quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Azul escuro e rosa claro

O mar visto de longe é azul, morno na parte rasa e ruidosamente belo. Quando abre suas portas e deixa-se penetrar, torna-se estúpido e escuro, amargamente gelado e profundamente solitário. Não sei precisar o tamanho do mar que há em mim agora. Ou talvez tenha sido eu a mergulhar num abismo de águas perigosas e não navegáveis. Gostaria que algum barco salvador aparecesse para me resgatar, mas não consigo emergir. Não há nada que me puxe pro fundo, eu apenas não consigo. As pernas estão cansadas do confinamento aquático, os braços não suportam mais tentar alcançar o nada. Não há nada mais pra ser alcançado, não há mais pelo que lutar. Não há sereia que me encante para ficar ou ir além, simplesmente a força me falta. Ouço vindo de cima algumas esparsas vozes. Quero subir até elas, quero que me tenham novamente, em plenitude da razão. E eu não consigo. Não há correnteza. Mas eu não consigo. Neste exato momento, a água que me inundava, agora escorre de mim. Rios abaixo, dores acima, cascateiam sobre mim com velocidade e violência de um maremoto. Pequenos e líquidos filetes projetam um estranho desenho, pintam a face com um brilho bonito, bonito e cruel. Os olhos fecham-se para reabrir como luminosos espelhos d’água. O dique rompeu e por 24 horas inteiras, derramei tudo que havia dias, estava contendo. Não parou e talvez nada possa parar. Pelo corpo passou uma manada de rinocerontes selvagens. Gralhas sobrevoam a cabeça aos gritos. O sono cessou, não quis mais chegar e eu não fiz questão que viesse. Mas arranjei um jeito de arrastá-lo a força. Obriguei-o a vir, amarrei-o com uma corda rosa e o arrastei até que pudesse ter certeza de que não iria embora. E não foi. A corda é magnífica, tem ajudado bastante. As 6h não havia mais nada, só o vazio do sono forçado. Chegando a 30h. O primeiro alimento para sobrevida veio após 20h de exaustão. A amizade do inimigo me transfigura brutalmente, sem que um músculo do próprio corpo saia do lugar. Um sentimento que tomou o jardim como erva daninha e não morre com veneno, tampouco com o peso da enxada. O jardim das borboletas, onde reinava uma azulzinha, que agora jaz inerte no fundo do meu mar gelado. Será que o barco da salvação está a caminho? Tenho dúvidas. Estou começando a cansar de bater braços e pernas. Acabo por me deixar levar pelo mar, eu e minha cordinha rosa que me traz o sono. E se o mar tiver fim, então estarei em algum lugar. E bem.

L.

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