sábado, 22 de maio de 2010

Série Triunfo - Dois é bom

Crescia a forte sensação de que eu poderia mudar o mundo se quisesse e não havia o que perder ou ganhar, apenas o que experimentar. A vida só começaria mesmo aos 40, então eu ainda teria mais 10 anos para me divertir.

"Será que isso não é medo de investir e por isso você acaba voltando pra quem já conhece?” Hum... Pensei, pensei e pensei. Talvez. Aquela frase abriu a brecha para que eu entrasse em mim mesma até achar a resposta que me fugiu durante quase quatro anos. Senti-me a própria Alice caindo no buraco da árvore e quando parei estava também num mundo maravilhoso, o lugar onde as coisas são sempre iguais, mas só acontecem em épocas diferentes. O reino da Rainha Preta, tão cabeçuda quanto a Rainha Vermelha do filme de Tim Burton, mas não fisicamente, cabeçuda de teimosia pura. E quando cheguei lá, busquei todas as informações antigas e felizes, pessoas, lugares, situações e datas. Em que momento me perdi de mim, já não sabia. Mas tinha certeza de que ainda poderia reencontrar. E com a ajuda de um gato sorridente, não poderia ser muito difícil, pensei.

Eram tardes maravilhosas em Piedade. Saía do trabalho, pegava o trem, descia na Estação e quando ele não estava lá me esperando, eu ia mesmo sozinha, andando e contente até a ladeira que me levaria a um lugar de quietude e onde eu conseguia resgatar um fio de sanidade. Pode uma pessoa ser tão feliz e não ver isso quando acontece? Pode, se ela tiver um conceito torto de felicidade. Há exatamente um ano escrevi um depoimento sobre tudo que sentia a respeito dessa época. E nada mudou de lá pra cá, pelo menos não em mim, que continuo achando lindo o sorriso do gato preto de Alice. E por não mudar e por saber que era medo e por ter certeza de que havia possibilidade de mudar, refiz o caminho, mudei a política e fiz uma tentativa com o objetivo não de ganhar, mas de ser feliz.

Subi a ladeira novamente, dessa vez bem tarde, sozinha, esperando alguma coisa que não sabia exatamente o que. Não sabia também como chegar até lá, não o caminho, mas com que cara. Diria o quê? Agiria de que modo? Quase no fim da ladeira e quando já não havia mais respostas possíveis a todas as dúvidas, alguém dobrou a esquina e divisei no semi-breu da rua a figura que era pivô de tais questionamentos. O abraço foi longo, intenso, forte. Sentia seu peito subir e descer colado ao meu, enquanto eu ficava na ponta dos pés para acompanhar o afago. Caminhamos até onde eu pudesse encontrar as palavras certas e, na verdade, o que aconteceu foi que ouvi muito mais e me culpei ainda mais por ter sido covarde no passado. Bom, estava reparando o erro agora e sendo tão corajosa quanto tinha descoberto que poderia ser nos últimos dias. Intimamente sabia que a delícia daquele momento estava na novidade e não na continuação que pudesse vir a ter. E depois da viagem a terras desconhecidas, fui levada de volta a casa, em segurança como ninguém mais poderia fazer, sem ter idéia do amanhã, porém, tendo certeza de que não havia mais medo.

No afã de caminhar depressa, atropelei sentimentos e pessoas, deixei cair pela estrada pedras preciosas. Quis voltar para buscar. Voltar não significa andar para trás, pelo contrário, é mudar a própria frente. Estava há dois dias com aquele telefone guardado, pensando em como abordar, o que dizer, tudo igual e novamente. Resquícios do medo. Naquele dia, exatamente naquela manhã, decidi que era hora de trazer a tona quem havia se afogado no oceano de nossos problemas. Tudo estava nas minhas mãos, cabia a mim pegar o doce ou continuar a vida amarga. Queria a bala outra vez. Liguei e as palavras saíram sem que eu tivesse bem certeza do que estava falando, bem, isso acontece quando o coração diz o que a mente se recusa a admitir. Ah, fiquei feliz novamente. Lembrei de Quintana... Nunca morre mesmo.

Continua.

L.

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