Ah,
a deliciosa inspiração do meio da madrugada! Há quanto tempo esse espírito
literário não se apossava do meu corpo? Minhas mãos ansiavam pelo contato com o
teclado, o confronto direto entre os dedos e as teclas; meus olhos necessitavam
apreciar as idéias tomando corpo nesta tela branca, nua e altamente
convidativa.
Cá
estou, naquele fabuloso momento em que dar a segunda é quase uma obrigação ― e não é todo mundo que aguenta uma
atrás da outra.
Enfim,
após o texto mais introspectivo, a inspiração determinou algo mais leve, menos
atado as emoções e acontecimentos: apenas, digamos, pensamentos soltos.
Falando
em inspiração ― algo que
baseia um verdadeiro escritor ―, percebi
que, além da falta de tempo, a ausência de assunto, de vontade, de foco e
organização foram cruciais para o abandono dessa atividade tão prazerosa para
mim. E, na falta de algo que valesse ser registrado e também ser lido, contive
o ímpeto de produzir qualquer coisa só para movimentar a mente. Não funciona.
Não sou eu que crio um texto: é ele que se forma em mim e se transporta pelas artérias
do cérebro até o tecido das pontas dos dedos. Não escolhi gostar de escrever,
não sentei um dia numa mesa de bar com essa sugestão para os amigos a fim de me
inserir num grupo qualquer. Devorar livros tampouco me fez ter essa vontade e,
paradoxalmente, não considero que ler seja uma obrigação para me lançar
escritora. Escrever ainda é um hobby, uma diversão, um prazer que não me atrevo
a transformar em ganha-pão. Claro está que algum dia tirarei a escrita do
espaço virtual para, de fato, ver essas palavras no papel, lidas por quem se
interessar. Mas para isso há que se ter inspiração também: conhecer a própria
capacidade e sentir que é chegado o momento certo.
Não
me preocupo: a minha escritora favorita iniciou suas atividades literárias aos
41 anos. Tenho ainda 10 anos para amadurecer essa vontade.
Pensando
nisso também, enquanto ouço o novo trabalho do projeto The Foreign Exchange
(+FE), Dear Friends: an evening with The Foreign Exchange Live, me aprofundo na
questão do momento certo. Nicolay e Phonte, reunem cantores de Soul, Neo Soul e
R&B para um trabalho musical do qual são catapultados para além do que
poderiam sonhar se estivessem sozinhos. Claro que o objetivo não é dar
visibilidade a novos cantores, até porque não são tão novatos assim, apenas
desconhecidos do grande público que curte black music. Invariavelmente os
trabalhos têm ficado ótimos, eu tenho dois álbuns e sou apaixonada pela música ― considerando que também me traz
recordações extremamente agradáveis. Neste novo álbum gravado ao vivo num show
intimista para um público seleto, quem participa dos vocais com Phonte ― que é a cara do Flavio, tanto que
me assusta ― é Sy Smith,
cujas músicas solo me alegram deveras. Num momento de viagem total, enquanto
assistia o show pela segunda vez, visualizei Flavio e eu cantando Daykeeper.
Sei que ele vai me sorrir de canto de boca e dizer “Por que não?” ― por isso que nada está descartado,
ainda que pareça absurdo.
Com
os parceiros certos e a intenção bem coordenada e alinhada, tudo é possível.
O
que ainda não consigo admitir é alguém se embrenhar em assunto que não domina
com a pose de quem nasceu sabendo fazer. Pior é tentar fazer os outros
acreditarem nisso. Não, não é pior. Tanto pior é fazer isso para se inserir num
contexto social.
Literatura
não é brincadeira, tampouco é instrumento para ser melhor visto ― o nome disso é caráter ou atitude ―; se nem eu que gosto, ouso tratar o
assunto como aventura, que dirá quem não tem conhecimento da causa? Eu faria
parte de um +FE Literário, sem dúvida, mas jamais deixaria minha credibilidade
ser enlameada com um trabalho mal construído.
Música
e literatura são duas grandes paixões. E interpretar ambas é o que eu gosto de
fazer quando minha verdadeira profissão não me ocupa. Sou Analista de Recursos
Humanos e me garanto no exercício diário dessa atividade que também me dá
orgulho e prazer. E é assim que me mostro para a sociedade: sou o que sou, não
o que eu penso que agradaria a alguém.
“I've
seen a side of you werent meant for
Your
house of cards is gonna fall
Sooner
or later
You
will pay for
Your
house of cards is gonna fall
Too
late to cry your gonna get yours
Your
house of cards is gonna fall”
Trecho
de House of Cards, originalmente gravada por Phonte e Muhsinah, no álbum de
2008, All that you leave behind.
Lucille
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