Terá chegado o momento da realização e eu poderei não ter dedos suficientes para contar os obstáculos e as glórias do caminho.
Acordarei cedo, não tanto pela obrigação, mas muito mais pela ansiedade. O corpo inteiro terá ido dormir sorrindo na noite anterior, e, portanto, acordará dolorido de felicidade. Juntamente com os primeiros raios da manhã, me chegará um beijinho doce, sem rosto nem cheiro, apenas um leve roçar de cabeça e o inconfundível som “Tia, dexojogar no teu computador?”. E não haverá em mim o menor sinal de reprovação pela perturbação do sagrado sono e diante da possibilidade de ter o meu espaço invadido tão cedo.
Lá fora os pássaros cantarão uma belíssima sinfonia, uma ode a riqueza e grandiosidade do dia. Todos estarão com suas melhores vestes coloridas, e passarão, um a um, para me dar bom dia, diante de minha janela aberta.
Um grupo de borboletas azuis me cercará, todas elas batendo-se numa algazarra muda, sobrevoando-me e derramando sobre meus cabelos faíscas azuis de luz e sabedoria. A maior de todas, a mãe-borboleta assim será, magnânima e senhora das outras estará tão perto que poderei descobrir, enfim, que era ela que me acompanhava nos dias ensolarados e me tirava um curto e meigo sorriso.
Minha grande amiga será a pura expressão de satisfação e dever cumprido. E estará cumprido, com louvor. E o poder milagrosamente divino que só conhecem as que parem, a fará ainda mais bela e forte, pois só as que parem são verdadeiramente fortes.
Durante o dia, a água me descerá com gosto de suco de manga gelado e meu corpo suará brilhosas gotas de mel. Meus cachos emoldurarão meu festivo rosto, inchado pelo pouco sono, mas aberto num sorriso em flor. A paz será palpável. O telefone tocará com infindáveis parabéns e confirmações “mais tarde estarei lá”. Não, o telefone não tocará, ele cantará uma forte melodia com a voz de minha cantora preferida, na qual ela dirá meu nome e anunciará “estamos orgulhosos de você”.
Passarei bons momentos em silêncio, em companhia apenas de meu escritor preferido, absorvendo seus imortais poemas. Quando a hora estiver próxima, todos estarão calmos ao meu redor. Eu estarei calma, ainda que ansiosa. Tudo estará pronto e aguardando o meu momento. Meu corpo será banhado cuidadosamente, pingos de leite e estrelas coloridas serão as vestes. Os cachos estarão definidamente esvoaçantes. A borboleta tatuada em mim baterá asas enquanto eu estiver colorindo o rosto, reforçando os traços de uma face jovem e alegremente cansada.
Quando o relógio avisar que é o momento de ir, eu estarei pronta e tão profundamente bela como jamais poderia querer estar em tempo algum de minha existência. Quando puser os pés na soleira da porta de casa, ele estará lá. Tão fabulosamente belo como eu jamais poderia esperar de um rei encantado, aquele que me amará e me permitirá amá-lo. Eu o olharei e somente assim ele saberá que estarei sentindo a felicidade mais intensa que um ser humano pode suportar. E ele me tomará em seus braços, cuidadoso para que sua boneca de porcelana não se quebre e terá o toque firme para que sua rainha sinta-se segura. Nossos corpos ficarão tão próximos que nossos corações serão um, a batida única e ritmada me fará entender que o momento não será apenas meu, mas também de alguém que será orgulhoso de minhas conquistas e desejará uma vida em comum permeada de amor e plena de realizações.
E então ele me guiará, e eu serei seguida bem de perto por todos que me amaram e amarão eternamente. E após algumas lágrimas, eu serei finalmente, a mulher mais feliz desse mundo.
*-*
O que é? Não posso contar ainda. Só posso dizer que estou MUITO feliz com uma deliciosa notícia, e que em 2009 serei uma pessoa realizada.
*-*
Para um agradável fim de semana, deixo-os com meu querido Mário Quintana:
Da eterna procura
“Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.”
(Livro: Espelho Mágico)
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