quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Antes do Sol se pôr

Acabo de assistir ao segundo filme da saga Crepúsculo, Lua Nova, baseada na série literária de Stephanie Meyer. Horas antes eu estava envolta numa nuvem de sono, que dificilmente se dissiparia, ou pior, provavelmente me derrubaria em definitivo antes do meio da exibição. Agora que acabou, não há mais sono e, na falta de algo melhor, resolvi escrever. Sentei-me e antes de começar a digitar, olhei atentamente as mãos: elas estavam tremendo.

A história é a mais ingênua e batida possível, com vampiros, monstros, mocinha e mocinho, amor e tudo o que povoa o imaginário infanto-juvenil. Seria apenas mais um livro de fundo de prateleira, daqueles que a gente só passa e vê que existe quando está procurando outro e tem que ler o nome de todos os livros até encontrar o que deseja. Seria, não fosse Edward Cullen um vampiro humanizado e sobrenaturalmente cavalheiro.

Faz coisa de dois anos vejo adolescentes suspirando pelo tal vampiro-teen, porém, como adolescente suspira por qualquer coisa, acreditei ser mais um produto da mídia para acabar com o sossego de pais de meninas em idade suspirativa. Nunca dei confiança ao livro, apesar de uma onda atemporal de respiração profunda ameaçar invadir todos os locais por onde eu andava: faculdade, ônibus, trabalho, onde quer que olhasse alguém estava falando-desejando-amando-fantasiando sobre o assunto Crepúsculo.

Não tardou a vir o filme homônimo, o primeiro da saga. Sim, haveria continuação, ó céus. Não acreditei quando ouvi duas colegas de trabalho conversando no banheiro, uma delas casada e grávida e a outra noiva, sobre a camisa do fã-clube que usar para assistir pela segunda vez ao filme. Tive de admitir que era o assunto do momento, mas do qual eu me recusava a participar. Vampiro? Adolescente? Ah, façam-me o favor! Tenho coisas mais importantes a fazer do que me preocupar com o concurso que o programa de televisão dominical está fazendo para eleger a melhor cantada para o muso teen da vez, o grande vampirinho do bem e sua turma.

Numa tarde de domingo no cinema do shopping, deparei-me com sete salas de exibição e nada menos do que quatro exclusivas para o terceiro filme da saga, Eclipse. Achei mais do que exagero, era alienação. Brasileiro gosta desses filmes enlatados estrangeiros!

Há exatos dois dias, na falta de um programa na televisão para passar a noite até o sono chegar, Crepúsculo, o primeiro filme, foi o que sobrou para ver. Logo no início admiti que estava diante de mais uma produção adolescente para Sessão da Tarde. Com a entrada do protagonista em cena ― bonito, alto, bom moço com ar de quem não está nem aí para a mocinha ― tive certeza. Nas primeiras cenas, ele estava em silêncio, apenas bancando o galã (claro, ele não foi escolhido à toa) e somente no capítulo seguinte Edward mostra que, apesar do pó de arroz no rosto e do batom para dar veracidade à cara de morto-vivo, é também muito mais humano do que os próprios humanos: sente-se atraído pelo sangue da mocinha, mas se mantém fiel a sua convicção de não matar humanos e por isso se afasta dela. Porém, claro que no meio de uma escola gigantesca, de milhares de meninas lindas e gostosas, ele quer ficar com a esquisita. Vamos combinar, Isabella Swan não é uma heroína que se possa chamar de bela. Trocadilho infame. Esse é o bom do livro: pode-se criar o personagem com o físico que quiser, afinal, ele pertence a quem lê. Mas no filme, se é obrigado a engolir Kristen Stewart e sua única cara de cigano Igor para demonstrar de amor ou dor. Não li o livro e não sei se a autora criou Bella com aquela apatia confusa de propósito ― vai ver a menina em quem ela se baseou, talvez ela mesma, era assim ―, se foi, Kristen deu vida à chata com perfeição. Caso contrário, Bella foi a mocinha mais mala de todos os tempos do cinema mundial pois a atriz a fez assim. E o que leva Edward a se interessar realmente por ela? Cada vampiro tem um poder especial, ou vários, e ele é um exímio telepata, que lê a mente de todos em tempo real, porém não consegue ler a de Bella. Por que será? Prova máxima de que homem gosta mesmo é de mulher que não faz cara feia e não tem nada na cabeça.

Pelo meio do filme, Edward sai do papel de possível algoz, como determinaria sua espécie e passa a ser o grande protetor de Bella ― que a essa altura já tinha virado namorada oficial do cara-pálida-muito-pálida. Mas Pattinson sacou mão de sua beleza, uniu a boa interpretação e transformou seu vampiro em herói nacional ao ser o namorado, amigo e protetor de Bella, com seu jeito meigo e o sorriso meio cafajeste. Dificilmente, na vida real, se vê um rapaz assim: se parece meio pateta e sorri como cafajeste, é fatalmente um cafajeste. Edward é um raro cafa do bem, tão do bem que respeita a moça muito mais do que apenas não matá-la para beber seu sangue: ele não a beija para não correr o risco de fraquejar e chupá-la (no mau sentido) e nem tenta mais nada, mão no peitinho, na bundinha, nada. É um perfeito cavalheiro. E para ser endeusado de vez, Edward também é ciumento.

O filme não prende a atenção pelos efeitos ou enredo, a história só flui e convence como filme porque as atitudes de Edward são absurdamente incríveis. Ele leva em casa, abre a porta do carro, leva pra passear fim de semana, leva em casa pra conhecer os pais e o resto da família, faz questão de conhecer o pai da moça antes de sair com ela ― “Boa noite, Sr. Swan. Sou Edward Cullen.” ―, pula a janela do quarto e fica apenas velando o sono dela, sem nenhuma, nenhuminha intenção sexual. Aos 17 anos isso é praticamente impossível, é a idade em que os hormônios estão em ebulição e todo menino só vê uma vagina com braços e pernas. Mas Edward tem uma vantagem: sendo imortal, tem o corpinho de 17 com cabeça de 109 anos.

Naquela noite, quando o filme acabou, fiquei inquieta. Tinha gostado muito, não queria admitir e havia alguma coisa errada com os sentimentos da mulher madura e senhora de si, mas não poderia ser relacionado ao filme. Não, eu não iria também fazer parte da legião de balzacas enlouquecidas pelo novinho, isso não. Mas eu estava começando a entendê-las, o que também não deixava de ser perigoso.

E hoje, dois dias depois do primeiro, não resisti ao impulso de alugar o segundo filme da série. Acordei com esse pensamento, queria ver e queria mais ainda que ninguém me chamasse para sair, porque eu queria acreditar que estava em casa numa sexta-feira a noite, assistindo Lua Nova por pura falta do que fazer. Claro. Durinha na cama, tensa como quem espera o namorado na casa dos pais, sentadinha no sofá. Eu.

Bella é uma chata, sim. Mas uma chata sortuda. Não por acaso ela é desejada também por outro fofo, o índio Jacob. Neste segundo filme, Jake que já era bonito, se torna um rapaz forte, alto, com toda a pinta de durão, oposto ao Edward. E para ficar melhor ainda, Jacob se torna lobisomem (o que mais poderia ser, não?) e passa a ser o protetor oficial da chata quando Edward a abandona. Sim, o Sr. Perfeito abandona Bella pensando que é a melhor maneira de tirar o perigo de perto dela. E nem sofrendo horrores com a partida do amado a pessoa muda de cara, o mesmo olhar raso de hã? como? e nenhuma lágrima. Ela sofre, tenta se matar, mas o menino-lobo está sempre por perto para salvá-la. Fisicamente, Jacob ficou muito mais bonito que Edward e no quesito atitude, o filme foi dele. E Bella quase cede, mas o vampiro reaparece no Brasil (ora vejam só!) e depois na Itália, para onde vai a fim de dar cabo da própria vida. E a moça corre a salvá-lo, consegue, tudo fica bem, mas... e Jacob e seu amor selvagem? Sem mexer um pentelho da sobrancelha, ela faz sua escolha e então Edward diz a coisa mais bonita que um homem poderia dizer a uma mulher.

Fiquei um tempo pensando naquela frase, batendo a testa na parede para admitir que as mulheres, meninas e todo o restante tinham razão em se apaixonar por Edward. E eu divida entre o poder másculo de um e a sensibilidade do outro. Caí de amores por Jacob quando ele chamou Bella apenas com um aceno de cabeça, no melhor estilo vem cá, minha nega. Edward olha nos olhos e segura a mão. Jacob olha agudamente cima até embaixo, bem sério. Os dois extremos de tudo que se gosta num homem: a virilidade e a suavidade emoldurados por um belo corpo.

Dando a mão à palmatória, fiquei tentando resolver por quem eu de fato ficaria suspirando pelos cantos, sonhando, desejando. Respeitadas as devidas faixas etárias, não consegui eleger um tipo perfeito para povoar minhas noites solitárias em frente a televisão ou viajando pela serra Grajaú-Jacarepaguá no momento em que os pensamentos tomam conta de tudo em mim. Queria o brabo, como queria o pacato. Decidi que era melhor não decidir nada. Em cada um havia qualidades que eu gostaria que Deus materializasse em 1,90m, 30 anos, nenhum filho, nem ex-dona e com uma mãe muito legal e honesta.

Pronto. Resisti mas acabei por me render a saga Crepúsculo. Meyer usou elementos mais batidos do que pão com manteiga e café com leite, mas me parece que as pessoas estavam carentes dessas aventuras simples, sem monstros inventados, gigantes, sem voz gutural e amor não sexual. O livro fez sucesso, acredito eu, justamente por ser simples: vampiro e lobisomem, bicho-papão da época da vovó, com a mesma inocência que havia em nós quando ouvíamos estas histórias. O filme fez mais sucesso por trazer a mesma simplicidade e pureza para a tela, começando com atores desconhecidos (Pattinson fez pequena participação em um dos 40 filmes do Harry Potter) e poucos efeitos especiais. Aliás, o orçamento da produção foi baixo, o que deve ter contribuído para alguns erros de continuidade das cenas, como o cabelo do trio de protagonistas, que nunca estava igual nas cenas de frente, lado e costas. Ou ainda como vampiro que não tem sangue, daí morre e, adivinhe só, sangra. Detalhes que provavelmente as edwardetes nunca repararam, mas para mim, cinéfila assumida, não passaram batidos.

Agora fico aqui, louca para ir ao cinema assistir Eclipse, o terceiro filme que estreou esse ano. Logo virá Amanhecer, que será dividido em duas partes, dois filmes, já que provavelmente o vampiro imortal já estará velho demais para continuar interpretando um menino de 17 anos.

A aflição de querer encontrar meu Edward-Jacob na próxima esquina é terrivelmente real. Temo que isso volte a ser uma deliciosa fantasia da época de menina, quando o príncipe que traria o primeiro beijo saciaria também a minha sede de amor e liberdade. Agora que sou livre, continua faltando o príncipe de 1,90m ― tem que ter essa altura para acompanhar meu salto 15. Mas não tenho pressa, se não corro o risco de estragar o final do livro que estamos preparando, eu e meu Grande Escritor favorito, Deus.

Ah, no capítulo em que ele chegar, prometo não fazer cara de fundo-de-saco tipo hã? como?. Vou sorrir, e se ele me devolver o sorriso com o olhar pequeno de cafajeste... esse será o dono do meu entardecer.

L.

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