segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quebrará quando endurecer de vez


Meu dia começou muito bom: levantei cedo, tomei café, peguei o ônibus no horário certo. No caminho, banhada de Sol, conversava animadamente com um amigo até que ele resolveu tocar naquele nome. Entre uma frase solta e outra, ele disse que o ex já estava se relacionando com outra pessoa. Do alto da minha maturidade, concordei que isso era perfeitamente normal, afinal ele não me devia mais fidelidade. Aqui dentro o vulcão adormecido despertou: grossas camadas de lava mortal ameaçavam jorrar assim que eu descesse do ônibus e pudesse discar o número dele.
Escuta aqui, seu ordinariozinho! Quem mora nesse lugar sou EU! Quem nasceu aqui fui EU! Esse é o MEU território! Vá comer as suas vagabundas bem longe de mim e da minha vida!

Paralelamente ao momento de raiva, um alerta piscava na mente: você está no meio da rua, pivetes e demais assaltantes estão só esperando você tirar o telefone da bolsa pra tomá-lo de você. E nervosa desse jeito, é capaz de você nem perceber que te roubaram.

Continuei andando a passos largos, tensa, músculos retesados, lábios endurecidos pelo frio e pela raiva. Quando já estava no ambiente seguro do trabalho, comecei a preparar o terreno a fim de ficar a vontade para despejar todo o ácido que me corroia as entranhas. Enquanto ligava o computador, conectava o fone de ouvido. Quando tudo estava pronto, olhei para a tela e me sobressaltei ao ver que em minha caixa de entrada havia um e-mail enviado na noite anterior, domingo gelado, as 22:09h.
Tirei o fone do ouvido e fui ler.

Quer assistir ao filme Salt?

Instintivamente respondi: hã?
Não havia mais nada a dizer naquele momento. O quê? Estou pronta pra descarregar minha metralhadora verbal em cima de você e você me convidando pra assistir filme?

Tornei a pegar o telefone e sumi pelo corredor. Precisava falar, tinha que externar aquela confusão de sentimento. Fiz a ligação, mas não para o número inicial. Falei, desabafei, analisei a situação toda, me analisei. Cheguei a uma conclusão cruel: que merda que eu ia fazer!
Falar o quê? Pra quem? Por quê? Não tinha o menor sentido!
Saí para o almoço rindo de mim mesma, da minha fúria verbal que fora magistralmente controlada. Ao fim do dia de hoje vi a resposta:

Eu senti saudades de você, fiz o que o coração mandou, te chamei para assistir um filme aqui em casa.

As respostas dançaram africanamente a minha frente...

Às DEZESSETE HORAS E TRÊS MINUTOS que você me responde ao e-mail que mandei às 09h?
Sentiu saudade por e-mail?
Sentiu saudade às 22h de um domingo gelado?
Sentiu saudade pra me dizer o quê? “Oi, quero trepar” para depois me dizer que não damos certo?
Sentiu saudade do sexo, da minha boa vontade, da minha ingenuidade ou dos meus defeitos com os quais você não sabe conviver?
Sentiu saudade do meu papo ou dos meus ouvidos que ouvem tudo o que você tem a dizer?
Sentiu saudade da minha criatividade, alegria e determinação ou da minha resignação em aceitar o pouco cinza, simples e quadrado que você me oferecia?
Sentiu saudade do meu carinho, do meu chamego ou da minha habilidade em querer estar do seu lado sem receber nada disso em troca?
Sentiu saudade da mulher sensata e madura ou da barraqueira enlouquecida que você via todas as vezes que suas mentiras e traições eram descobertas?
Sentiu saudade de mim ou da pessoa que te dava a mão quando você percebia que não tem amigos verdadeiros?
Porque não sentiu saudade no sábado de sol? Não lembra que eu existo quando tudo vai bem, né? Eu existo? Acho que não...

Fiquei olhando pro e-mail com aquela mensagem curtinha, tentando achar onde estava escrito “Lucille, me perdoa por tudo que fiz você sofrer; prometo melhorar e mudar, ser um homem de verdade pra você e te fazer feliz.


Esse sempre foi o meu grande erro: querer encontrar coisas inexistentes, ter esperança, fé; buscar flores no deserto de um coração de pedra.



         Não havia, nunca houve; fechei o e-mail e mandei para a lixeira sem responder. Silêncio. Eu já havia me dado todas as respostas e era o que bastava.

A cada dia, uma vitória sobre mim mesma.

L.

Um comentário:

Vivi Cruz disse...

É... Acho que todas nós passaremos por isso um dia. Um e-mail, uma expectativa (será que vai pedir desculpas?), uma frustração(uma mensagem estilo 'como se nada tivesse acontecido' que acabamos com a sensação de que realmente NADA aconteceu, pelo menos não pra pessoa), uma certeza: SAIU DA MINHA VIDA? NÃO PERCA O AVIÃO PORQUE SAIU TARDE SEU FILHO DE UMA CADELA rsrs

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