quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pro infinito

A distância é capaz de separar dois corpos, mas jamais dois corações. Levantei os olhos e vi outros olhos, bem distantes, observando meus sonolentos movimentos através do embaçado vidro. Custei a crer. Duvidei até que pudesse, enfim, ter certeza. Segundos se passaram – ou foram horas? – até que eu me pusesse de pé. Corri, chamei, olhei para todos os lados e não havia ninguém lá. Fora um sonho, pensei. Um doce e divertido sonho. Parei na escada, olhei as pernas que iam-se embora, tive ímpetos de gritar, correr, me jogar e cair de pé ao seu lado. Queria parar o tempo. Não podia... Continuei olhando pra baixo, muda, debruçada no corrimão frio, vendo e ouvindo passos que sumiam de minha vida outra vez. Muda e resignada, ergui o corpo. Como num encanto, ou num sonho, abri os olhos e ele estava do meu lado, com a expressão divertida de quem sabe que provocou sensações em outra pessoa. Palavras saíram desnecessárias, em torrentes, muitos porquês e comos, num sem fim de perguntas cuja resposta foi um escuro, macio e profundo abraço. Perdida em caminhos conhecidos, envolta em panos que me levavam a mundos fantásticos, apertada num abraço de saudade cortada, dolorida. O mundo estava girando mais devagar. Ou será que havia parado? Não fazia a menor diferença, tudo estava bem agora. Soltei-me bem devagar, em câmera lenta, respiração descompassada, luas girando sobre mim. Os olhos disseram, contaram, explicaram tudo que se passou nesse enorme vazio que se abateu entre nós. Quando os olhos não podiam mais se expressar, nossos corpos encontraram outra forma de se comunicar. Sem que eu tivesse tempo de oferecer resistência, um par de mãos enveredou por minha cintura, por cima das costelas e descansou serenamente no baixo de minhas costas. O corpo imantado seguiu seu rumo, indo aninhar-se no calor do outro corpo, onde a proximidade determinou que ali deveria ser um bom lugar para se passar o resto da vida. Logo, o silêncio caiu com um véu negro sobre nós. Havia apenas um abraço e lábios que se uniram num longo e sôfrego beijo, urgente e doído, lábios conhecidos e quentes, molhados de lágrimas de uma saudade partida em pedaços espalhados pelo piso branco. Eternidades se passaram até que nos soltássemos, felizes e roxos de um querer mais sincero. “Vamos embora”, ele suplicou. “Pra onde?” a pergunta foi quase uma decisão contrária ao que o coração mandava fazer. “Pro infinito, pra gente nunca mais se perder, nunca mais acabar e eu nunca mais deixar de ver seu sorriso”. Soltei-me do abraço e corri. Corri o mais rápido que pude. Estava longe agora... Apanhei o casaco, despedi-me da vida de dor e refiz o caminho de volta para ele. Protegida do mundo, estava de volta ao meu lugar. E nossos sorrisos se misturaram aos estouros e comemorações que as pessoas felizes faziam a nossa volta, em brinde por nossa vida nova. Nossas lágrimas de felicidade viraram gotas de chuva que lavava as ruas e limpava o novo caminho que faríamos. Nossos sonhos se tornaram reais, quando pusemos as armas ao chão e amamo-nos como se tudo fosse acabar ao abrir de olhos na manhã seguinte. E assim seguimos juntos, com a certeza apenas de um querer forte, solto em pensamentos que começam e terminam com beijos que a distância não foi capaz de apagar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, Lu... palhaçada, hein?!
Que texto mais gostoso.

Nega, deu tudo errado.
Vamos voltar aos e-mails, ok?

Hoje eu quero que vc diga que me ama.

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