domingo, 11 de dezembro de 2011

As letras e a canção


Ah, a deliciosa inspiração do meio da madrugada! Há quanto tempo esse espírito literário não se apossava do meu corpo? Minhas mãos ansiavam pelo contato com o teclado, o confronto direto entre os dedos e as teclas; meus olhos necessitavam apreciar as idéias tomando corpo nesta tela branca, nua e altamente convidativa.

Cá estou, naquele fabuloso momento em que dar a segunda é quase uma obrigação ― e não é todo mundo que aguenta uma atrás da outra.

Enfim, após o texto mais introspectivo, a inspiração determinou algo mais leve, menos atado as emoções e acontecimentos: apenas, digamos, pensamentos soltos.

Falando em inspiração ― algo que baseia um verdadeiro escritor ―, percebi que, além da falta de tempo, a ausência de assunto, de vontade, de foco e organização foram cruciais para o abandono dessa atividade tão prazerosa para mim. E, na falta de algo que valesse ser registrado e também ser lido, contive o ímpeto de produzir qualquer coisa só para movimentar a mente. Não funciona. Não sou eu que crio um texto: é ele que se forma em mim e se transporta pelas artérias do cérebro até o tecido das pontas dos dedos. Não escolhi gostar de escrever, não sentei um dia numa mesa de bar com essa sugestão para os amigos a fim de me inserir num grupo qualquer. Devorar livros tampouco me fez ter essa vontade e, paradoxalmente, não considero que ler seja uma obrigação para me lançar escritora. Escrever ainda é um hobby, uma diversão, um prazer que não me atrevo a transformar em ganha-pão. Claro está que algum dia tirarei a escrita do espaço virtual para, de fato, ver essas palavras no papel, lidas por quem se interessar. Mas para isso há que se ter inspiração também: conhecer a própria capacidade e sentir que é chegado o momento certo.
Não me preocupo: a minha escritora favorita iniciou suas atividades literárias aos 41 anos. Tenho ainda 10 anos para amadurecer essa vontade.

Pensando nisso também, enquanto ouço o novo trabalho do projeto The Foreign Exchange (+FE), Dear Friends: an evening with The Foreign Exchange Live, me aprofundo na questão do momento certo. Nicolay e Phonte, reunem cantores de Soul, Neo Soul e R&B para um trabalho musical do qual são catapultados para além do que poderiam sonhar se estivessem sozinhos. Claro que o objetivo não é dar visibilidade a novos cantores, até porque não são tão novatos assim, apenas desconhecidos do grande público que curte black music. Invariavelmente os trabalhos têm ficado ótimos, eu tenho dois álbuns e sou apaixonada pela música ― considerando que também me traz recordações extremamente agradáveis. Neste novo álbum gravado ao vivo num show intimista para um público seleto, quem participa dos vocais com Phonte ― que é a cara do Flavio, tanto que me assusta ― é Sy Smith, cujas músicas solo me alegram deveras. Num momento de viagem total, enquanto assistia o show pela segunda vez, visualizei Flavio e eu cantando Daykeeper. Sei que ele vai me sorrir de canto de boca e dizer “Por que não?” ― por isso que nada está descartado, ainda que pareça absurdo.
Com os parceiros certos e a intenção bem coordenada e alinhada, tudo é possível.


O que ainda não consigo admitir é alguém se embrenhar em assunto que não domina com a pose de quem nasceu sabendo fazer. Pior é tentar fazer os outros acreditarem nisso. Não, não é pior. Tanto pior é fazer isso para se inserir num contexto social.
Literatura não é brincadeira, tampouco é instrumento para ser melhor visto ― o nome disso é caráter ou atitude ―; se nem eu que gosto, ouso tratar o assunto como aventura, que dirá quem não tem conhecimento da causa? Eu faria parte de um +FE Literário, sem dúvida, mas jamais deixaria minha credibilidade ser enlameada com um trabalho mal construído.

Música e literatura são duas grandes paixões. E interpretar ambas é o que eu gosto de fazer quando minha verdadeira profissão não me ocupa. Sou Analista de Recursos Humanos e me garanto no exercício diário dessa atividade que também me dá orgulho e prazer. E é assim que me mostro para a sociedade: sou o que sou, não o que eu penso que agradaria a alguém.

“I've seen a side of you werent meant for
Your house of cards is gonna fall
Sooner or later
You will pay for
Your house of cards is gonna fall
Too late to cry your gonna get yours
Your house of cards is gonna fall”

Trecho de House of Cards, originalmente gravada por Phonte e Muhsinah, no álbum de 2008, All that you leave behind.


Lucille

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