segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Não ter pressa é o verdadeiro segredo

Ainda pensando em Quintana...

Será que ele sabia, em suas mais profundas divagações, o quão importante seria para a humanidade, ainda que após sua morte? Talvez não para a humanidade, afinal, Mario não era dado a esses egocentrismos. Mas arrisco afirmar que, sim, ele tenha pensado se quando partisse alguém ainda faria caso de suas palavras.

E aqui estou, para dar-lhe a póstuma, porém sincera resposta: não fossem suas palavras, provavelmente não haveria tanta poesia, lirismo e amor nesta vida. Até mesmo aquelas que não confirmadamente são suas, passaram a ser por osmose.

“O segredo não é correr atrás das borboletas, é cuidar do jardim para que elas venham até você.”

Nenhum livro registrou isso, mas esse e-mail-spamico que circula Brasil a fora, conta com a assinatura do poeta gaúcho mais querido e respeitado de todos os tempos. Talvez não tenha dado tempo de assinar, talvez algum escritor anônimo tenha decidido usar a assinatura de Mario a fim de preservar a sua e dar algum crédito as belas palavras, afinal, nossas caixas postais se enchem de belas mensagens todos os dias, mas quando não são barradas pelo provedor, são positivamente descartadas por nós, usuários de e-mails descrentes do poder de palavras.

Acho que Quintana não chegou a pegar o advento da internet para fins de reprodução da idiotice humana (valha-me, Deus se pegou!), então não creio sinceramente que seja seu este texto, apesar de gostar muito dele. Apesar de positivas, com um quê de “saia desse baixo astral, colega”, em nada me lembram “eles passarão, e eu passarinho”, estas sim, escritas e registradas por ele num dos livros mais importantes da minha pequena biblioteca.

Devo admitir que essas palavras são uma vela na semi-escuridão de alguns momentos em que nada faz sentido. Quando a ansiedade ameaça tomar conta, quando o agora determina o ritmo da respiração e a cadência do coração. Sem querer, acabei fazendo delas uma oração. Durante um tempo, ou melhor, durante muito tempo o principal era a borboleta. A borboleta que daria o tom do jardim. E na verdade, não haveria borboleta no deserto e eu nunca havia parado pra pensar nisso. Bom, já havia, sim. Mas entre pensar e agir existe uma volta ao mundo em 365 dias.

Foi o exato tempo que levou. Um ano inteiro até que todas as engrenagens se ajustassem, até que pensamento, pernas e sentimento caminhassem para o mesmo lado. Sempre quis encontrar esse tal segredo das borboletas, mas queria de estalo, como mágica, acordar e ter dúzias delas ao meu redor, para que eu pudesse apenas apontar a mais azul e mais bonita dona do meu jardim.

Um dia acordei doente, sem emprego, sem dinheiro, abandonada e sozinha em casa. Chorei rios de sangue, tomei calmante, jejuei sem querer. Senti o duro e gelado chão do fundo do poço contra minhas costas nuas.

No outro dia, acordei com um raio de sol na testa, sorri para o espelho que me mostrava um corpo com categóricos seis quilos a menos, segui para o banheiro, tomei um demorado banho e segui para o trabalho, a fim de executar o que me realiza como profissional, com uma parada para a aula de Pilates, depois a aula de Relações Trabalhistas e Sindicais, aula de Yoga e, não menos, ou talvez a mais importante de todas as paradas, a sessão de terapia. Desta vez, eu senti o fofo gramado contra meus pés. Eu estava de pé sobre o jardim que eu mesma havia cultivado. Injustiça dizer “eu”, afinal não fiz nada sozinha. Juliana, Fabio e Fabiano foram os co-autores do projeto. Eu dei o terreno e eles, maravilhosos profissionais, as sementes que embelezaram outra vez esta vida.

Peguei no saco dos bons conselhos, aquele que me segue nos aflitivos momentos que dedico ao ostracismo: “saia da casca”. Anjos, além de tudo, são ótimos operários. Revolvemos a terra, regamos e plantamos, cantando e louvando ao nosso maravilhoso Deus, os elos foram se unindo, as flores crescendo, e o Sol da liberdade em raios fulgidos, brilhou no céu pátria no exato instante em que decretei independência ou morte.

Estava outra vez sozinha, mas por vontade, para buscar outro ângulo para analisar as dificuldades e buscar possibilidades. Não chorei, não tive medo e não morri. Talvez tenha morrido um pouco, não sei. Talvez não tenha sentido a morte como das outras vezes, por ter renascido tão rápido, mais bonita e feliz.

A profecia dizia que, logo que tudo estivesse no seu lugar, mariposas viriam correndo disfarçadas de borboletas. Certamente que se cumpriu, muito mais rápido até do que eu imaginava. Mariposas, borboletas, gralhas, corvos, grilos e até urubus querendo aproveitar do meu momento. Mas, felizmente, cheguei ao ponto de não julgar. Ficou do meu lado quem teve estômago e quem teve paciência a amor para aproveitar o fim de tarde no meu terreno florido. Quem quis tomar um atalho, provavelmente se perdeu pelo caminho, e agora não consegue mais voltar. Não guardo mágoas e procuro afastar todos os pensamentos ruins e lembranças negativas. Cada um é responsável pelas escolhas que faz.

Há um ano escolhi cuidar do jardim. Suei bastante, nunca pensei em desistir, mas várias vezes dei longas pausas para reavaliar cada caso e tirar as pedras do caminho. Há seis meses dediquei meu coração a isso. E hoje, projeto concluído, noto que as borboletas batem cabeça para alcançar a violetinha mais bonita do jardim.

O segredo não era correr atrás das borboletas, mas cuidar do jardim para que elas viessem até mim. Agora, aconselho que o segredo não é bancar a borboleta, mas sim cuidar do físico, respiração e frequência cardíaca, pois como uma boa descendente de índios, fiz o jardim suspenso.

Quintana ficaria orgulhoso.

ઇઉ ˙·٠.ઇઉ

L.

N.A.: trechos neste texto do Hino Nacional Brasileiro, de Joaquim Osório Duque Estrada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por vir e por ler!
Fique a vontade para comentar, sua opinião é muito bem-vinda.