quinta-feira, 12 de março de 2009

Da laranja quero um gomo

A espera é algo que serve de dosador da ansiedade humana. Quanto maior o período em que se aguarda, mais se aprende a não contar com o que está por vir. E um dia, o tão aguardado fato de outrora, torna-se uma vaga sugestão de acontecimento. Em caso de estar nas mãos de outra pessoa, ter de esperar que outro realize um evento que mudará a sua vida, aí então é que aguardar toma forma de nuvem. Em dia de sol forte, ela desaparece e não é possível lembrar que ela existe. Quando a chuva cai impacientemente, a nuvem a encontra de galochas, capa e guarda-chuva. Imperturbável e acostumada a não ter o que, um dia, teria sido a coisa mais importante da vida.
Sábado, 07 de março de 2009, à noite.
L.
Capítulo I Estou habituada a grandes alturas. Tenho medo, é verdade, mas estou certa de que não há nada no alto para se temer. Exceto a queda. Mas a queda é inevitável, quase um complemento da subida. E quanto mais vertiginosa for a subida, mais rápida será a queda. A isso também já me familiarizei. De tanto tombar, ralar o nariz, quebrar costelas e limpar o chão com as mangas da camisa, adquiri a consciência de que, uma queda bem estruturada pode até ser um bom negócio. As primeiras são sempre as piores, sem jeito, de mau jeito e muita coisa sem conserto. Com o passar do tempo, é possível crer que há verdade nas mentiras que contamos a nós mesmos a fim de justificar o injustificável porque de tantos insucessos. Oras, uma queda não chega a ser necessariamente um insucesso. Sendo bem positivista, não estar no topo sempre pode ser encarado como uma forma de não precisar lidar com perguntas, olhares e demais situações invasivas. Então a queda pode até mesmo ser recebida com um “ufa!”. Como ia dizendo, pousar a testa em algum lugar de concreto cru pode ser, no final, uma boa saída ao iminente desfecho auto-destrutivo. Particularmente, acho que esta é a melhor opção ao se deparar com, de um lado a corda do enforcamento e do outro, a foice do suicídio. Deixar-se ser abraçada pelo vazio, enquanto a queda livre te aproxima do fim de tudo, pode ser uma opção. Olhei-me no espelho. Cuidadosamente, colori os olhos. O alto de dourado, o rodapé de preto e o toldo de negrito, itálico e sublinhado. Sobre o corpo joguei um justo vestido, animado com pequeninas lantejoulas prateadas, cujo formato fazia com que os quadris exigissem ser tocados com seriedade. Nos cabelos cacheados, apenas um leve sacudir de cabeça. Pronto. Eu estava pronta. Subi tanto que não percebi que o momento da queda poderia ser mais pesado do que o suportável. Paguei – e caro – pra ver. Vi e não gostei. Paciência. De salto e tudo, fechei os olhos, prendi a respiração e me joguei. Caí com um estrondo monumental, tal e qual a gargalhada que se seguiu. Era eu? Na verdade era. Machucada, quebrada e ensangüentada, eu ainda reuni as últimas forças pra sorrir. Ri como uma menina que apanha goiaba do pé, como um viajante que descobre o destino certo logo após se perder, como uma criança em festa pelo doce recebido antes do jantar. Percebi que o riso amenizava a dor. Ri e ri mais, enquanto, milagrosamente, uma a uma, as feridas da queda iam sarando. Estou viva, pensei ao me levantar. Viva e de pé novamente. E, concluí, não fosse a queda tão feia, provavelmente não teria saído de mim uma gargalhada tão profunda e demorada. Foi preciso plantar o formato do meu rosto no chão para sentir-me viva de novo. O alto seria a morte. A queda foi libertação. Capítulo II Atenção tripulação: preparar para procedimentos de decolagem. *-* Gosto do olhar que nunca cruza o meu. Gosto do sorriso sério, quase nulo. Gosto de ouvir meu nome em sussurro. Gosto das pernas, do andar, do cabelo bagunçado. Gosto do cheiro de sabonete barato. Gosto da prisão, minuto a minuto. Recatadamente ordinário. Disso eu gosto. Mas o que eu gosto mesmo é de ver a possibilidade de, como agora, ter todas as minhas vontades satisfeitas sem fazer esforço. Pode vir, meu bem. Sambo na tua avenida e, no fim, te dou nota 10. L.

4 comentários:

Anônimo disse...

E a lagarta sai do casulo quentinho, lugar que ela pensava ser o melhor do mundo. Então, voa! E percebe que o mundo inteiro espera seu sorriso e o acolhe de bom grado as batidas das asas dessa borboleta azul.

Beijo, preta!

Diego Galeano disse...

Olá Lucille,

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Participe e boa sorte!

Diego Galeano disse...

Desculpe o erro,
quem te convidou foi o Johnny do blog http://motoqeirofantasma.blogspot.com/

e o link do post dele sobre a promoção é:

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thigo barbosa tg disse...

eaew Luh...depois vai lah no meu blog ver a promoção que eu te indiquei

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BjAõ!!

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