quinta-feira, 1 de julho de 2010

Gengibre e Mandarina

O dia foi animado, vitorioso. Chegou a hora em que ela entendeu que bastava pouca coisa para ser feliz. E estava feliz, porque amava a si mesma muito mais do que qualquer tempo da vida de que pudesse se lembrar. Ela sempre soube que jamais poderia se entregar a alguém com a honestidade necessária se antes não chegasse a esse ponto de maturidade. E enquanto o vendedor a atendia, ela sorriu feliz, diante da constatação de que havia finalmente chegado onde queria, estava bem consigo mesma o que a deixava pronta para o sentimento que há dias batia em sua porta. A noite chegou e com ela trouxe alguns sentimentos velhos, porém com o trunfo de já saber o resultado e poder fazer diferente, ela aceitou-os sabendo que, para que haja um relacionamento sério, é necessário que ambos estejam sintonizados com o mesmo objetivo. Apesar de adorar bater pernas em dias quentes como aquele, ela preferiu voltar cedo para descansar, já que a noite teria de estar bem para mais uma bateria de provas do conhecimento alheio. Cada dia era um capítulo que lia naqueles olhos castanhos e isso era bom, porque ótimo era quando ele gostava do que aprendia sobre ela.

O dia começou cedo, como de costume. Ele gostava de acordar cedo a fim de aproveitar o máximo que pudesse do dia. Na mente ainda estava fresca a noite passada com ela. Era a oportunidade de recomeçar, de ter do lado alguém com quem valesse à pena estar, apenas por estar assim, sem nada pra fazer, observando e absorvendo o melhor de um ser humano. Ela sabia se dar, não tinha frescura, era linda, engraçada, calma. O meu relacionamento anterior acabou há pouco tempo, ele pensou com seus botões. Mas há data certa para ser feliz? Enquanto se perdia em pensamentos, ela ligou. O dia sempre ficava melhor quando falava com ela. E apesar de ter amado a ex, desta vez ele estava mais leve, mais a vontade. Talvez fosse a idade, já que estava finalmente consciente de suas prioridades e realizando-as, então não havia mais a cobrança de ser marido e pai, apenas ser ele mesmo, devagar e sem medo. Saiu de casa para cuidar de si, querendo muito encontrá-la mais tarde, mas sem ansiedade. Ver-se-iam no fim do dia quando seus deveres estivessem cumpridos, o que tornaria o momento mais especial, seriam um do outro apenas, como vinha acontecendo há várias semanas.

Vivo no pensamento de ambos, estava o lugar em que ficaram conversando noite passada, quando ele disse a ela com todas as letras o que queria, e pontuou diversas vezes que ela estava linda, metida num vestidinho preto e de salto alto, simples e fabulosa. Chegando mais perto descobriu que ela usava um novo perfume: gengibre e mandarina. No mesmo lugar, ela o havia medido de alto a baixo procurando algo de que não gostasse sem no entanto encontrar, sentido o toque firme de seus dedos e tido certeza de que ele era realmente belo, paciente e amável.

Como nada é tão perfeito sempre, o desentendimento tirou o brilho dos olhos de ambos. Por que, afinal, você não me avisou que poderia me magoar? Provavelmente pensaram juntos, ao mesmo tempo em que outras palavras tornavam o dia pesado, contrariando tudo que já nutriam um pelo outro. Contudo, sentimento que é forte não se desfaz assim. E quando o diálogo e a sinceridade temperam a relação, tudo é capaz de ser resolvido.

Olharam-se como estranhos, uma mágoa brutal se interpunha entre eles. Não se abraçaram, muito menos houve beijo. O encanto parecia estar acabado. Seguiram lado a lado, em silêncio, até a praia. A grama rasteira ofereceu lugar para abrigar o embate que se seguiria. Olhando o mar bater nas pedras, ele principiou a falar, mas já deveria saber que não adiantaria muita coisa, já que reconhecia seu erro. Internamente ela queria gritar, xingar tudo o que sabia, dar-lhe as costas e sair batendo os cascos, certa de que não voltaria a vê-lo. Nesse caso, não voltar a ver não seria o mesmo que não querer, e ela o queria ainda. Mas ela não poderia agir assim, não com ele. Ele estava vendo a mulher que tanto queria fugir de suas mãos e não sabia exatamente o que fazer, queria prendê-la de novo no abraço, queria beijá-la, queria amá-la ali mesmo, sob o sol da tarde. Ela imaginava que ele não fosse mover meio dedo para reverter a situação, mas não iria forçar nada. Sabia que não havia nada pior do que influenciar alguém a agir de acordo com o que você quer. Se não fizesse realmente por vontade dele, seria sinal de que não a merecia. Ela expôs tudo o que sentia e o que pensava, aproveitou para se despir ainda mais da intenção de passar como santa, foi verdadeira e abusou do direito de usar todas as palavras que conhecia, bonitas ou feias. Ele sabia que ela estava certa em suas colocações, só não havia entendido antes e naquele momento em que prestava atenção, compreendia exatamente o que havia acontecido. E sabia também o que devia ser feito, porque mesmo que ela não quisesse mais, ele teria agido como um homem de verdade deve agir e até porque, não estava disposto a deixá-la ir embora fácil assim. Ela silenciou. Ele falou. Ela continuou olhando o mar, ouvindo o que ele dizia, tentando ajustar aquelas palavras ao que ela sentia. Pedidos de perdão e promessas de não reincidência. Quando todos os argumentos foram usados, ela viu caída no gramado, morta e derrotada, a mágoa que carregara até ali. Ele ainda não sabia se ela o havia perdoado ou se a tinha perdido, até que ela esboçou um sorriso. Exultante, percebeu que a possibilidade era real, que ela ainda era sua. O dia estava no fim, não havia mais calor do Sol. Decidiram andar. Enquanto caminhavam, ele pediu um beijo, ela não queria contato físico ainda, mas ele não se deu por vencido: parou-a e insistiu até que ela não teve saída a não ser trocar um rápido beijo. Posso te abraçar? Não. Estava louca para se perder naquele peitoral, mas sabia ser má quando queria e aquele era o momento, afinal, estava se divertindo em vê-lo ansiar por ela. O fim da caminhada coincidiu com a vontade de ver filme e foi o que fizeram. Na sala escura, a proximidade dos corpos foi inevitável. Ela resistiu até que se tornasse impossível conter a vontade de se afogar nos beijos dele e quando não mais pode evitar, beijou-o com ternura, com paixão e tudo voltou ao normal, porque ambos precisavam daquele momento.

Depois de toda a tensão, a paz voltou a reinar nos sorrisos dos dois, que se reconheciam como pessoas diferentes e capazes de completarem um ao outro. Sabiam e sentiam que precisavam de mais tempo juntos, de outra noite e outro dia para restabelecer o contato perfeito de suas almas. Então se deram de presente uma chance de conhecer outra vez aquilo que já sabiam ser maravilhoso.

Sem medo e sem pudor, ela tirou salto e camiseta e se deixou ser admirada enquanto se despia. As costas nuas, os cabelos cascateando pelos ombros a tornavam ainda mais bela. Ele a observou, algo entre virgem e ordinária, tão segura de si quanto frágil, revelando o corpo que ele desejava como se fosse a primeira vez. De pé, na frente dele, ela sentia os lábios quentes a correr por seu pescoço. Ele abraçou-a por trás e moveu a cabeça dela até que ambos pudessem se olhar no espelho. Nus da cintura para cima, notaram como faziam um casal bonito e, naquele momento, muito feliz. Enquanto ainda se perdia em pensamentos, ela sentiu que ele a soltava. Com um movimento rápido e preciso, tomou-a no colo e calmamente levou-a até a cama. Pousou-a com delicadeza como quem guarda uma jóia em caixa, acomodando-a para não arranhar. Ele a beijava mansamente enquanto a deitava sobre os travesseiros macios, para em seguida correr os dedos para o meio de seu corpo e abrir o botão da calça. Ela se arrepiou com o toque em seu ventre, enquanto ele a despia com atenção e carinho, sem parar de beijá-la. Sentindo-se a virgem da tribo que se dá em sacrifício, permitiu que ele conduzisse o momento, entendeu que aquela seria a hora de deixá-lo comandar e a ela bastava, por hora, ser o que ele quisesse. Dar-se-ia de corpo e coração em suas mãos. Mudando de extremo, ele se pôs a puxar a calça dela, completamente dominado pela visão que se descortinava a sua frente à medida que tirava a roupa que a cobria. Por segundos passou de caçador a caça, porque ela conseguia isso sem muito esforço, mas logo reassumiu sua posição ao lado dela. Beijou-a como se fosse a primeira vez, com toda a calma do mundo. Ela lhe devolveu beijos mais intensos, como se fosse a última vez. Ele passou a fazer desenhos invisíveis com os dedos sobre o colo dela, testando sua resistência. Brincou com seus mamilos rijos, sentiu-a arquear de prazer, mas não queria fazer com que esperasse muito, essa noite seria dela. Segurou seus seios ao mesmo tempo em que a beijou o pescoço. Ela se encolhia, sentia o corpo diminuir em resposta aqueles toques que pegavam em pontos fracos, porque diante daquele homem todo seu corpo se tornara fraco. Ele desceu a mão por sua barriga, ventre e pousou em seu sexo, quente, úmido e macio. Ela sentia a mente dar voltas ao mundo, coração disparado de aflição e desejo, sentimento tomando forma e brigando para entrar de vez, enquanto o corpo gritava para tê-lo em si. Ele ainda esperou mais um pouco, tocou-a mais, sabia que ela gostava, fazia com que ronronasse baixinho como uma gata diante do pires de leite, abriu-a, disse a ela como gostava de vê-la assim, pressionou os dedos mais outras vezes, o que o permitiu entender que ela esperava por ele com urgência de vida ou morte. Ele puxou-a para junto de si, costas coladas ao seu peito, o vão da espinha dorsal brilhando com o suor que escorria de sua pele. Ela estava prestes a perder a razão, mas empinou os quadris, se instalou confortavelmente na frente dele e deixou que ele a segurasse firme pela cintura. Lentamente ele a penetrou, movimentos cadenciados, ritmados com a paixão de ambos. Apertou-a como se ela pudesse escapar dali, ouviu-a gemer mais forte e alto, querendo mais. Enquanto se amavam, seus corpos se uniam em oração, suas mentes fugiam juntas para algum paraíso perdido. Enquanto se amavam, o mundo lá fora deixou de existir, só havia os dois e suas palavras, seus beijos e seus cheiros que se misturavam. Enquanto se amavam, se perdiam. Das palavras fizeram vida e a vida explodiu em ambos quando não mais conseguiam ser um só. Luzes, chamas, ventania. Amor e ódio, guerra e paz. Paz. Vazio. Silêncio. Ainda com a carne trêmula, ela tocou as mãos dele. Nada precisava ser dito, se olharam profundamente e tiveram certeza de que estavam diante de alguém especial. Quando se despediram, o abraço carregava tudo o que sentiam, que não precisava de rótulo ou qualquer definição, era apenas sentimento bom, algo que faria com que momentos ruins que inevitavelmente teriam, terminasse com conversa, compreensão, carinho e amizade fortalecida.

L.

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