonhos
novamente. Nos sonhos a esperança me diz coisas sobre as quais não tenho poder,
não sei e não entendo. Mas acredito!
Os dias bons são de missa, feira, rosas
amarelas e brancas, feira, compras, passeios, salão, aula, pavê crocante,
beijos, abraços, sorvete de framboesa, Ice, hip hop e samba.
E esses, sim, merecem ser registrados. Em
breve.
Lucille
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