terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O fim de uma jornada - parte I

Sinto tudo diferente do que costumava ser. E não faz muito tempo: parece que em menos de seis meses consegui localizar o ponto nevrálgico que era responsável por transformar um objetivo de vida em algo secundário por uma bobagem qualquer.

Não foi tarefa fácil, tampouco foi difícil. Sempre soube de quem era a responsabilidade por fazer e acontecer, por realizar e colher os frutos do sucesso — bem como os espinhos do fracasso. Só precisava decidir, finalmente, se eu queria ser páreo pra minha própria força, uma força bruta e estúpida que por diversas vezes me levava a cabecear a parede como quem se deita num travesseiro de penas de ganso.

A meta eu sempre tive. Demorei a focar, mas sabia que precisava cumprir o que eu havia definido como objetivo de vida. Muitas e incontáveis vezes eu sabotei meu próprio esforço. Já me dei rasteiras que nem mesmo meus inimigos ousariam em seus piores pensamentos vingativos. Hoje quero crer que a pouca idade também tenha contribuído para isso. Não é via de regra, certamente que não, mas no meu caso, somente a imaturidade explica a recusa para uma bolsa para a melhor universidade do Estado, uma das melhores do país. Motivo? Fica lá na Gávea, muito longe do meu trabalho, gasto mais dinheiro de passagem, pego trânsito e, pior de tudo, fico menos tempo com o namorado que me bagunça, estando longe ou perto dele. E o tio de segundo grau que conseguiu a bolsa na PUC-Rio faleceu antes que eu tivesse tempo de me arrepender profundamente por ser tão irresponsável comigo mesma.
Dia dois de junho deste ano, o que parecia uma situação de perigo a minha independência financeira, se tornou o melhor acontecimento para a minha independência acadêmica. Sem emprego, mas com muito trabalho pela frente. E aconteceu justo no momento em que eu voltava de um dia de internação devido a uma crise de gastrite nervosa por conta do forte estresse negativo, um desgaste emocional que durante meses vinha me açoitando a alma. Então eu não tive estômago, literalmente, para ver a minha competência e dedicação nos doze anos na minha profissão serem monstruosamente subestimados pelo sorriso falso de alguém que só tinha uma experiência como balconista de papelaria. No meu ego de profissional a substituição forçada funcionou como um rebaixamento, uma perda de cargo e função. Talvez se fosse para uma pessoa com mais experiência, que agregasse algum valor ao trabalho e fizesse coisas que até então eu não tivesse conseguido realizar... Não, nem assim creio que não aceitaria. Não para uma pessoa que traía a confiança de todos os colegas ao levar para o chefe tudo o que pensava estar errado. É difícil aceitar a perda e perder para alguém mau caráter e incompetente é absolutamente cruel. Mas quando eu pensei que ficaria ruim, percebi que isso foi o que de melhor poderia ter acontecido: eu teria tempo e tranqüilidade para tocar o projeto mais importante desse ano. Foi um mal que me fez um enorme bem.

Analisei todas as possibilidades para não errar nos próximos passos. Perder o emprego não havia sido tão ruim, afinal de contas, profissional é profissional em qualquer lugar. E aí eu tive de pisar no ego: decidi dar o passo para trás e voltar ao estágio. Logo eu, que fiquei doente ao ver meu império construído com muito suor passar para as mãos de uma pseudo-rainha bastarda e burra, resolvi que a “perda” seria o caminho para a vitória.

(Continua...)

L.

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