sábado, 27 de dezembro de 2008

Natal 2008

Paz é aquilo que você sente quando tudo está no exato lugar onde deveria.

Depois do fim de semana delicioso, a semana não poderia começar menos gostosa. Acordar, levantar, tomar banho, descer. Nada disso é feito com pesar ou de má vontade. Pelo contrário, a ansiedade por esse momento que antecede um dia de trabalho tem sido minha companheira diária. Há quantos anos não me sentia assim? Comprando vestidos, terninhos, sandálias. E que ninguém nos ouça, ou melhor, nos leia, cá pra nós, os vestidos têm feito muito sucesso, especialmente no Financeiro. Hehehe Em algum lugar dentro do coração, algo me diz que o amor pela ferrovia está sendo substituído. Não sei se realmente é substituição ou apenas soma. Sei que o mar não foi capaz de me satisfazer como profissional e que, agora e finalmente, sinto que encontrei um lugar do qual me sinto parte, me sinto importante, quase fundamental, sem ser foco, sem ser obrigatória. Sou parte de uma das maiores empresas do país, sou parte daquilo que sempre quis, sou parte do simples, do eixo, do andaime, do parafuso, da marmita de ferro. Sou parte do todo em que sempre quis estar. Mesmo tendo medo. E agora, ao abrir o quadro do Organograma, explodi em alegria contida, mas de efeito retardado. Somente depois entendi o motivo de ter ficado em tamanha inquietação interna. Meu nome, era o meu nome que estava lá. Logo abaixo da supervisão e acima do restante da equipe. E preso no quadro de avisos do setor. É oficial. Estou lá, faço parte e não sou mais uma. Guardei aquilo comigo, enquanto pensava em tudo o que havia acontecido até chegar aqui. Poderia ter sido mais fácil, com certeza não teria aproveitado toda a emoção que vivi. Uma criminosa, vários crimes, uma diretora burra e duas auxiliares mais ainda. Pra equilibrar, uma pequena família formada por oito valiosíssimos companheiros. Tudo isso foi necessário, como e quando aconteceu, pra que eu pudesse saborear com mais vontade cada minuto do que acontece agora.

Como se não bastasse, acabei realizando um dos desejos antigos. O último dia de expediente foi marcado pela distribuição de quase duas centenas de cestas de Natal. Eu cotei, eu pedi, eu cobrei. E eu carreguei! Participei de todo o processo, imprimi ao processo minha competente marca. De uma fatalidade, fiz meu sucesso. Não teve festa de fim de ano por conta do falecimento de um colega do Nordeste. Então surgi com a idéia e todas as fases seguintes. Quando tudo acabou, estava definitivamente exausta. Toda a produção do dia foi embora com a beleza natural. Só havia uma alma lutando pra manter o corpo de pé. E na volta pra casa, positivamente cansada e até um pouco triste, decidi não subir escadas, desci um pouco antes e subi as ladeiras, com a minha enorme caixa no colo, como um filho recém parido. A noite vinha chegando de mansinho, estava quente. Suspirei fundo. Há quanto tempo não subia por ali, pensei. Desejo realizado, mas o que antes me fazia bem, assim o continuava. Éramos eu e Deus somente, sob a proteção das árvores que me ladeavam. Fiz minha oração, agradeci por aquele dia ter finalmente chegado e por me sentir gratificada mesmo sabendo que ninguém havia reconhecido o meu esforço. Pedi que abençoasse aquela comida. Em pouco tempo, a tristeza havia passado, deixando apenas a alegria uniforme em mim.

O dia seguinte trouxe mais vida, mais cor. Um Sol forte aqueceu tudo por aqui e por onde passei. Descer aquela ladeira da MA, olhar aquelas casas... tantas lembranças. Engraçado como consegui filtrar, agora só guardo os bons e divertidos momentos. O Sol se pôs e o cheirinho bom de flor voltou a reinar. Logo todos estávamos reunidos, prontos pra comemorar mais um Natal em família, um Natal diferente e especial. Não sabemos quando será o último, ninguém sabe. Sabemos apenas que a vida é um pequenino e frágil fio, que pode se partir a qualquer momento, sem nos dar tempo de aproveitar. Portanto, aproveitamos agora, mais ainda do que antes como se nossos dias juntos devessem ser ainda mais juntos e mais amorosos. No fundo, mesmo sem palavra, todos sabíamos disso. Já que não sabemos quando será, então que aproveitemos o agora e o façamos ser eterno. Nunca nossa comemoração acabou tão tarde pra uns, as 3:30h. Pra outros, só acabou no dia seguinte, às 7h da manhã. Ninguém mais, só nós.

Particularmente, voltei a ter um verdadeiro Natal em família, como não acontecia há três anos. Sem fingimento, sem falsidade, sem mentiras. Só carinho, só brigas de uma família nordestina que se ama mesmo quando discute e depois, beija-se como se nada tivesse acontecido.

Meninos e meninas, todos os que tive o cuidado na troca da fralda, lá estavam, rindo e conversando e me fazendo perguntas. Como foi a minha primeira vez? Com quantos anos? Aff... Constrangimento? Nem pensar! Se a mim confiam esse tipo de dúvida, só me cabe ajudar no que for possível. “Tecnicamente...” rsrs Se eu não puder contribuir pelo menos com o que vivi, de que terá valido passar por isso tudo?

Aí fico me questionando. Será mesmo que foi a toa? No fundo acho que não. Eu tinha que passar pelas coisas que me trouxeram sofrimento, tinha que viver na carne tudo do que sempre tive pavor. Precisava aprender de alguma forma. Agora tive minha redenção. Eu estava no lugar e no momento certo.

*

― E você, como está?

― Linda como sempre, doida pro ano mudar logo. Mudei de emprego. E doida pra arrumar um preto cheiroso de 1,80m.

― Olha, ainda estou com 1,73m, mas cheiroso como nunca!!! Só de Kenzo e Issey Myyaki. Quer???

*

― Você ainda é minha amiga?

― Você acha que amor acaba assim?

― Não acaba.

― Então pronto Tá respondida sua pergunta.

*

― Deixa eu ir. Beijo no coração.

― Te amo.

― Também.

Frases diferentes, pessoas diferentes. Todas com uma gostosa risada no fim. Minha.

No player, uma música que conta um pouco dessa nova história. Todos os dias de manhã, há mais ou menos um mês ela toca no rádio no horário em que levanto pra trabalhar. Se eu tinha dúvida de que isso era um recado, já não tenho mais. Entendido, compreendido e assimilado. “É hora de voar!

Ainda pensando... sorrindo pra tudo que parece triste e guardando o que não é. Amando. Feliz.

Sempre. É isso que importa.

L.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu leria um livro de 500 paginas seu sem me cansar, pois enquanto mais vou lendo seu texto, mais vontade tenho de consumi-lo. Parabéns! adorei a foto na escadaria, bjos!

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