sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nós nos encontraremos

Incansável, estou assistindo ao vídeo da música This Woman’s Work. Naquela época Maxwell tinha 24 anos. Eu tinha 18. Com 18 anos eu quase fui mãe e cultivava o sonho dourado de ser esposa, dona de casa, cozinhar, lavar, passar e fazer amor todos os dias com A. Igualzinha a toda pré-mulher do século 21. Trabalho, faculdade, dinheiro e independência são doces ilusões as quais nos apegamos, ou melhor, com as quais os outros querem que nos apeguemos a fim de não repetir os mesmos erros de nossas antepassadas. Amor não enche barriga, diziam as mais (sábias) velhas. Mas alguém se importa com isso quando o grande amor da vida mora no edifício ao lado, fala rouco e chama de “minha mulé”, assim mesmo, com o carregamento no final da palavra, pra dar a exata noção de propriedade? Eu não me importava. O que me importava era ter A., meu, meu e meu, nossa casa, meu tanque e o telefone dele. É que não seria um casamento perfeito se ele não tivesse um telefone de onde pudesse conversar com todas as meninas, mulheres e idosas com as quais ele se relacionava. A cabeça nessa época não era lá essas coisas. Não posso me subestimar, sempre me destaquei das demais idiotas da minha idade. Mas o corpo... Ah, o corpo. Fora do lugar não havia nada. Uma mulher mais velha chegara a dizer, certa vez, que com o meu corpo com a sabedoria dela, jamais teria se casado e tido filho. Pensei: mas eu quero tê-los, quero ficar a baranga que for, desde que seja ao lado do A. Aos 18 anos eu não passava de uma cabecinha torta com um corpinho perfeito. E talvez por isso não tenha conseguido me casar com A.: eu era exatamente o que ele queria, mas nunca fui o que eu precisava. Maxwell, após o lançamento do terceiro álbum, em 2001, sumiu. No auge do sucesso, e apesar do disco não ter alcançado o êxito dos anteriores, por algum motivo não revelado, o já consagrado cantor norte-americano isolou-se do mundo. Hoje, aos 36 anos e sete após seu afastamento, ele retorna aos palcos do mundo. Muitos fios de cabelo a menos, talento quase intocado e uma dureza no olhar digno dos que já passaram por longos conflitos internos e externos, mas, melhor da história, conseguiram se reerguer. Do outro lado está sua Pretty Wings. Hoje, aos 29 anos, carrego no ovário direito um cisto que será responsável por um novo capítulo desta caminhada. Ele definirá muitas coisas, especialmente depois que for retirado. Talvez reste apenas a vontade de dar um filho a alguém, lavar, passar e cozinhar. Talvez seja o início de uma árdua luta pra gerar outra vida. Talvez seja o exercício de amor e desprendimento necessário para formar uma vida não saída de mim. São talvezes que me fazem pensar nos 25 anos de Maxwell e sua saída de cena. Nos mesmos 24 anos de A., e o terrível fim do namoro. São talvezes que me dizem claramente que tudo teve seu momento exato de acontecer. E as prováveis respostas são ainda mais claras ao evidenciar que eu não estava pronta pra tantas responsabilidades quando as quis assumir. E muito mais: queria que alguém assumisse comigo. E como uma boa mulher independente do século 21, continuo querendo lavar, cozinhar e assistir ao DVD do Rei Leão numa tarde chuvosa de domingo, chorando como em todas as 27 vezes em que vi sozinha, porém tendo ao lado um ombro amigo, respeitador de minhas lágrimas e incentivador do meu sorriso. Alguém com o mesmo amor pela vida que o meu e que, cansado de buscar satisfação de necessidades efêmeras, carnais e materiais, tenha decidido encontrar positividade até mesmo nesses grandes obstáculos da caminhada. Definitivamente, hoje, eu me casaria com Maxwell. L.

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